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Risco de demência é maior para negros do que para brancos, aponta estudo britânico

Pesquisa com quase 295 mil participantes encontrou fatores sociais e de saúde associados a doenças degenerativas

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São Paulo

Uma pesquisa feita com dados de 295 mil pessoas no Reino Unido apontou para um maior risco de desenvolver demência em pessoas negras do que nas brancas ou asiáticas.

O risco associado para doença neurodegenerativa em indivíduos com mais de 55 anos era de 34% a 43% maior em negros em comparação aos brancos. O mesmo risco não foi encontrado para outras etnias avaliadas, como asiáticos.

Cérebros expostos em prateleiras com etiquetas
Coleção de cérebros humanos é exposta no Museu de Neuropatologia em Lima - Ernesto Benavides - 16.nov.2016/AFP

Os resultados foram publicados na edição desta quarta-feira (12) da revista científica PLoS One. A pesquisa foi desenvolvida por cientistas da Divisão de Psiquiatria da Universidade College de Londres e do Fundo Camden e Islington do Serviço Nacional de Saúde britânico.

Para avaliar o risco associado ao desenvolvimento de demência, os cientistas analisaram dados de 294.162 participantes de 40 a 69 anos cujas informações estavam inseridas no chamado biobanco do Reino Unido de 2006 a 2010. Essas informações incluíam etnia, escolaridade, idade, gênero, prática de atividade física, condições prévias de saúde (diabetes, hipertensão, obesidade, perda auditiva etc.), consumo de álcool, cigarro e exposição à poluição do ar.

Os cientistas também coletaram amostras de sangue dos participantes para traçar a presença de biomarcadores já conhecidos para demência que podem estar associados ao maior ou menor risco de aparecimento da doença. O peso e o índice de massa corporal também foram anotados individualmente.

Para a avaliação do risco, os pesquisadores selecionaram apenas os indivíduos com 55 anos ou mais no momento de início do estudo, pois nas pessoas mais jovens o risco é baixo. Os fatores idade, gênero e sociodemográficos foram ajustados para todos os participantes.

No período analisado, 5.972 pacientes desenvolveram demência (2,03%), sendo 5.789 brancos, 79 asiáticos e 91 negros. A chamada razão de risco (HR em inglês) nos participantes que se autodeclararam negros era de 1.43 (intervalo de confiança de 95%), enquanto nos participantes que se autodeclararam asiáticos era de 1.09 (com intervalo de confiança 95%). O grupo controle para o estudo era ter se autodeclarado branco, pois essa era a população em que o HR era igual a 1.

Quando ajustados os dados para todos os fatores de risco, incluindo escolaridade, predisposição genética e condições prévias de saúde, o risco na população negra ainda era maior do que na população autodeclarada branca, com HR igual 1.34 (intervalo de confiança 95%).

A pesquisa ainda encontrou uma forte correlação entre escolaridade e risco de desenvolver demência, com o menor risco quanto mais alta a escolaridade do grupo analisado, e também maior risco para pessoas com taxas mais altas de obesidade, diabetes, perda auditiva ou hipertensão.

Porém, na população branca, o que mais influenciou o risco de desenvolver demência foi o tabagismo (HR=1.23, comparado a 1.03 nos negros e 0.9 nos asiáticos). A análise não encontrou como fator de risco para demência nos negros o consumo moderado a alto de álcool (equivalente a igual ou menos de 21 doses por semana), mas o fato de esse consumo ser maior na população branca pode ter influenciado esse resultado.

Para Naaheed Mukadam, psiquiatra e pesquisadora da Universidade College em Londres e primeira autora do estudo, esse resultado é concordante com pesquisas feitas em outros países, que apontaram que hábitos de vida como consumo de cigarro e álcool estão mais associados ao risco de demência em pessoas de etnias brancas, enquanto doenças crônicas estão mais associadas às populações negras e de maior vulnerabilidade social.

"A população negra no nosso estudo tinha taxas muito baixas de tabagismo e consumo excessivo de álcool. Por outro lado, as taxas de diabetes, obesidade e hipertensão eram maiores neste grupo comparado com a população branca. Mesmo ajustando para esses fatores, os negros ainda tinham maior risco para demência, o que indica que esse risco elevado não é explicado somente pela alta incidência desses fatores", explica.

Segundo Mukadam, outro fator que pode influenciar tal risco para os negros é a frequência elevada de um gene considerado como um marcador de demência, que apareceu mais na população negra estudada do que nos brancos.

"Não sabemos por que esse alelo é mais comum nesse grupo específico da população negra comparado aos asiáticos e brancos. Se a frequência desse mesmo gene se distribui de maneira diferente em outras populações negras, ou até mesmo na população geral, vamos precisar de mais estudos para saber", diz.

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