Entenda o que é a irritação na pele diagnosticada em crianças após visita ao litoral de SP

Causado por larva de água-viva, prurido do traje de banho é caracterizado por bolinhas vermelhas e coceira

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São Paulo

Um menino de nove anos surpreendeu a pediatra Milena De Paulis ao arriscar o que ele tinha: piolho de água-viva. A surpresa dela se deu por dois motivos: pelo garoto tomar a iniciativa de buscar na internet a causa para as pequenas bolhas vermelhas em sua pele e por ele, de certa forma, acertar o diagnóstico.

Apesar de ser popularmente chamado de piolho-do-mar pela coceira que provoca, o que motivou a dermatite observada recentemente em banhistas foi a larva da água-viva Linuche unguiculata.

De Paulis, que integra o departamento de emergências da Sociedade de Pediatria de São Paulo, diz que os primeiros casos de prurido do traje de banho começaram a aparecer nos consultórios após o feriado da Proclamação da República.

Toxinas da larva da espécie Linuche unguiculata provocam coceira e bolinhas vermelhas na pele, o chamado prurido do traje de banho - André Luiz Rossetto, Gerson Dellatorre, Fábio Lang da Silveira e Vidal Haddad Júnior - jun. 2009/Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo

"Eu nunca tinha ouvido falar desse tipo de dermatite e, depois de atender esse paciente de nove anos que havia passado o feriado em Santos, comentei com os colegas de plantão. Só naquela tarde, eles já tinham atendido outros quatro casos", lembra.

A pediatra relatou o episódio em grupos de pediatras e descobriu que mais pacientes com prurido do traje de banho haviam passado em consulta em outras unidades de saúde. Com exceção de uma criança, que acabara de voltar do Rio de Janeiro, todas as outras atendidas estiveram em praias do litoral paulista.

Embora possa ser uma novidade nos consultórios em São Paulo, o quadro não é inédito no país e não há motivo para alarme, afirmam André Morandini, professor e diretor do Centro de Biologia Marinha da USP, e Vidal Haddad Júnior, professor do curso de medicina da Unesp.

Especialista em águas-vivas, Morandini diz que a espécie Linuche unguiculata possui um ciclo de vida com alternância de gerações, ou seja, com fases e formas do corpo distintas. A medusa, fase que vive na coluna d'água, nunca foi encontrada no país. O que vem sendo reportado desde 1995 é a fase dos pólipos, que crescem sobre rochas.

A espécie tem células com nematocistos, estruturas na forma de arpões que são usadas para defesa e captura de alimento. Essas estruturas são capazes de injetar minúsculas gotas de substâncias tóxicas e são elas que causam as irritações e reações na pele.

"Aqui no Brasil, como em alguns lugares do Caribe, o que causa o problema do ‘prurido da roupa de banho’ são as larvas da Linuche unguiculata. Essas larvas procuram um local protegido para continuarem seu ciclo de vida e ficam por baixo dos maiôs e sungas. Quando a pessoa sai da água, as larvas acabam sendo pressionadas entre a roupa de banho e a pele. Com a pressão, as células urticantes disparam os nematocistos", explica Morandini.

Os dados de atendimento das últimas semanas ainda não foram analisados pela Secretaria de Estado da Saúde, e Morandini afirma que não existem pesquisas que indiquem aumento ou diminuição da quantidade dos pólipos no litoral brasileiro. "Os estudos feitos até o momento são apenas descritivos, reconhecendo a presença da espécie", diz.

Dessa forma, não é possível saber quando e onde podem ocorrer outros episódios –entre 2001 e 2006, por exemplo, foram registrados 38 casos em crianças e adultos em Santa Catarina, conforme estudo publicado em 2009 por Haddad Júnior.

"O diagnóstico é mais frequente em crianças, porque elas passam mais tempo dentro da água", afirma o dermatologista, que pesquisa aspectos clínicos e terapêuticos de acidentes por animais aquáticos.

Os pais, contudo, não precisam restringir o tempo dos pequenos no mar. A irritação na pele é passageira e a maior dificuldade é controlar a coceira para não lesionar a pele.

"Geralmente, o tratamento é feito com corticoide, antialérgico e compressa de água fria, e a irritação cessa em uma semana", afirma Haddad Júnior.

De Paulis acrescenta que, em alguns casos, pode haver febre, calafrios, náusea e vômito, mas esse não é o quadro habitual. "Nenhum dos colegas relatou até agora esses sinais mais sistêmicos."

Ela orienta os pais a tirarem maiôs, sungas, biquínis e camisetas quando as crianças saírem da praia e, em seguida, lavar o corpo com água corrente, sem esfregar. A ideia é reduzir o atrito e evitar maior contato com as toxinas das larvas. "É um quadro benigno e autolimitado. Os pais não precisam ficar alarmados."

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