Descrição de chapéu Financial Times

Remédio para Covid da MSD não reduz risco de hospitalização, diz estudo

Ensaio no Reino Unido não mostra "nenhuma diferença" entre tomar molnupiravir ou placebo na redução de internações clínicas durante a onda da ômicron

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Jamie Smyth Donato Paolo Mancini
Nova York e Londres | Financial Times

A pílula antiviral contra Covid-19 dos laboratórios MSD (conhecida como Merck nos Estados Unidos e no Canadá) não conseguiu demonstrar eficácia para reduzir os riscos de hospitalização e morte entre adultos com maior risco da doença, conforme os resultados de um importante ensaio clínico realizado no Reino Unido.

Os resultados preliminares publicados na quinta-feira (6) de um teste com mais de 25 mil pessoas mostram que tomar molnupiravir –um tratamento chave para Covid– pode acelerar o tempo de recuperação do paciente. Mas o medicamento não mostrou benefício em relação ao placebo em termos de redução de hospitalizações, uma das principais medidas usadas pelas autoridades reguladoras para recomendar tratamentos antivirais.

Um punhado de cápsulas laranjas de remédio.
O medicamento da MSD, que tem a marca Lagevrio, aumentou as esperanças e fez as ações da empresa subirem no ano passado - Merck & Co Inc/Handout via Reuters

Chris Butler, professor de atenção primária da Universidade de Oxford e investigador-chefe do estudo, não chegou a chamá-lo de fracasso, mas disse que "não houve diferença" entre receber o medicamento ou um placebo em um contexto de baixas hospitalizações durante a onda da cepa ômicron da Covid-19.

A ômicron demonstrou ser menos grave do que as variantes que circularam anteriormente. Butler enfatizou que os resultados são preliminares e que novas análises permitiriam aos reguladores tomar decisões sobre como usar o medicamento.

Alguns especialistas em saúde disseram que os resultados lançariam mais dúvidas sobre a eficácia do molnupiravir. O tratamento gerou quase US$ 5 bilhões (R$ 26 bilhões) em vendas, mas seus críticos alegam que ainda não demonstrou que oferece um benefício claro para os pacientes ou econômico.

O medicamento da MSD, que tem a marca Lagevrio, aumentou as esperanças e fez as ações da empresa subirem no ano passado, depois que dados iniciais de um teste em estágio final sugeriram que ele reduzia pela metade o risco de morte e hospitalização. Mas uma análise posterior revelou que sua eficácia era menor do que se pensava, apenas 30%.

Andrew Hill, pesquisador visitante sênior da Universidade de Liverpool, disse que o fato de ele não atingir a meta de reduzir hospitalizações ou mortes levantou questões, principalmente porque o estudo no Reino Unido é o maior já realizado de um tratamento para Covid-19.

"Se o molnupiravir não mostrar nenhum benefício, será difícil para as autoridades de saúde justificar os US$ 5,5 bilhões (R$ 28,7 bilhões) gastos com o medicamento em todo o mundo até agora", disse ele.

"Já vimos essa situação antes com outros medicamentos para Covid-19, como o remdesivir. Os primeiros resultados pareciam encorajadores, mas testes maiores não mostraram nenhum benefício."

O teste no Reino Unido foi citado como uma peça-chave de evidência para a aprovação do molnupiravir na União Europeia. Mas a agência reguladora do bloco, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), atrasou sua revisão devido a preocupações sobre a eficácia, informou o Financial Times no início deste ano.

Uma pessoa próxima do órgão regulador disse que foi difícil avaliar se a droga tinha algum efeito significativo. "Infelizmente, é difícil dizer muito sobre o molnupiravir, a não ser que ele não parece afetar a progressão [da doença]."

A EMA ainda não o aprovou.

O regulador do Reino Unido, Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde, aprovou o medicamento em condições limitadas. A Administração de Alimentos e Drogas dos EUA aprovou o molnupiravir, mas restringiu seu uso. A maioria dos reguladores disse que deve ser usado como segunda ou terceira opção de tratamento da doença.

A MSD disse que o teste produziu resultados importantes e forneceu suporte para o valor do Lagevrio nesta pandemia em evolução, em que as taxas de vacinação são mais altas e a variante ômicron está causando doenças menos graves, incluindo menos hospitalizações e mortes.

Traduzido originalmente do inglês por Luiz Roberto M. Gonçalves

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