Descrição de chapéu Coronavírus

Queiroga nega atraso na vacinação contra Covid em crianças

2% dos pequenos de 3 a 4 receberam 2 doses de Coronavac até setembro, segundo observatório

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São Paulo

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, negou nesta sexta (21) ter atraso na vacinação contra Covid-19 para crianças abaixo de cinco anos no Brasil. "Não tem atraso nenhum, absolutamente nem um segundo", disse ele durante evento na agência da Caixa na avenida Paulista, em São Paulo.

"Por exemplo, a Inglaterra não aplica essas vacinas. Está atrasado lá?", questionou. Em julho, a Folha mostrou que 13 países já vacinavam os mais novos e que os Estados Unidos, que já estavam imunizando essa faixa etária, registraram 30,7% do total de óbitos brasileiros.

De acordo com o Observa Infância, projeto ligado à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), até o dia 13 do mês passado, apenas 2% das 5,9 milhões de crianças de 3 e 4 anos no Brasil haviam recebido as duas doses de Coronavac, e a vacinação de bebês acima de seis meses, aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 16 de setembro, ainda não foi iniciada.

No Brasil, 1.508 crianças menores de cinco anos morreram por causa da Covid-19 em 2020 e 2021. Com isso, em dois anos, as mortes pela doença representaram mais do que o triplo das causadas, em uma década, por outras 14 doenças que podem ter mortalidade evitada por vacinação e outras ações de saúde.

Vacinação contra Covid-19 em crianças a partir de 3 anos em UBS na Lapa, em São Paulo - Rivaldo Gomes - 20.jul.2022/Folhapress

Apenas neste ano, até 8 de outubro, levantamento do Ministério da Saúde indicou a morte por Covid-19 de 270 crianças de um ano de idade e de 187 entre 1 e 5 anos. No período, houve 12.563 hospitalizações pela doença em crianças de até cinco anos, uma média de 44,8 por dia, segundo os coordenadores do Observa Infância, Patricia Boccolini e Cristiano Boccolini.

"A última informação que temos, com dados do próprio Ministério da Saúde, que são bem conservadores, ainda mostram uma situação de continuidade de hospitalizações e mortes de crianças com menos de cinco anos por causa de Covid-19", diz Patricia. "As crianças são um público vulnerável e estão descobertas porque o governo não agilizou vacinas para elas."

Eles lembram que, recentemente, casos de morte de crianças por meningite mobilizaram a população, mas não veem o mesmo movimento quando se trata do novo coronavírus. "Uma morte que seja de criança nessa faixa etária por causa de Covid, tendo vacina, é absolutamente inaceitável", afirma Cristiano.

Segundo o ministro, a liberação da imunização para os mais novos pela Anvisa é apenas uma autorização e seria preciso obedecer à avaliação da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde).

"Durante a pandemia, vivíamos uma exceção, uma emergência de saúde pública de importância nacional, então com isso se agilizou as avaliações das vacinas e a disponibilização para estados e municípios. Agora, a espinha acabou, então tem que passar pela Conitec para avaliar", afirmou.

"O que o ministério fez? De maneira cautelar, autorizou a aplicação dessas vacinas nas crianças com comorbidades. Não tem atraso nenhum, absolutamente nem um segundo. E a situação epidemiológica hoje é absolutamente diversa de um ano atrás, quando eu assumi o Ministério e morriam 4.000 pessoas por dia", disse Queiroga.

No caso do Estado de São Paulo, a vacinação para essa idade está ocorrendo devido a uma doação do Instituto Butantan. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, o instituto importou IFA suficiente para produzir 3,5 milhões de doses de Coronavac. O governo federal adquiriu 1 milhão delas.

Antes, o estado receberia 215 mil doses,, quantidade insuficiente para vacinar 1,1 milhão de crianças paulistas, porém o Butantan doou o que não foi repassado ao governo federal. Segundo a secretaria, agora a quantidade é suficiente para oferecer as duas doses no estado.

Quanto ao público a partir de seis meses, para o qual a Anvisa liberou a aplicação de três doses de imunizante da Pfizer em 16 de setembro, houve divergência em relação àqueles que podem ser vacinados. A câmara técnica que assessora o Ministério da Saúde recomendou que todas as crianças com mais de seis meses pudessem receber a vacina, mas a pasta determinou que só crianças com comorbidades poderiam ser imunizadas.

No evento, Queiroga afirmou ainda que a "continha" que indica a morte de uma criança a cada dois dias está errada, afirmou que apenas a imprensa acredita nessa "narrativa" e fez menção à Bíblia dizendo que "só a verdade liberta". Questionado então se a Covid-19 não causava a morte de crianças, ele saiu andando sem responder.

No último dia 14, o presidente Jair Bolsonaro (PL) minimizou as mortes de crianças por causa da Covid-19 dizendo que os dados foram inflados. "As pessoas jovens são assintomáticas. Alguém viu alguma criança morrer de Covid? Se viu, é coisa rara", afirmou ele, sem apresentar qualquer evidência que corrobore essa versão.

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