Descrição de chapéu câncer

Estudo mostra como células mortas do fígado escapam de defesa e podem levar à fibrose

Fígado com fibrose emite sinal para impedir processo de eliminação de células danificadas

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São Paulo

No processo de morte e vida celular, a coordenação é feita por diversos sinais que avisam os responsáveis no nosso corpo pela absorção e eliminação das células mortas —a chamada apoptose ou necroptose.

Em geral, as células responsáveis por fazer isso são os macrófagos, assim chamadas por praticarem a "fagia" —literalmente, comer— das células danificadas.

Só que o que acontece quando esse processo não ocorre corretamente?

Cientistas do Centro Médico de Irving, da Universidade Columbia (Nova York), do Instituto de Pesquisa Biomédica da Novartis e do Hospital Policlínico de Milão (Itália) descobriram que a doença da gordura no fígado não alcoólica está relacionada a uma sinalização molecular que impede a absorção das células danificadas do fígado pelos macrófagos.

O médico José Escobar Ferreira Neto e equipe realizam transplante de fígado no Hospital Albert Einsten, em São Paulo, SP - Luiz Carlos Murauskas - 27.nov.10/Folhapress

Como consequência, os moduladores de inflamação continuam a ser liberados, provocando ainda mais inflamação nas células ao redor, o que pode acelerar o processo de fibrose em camundongos.

Os achados foram publicados na edição desta quarta (23) da revista científica Science Translational Medicine.

A gordura no fígado (NAFLD, na sigla em inglês) é uma condição que atinge de 25% a 30% da população. Em alguns locais, como nos EUA, essa proporção pode chegar a 40%.

Ela é caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado sem associação com o consumo de bebida (cirrose alcoólica). Estimativas globais indicam que de 20% a 30% dos casos de gordura no fígado podem evoluir para esteatose hepática (também chamada esteatohepatite, ou NASH, na sigla em inglês).

Há evidência que a necroptose celular está envolvida em diversas condições de saúde, incluindo a NASH, onde o acúmulo de células mortas no fígado é um dos fatores que pode levar à fibrose. No estudo, os pesquisadores buscaram entender como esse processo ocorre.

O que eles observaram é que os macrófagos de indivíduos com NASH não fazem corretamente o papel de morte celular porque as próprias células (hepatócitos) emitem um sinal negativo (uma molécula conhecida como CD47) ao organismo —como se dissesse "não me coma".

Testando um anticorpo conhecido como anti-CD47, capaz de bloquear esse sinal, os cientistas conseguiram pausar e até reverter o processo de esteatose hepática nos camundongos.

Um efeito colateral, porém, foi que alguns dos animais estudados apresentaram anemia.

Um segundo bloqueador molecular, atualmente testado para linfoma não-Hodgkin, também impediu esse sinal e estimulou a necroptose das células do fígado, sem o efeito anêmico nos animais.

Para Ira Tabas, autor sênior da pesquisa e professor de patologia e biologia celular no Centro Médico Irving, a pesquisa é inédita por conseguir demonstrar como o processo de bloqueio da necroptose está associado ao maior risco de fibrose hepática.

"Ficamos surpresos que ninguém nunca tinha estudado isso, porque o papel desse mecanismo em outras doenças é bem demonstrado, só nunca tinha sido testado para esteatose hepática", diz.

De acordo com ele, a equipe está em contato com farmacêuticas interessadas em desenvolver drogas usando esse mecanismo.

"As evidências de ensaios em animais são bastante sólidas, e a análise de amostra de fígados de indivíduos com NASH também reforça o início de estudos clínicos e desenvolvimento de terapêuticas."

"Existe evidência que a terapia com anti-SIRPa pode também ajudar a prevenir a aterosclerose, que é uma doença cardiovascular com lesão do tecido. Essa é uma perspectiva interessante, uma vez que doença cardiovascular é a principal causa de morte em indivíduos com NASH. Então, estaríamos testando uma droga eficaz para duas condições, ou mais, de saúde", completa.

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