Descrição de chapéu alimentação câncer

Quais os riscos para a saúde de uma alimentação baseada em ultraprocessados

Edição da newsletter Cuide-se explica associação desse tipo de alimento com doenças crônicas e câncer

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São Paulo

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Os riscos de uma dieta desbalanceada, com predominância de alimentos ultraprocessados, já são conhecidos pelos médicos. Câncer, doenças crônicas, obesidade, diabetes e até demência são algumas das enfermidades que já têm comprovado o risco aumentado associado ao consumo de ultraprocessados.

  • O que são alimentos ultraprocessados? Bolos e pães industrializados, condimentos, salgadinhos de pacote, refrigerantes, bebidas adoçadas, macarrão instantâneo, pizzas congeladas, biscoitos recheados, balas, doces, chocolate, etc.

Em especial, o câncer é uma das condições com maior relação com os chamados fatores ambientais, que envolvem hábitos de vida e fatores externos. A incidência de alguns tipos de câncer, como o intestinal, tem crescido no país nos últimos anos, relacionado à dieta de baixos nutrientes e com a obesidade.

Alimentos ultraprocessados - biscoitos, batata frita, sorvete
Exemplos de alimentos ultraprocessados: biscoitos recheados, sorvetes, pães e bolos industrializados - Eduardo Knapp/Folhapress

Uma pesquisa recente desenvolvida pelo Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) mostrou que uma alimentação baseada em ultraprocessados está associada ao maior risco de desenvolvimento de câncer em 25 partes do corpo.

Há também maior risco de agravamento e de morte por câncer associado ao consumo de ultraprocessados. Segundo dados de um estudo global, o aumento de 10% da taxa de consumo diária de ultraprocessados leva a um risco 2% maior para agravamento por qualquer tipo de câncer.

Olhando alguns tipos mais específicos da enfermidade, o risco chega a ser 11% maior para desenvolvimento de câncer de tireoide e até 19% para o câncer de ovário, altamente letal: o risco de morte por câncer de ovário pode ser 30% maior em pacientes que consumiam até 10% mais ultraprocessados em sua dieta.

Quanto a outras enfermidades, os ultraprocessados também estão relacionados ao aumento de diabetes, doença da gordura do fígado não-alcoólica (também chamada esteatose hepática), doenças renais e cardiovasculares.

Nas crianças e adolescentes, dietas empobrecidas e baseadas em ultraprocessados provocam um aumento de diabetes, colesterol alto e obesidade, que podem levar a problemas cardíacos e até infertilidade na vida adulta.

Aumento do consumo

Do início do século para cá, o consumo de ultraprocessados médio na população brasileira cresceu cerca de 6%, passando de aproximadamente 13% para quase 20%, segundo dados da POF (Pesquisa do Orçamento Familiar) de 2018, ligada ao IBGE.

Em países ricos, como Estados Unidos e Canadá, esse consumo já é superior a 70%.

Esse aumento em países de baixa e média renda, em especial da América Latina, está relacionado às diferenças socioeconômicas da população: devido ao custo elevado de alimentos naturais e minimamente processados e à dificuldade em obter alimentos frescos, o consumo de ultraprocessados é maior nas classes econômicas mais baixas.

E isso tem refletido também no crescimento de incidência de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, nesses locais. No Brasil, cerca de 22% da população adulta já apresenta obesidade, de acordo com dados da pesquisa Vigitel de 2021, e 9% dos adultos vivem com diabetes tipo 2.

Em relação às crianças, atualmente 12,5% das meninas e 18% dos meninos têm obesidade, podendo chegar a 23% e 30%, respectivamente, em 2035. Um estudo estima também que um quarto das crianças já apresentam colesterol alto.

Na pandemia, o consumo de ultraprocessados nas crianças aumentou, da mesma forma que também cresceu a parcela de crianças vivendo com insegurança alimentar. Dados do Enani (Estudo Nacional da Alimentação e Nutrição Infantil) de 2019 mostram que o consumo de ultraprocessados entre crianças menores de cinco anos foi de 93% no país, enquanto o de frutas e verduras foi de 27,4%.

De acordo com especialistas, as duas mazelas são faces de uma mesma moeda: de um lado, a ausência de políticas públicas que coloquem a alimentação saudável e a prática de atividades físicas como prioritárias; de outro, o alto preço dos alimentos empurra populações mais pobres a procurar qualquer fonte energética disponível, mesmo quando rica em gordura, sódio e açúcar e baixa em nutrientes.

Equilíbrio

O Guia Alimentar para a População Brasileira, lançado em 2014, divide os alimentos em ultraprocessados, processados (como óleos, azeites e gorduras usadas para cozinhar), minimamente processados (como carnes e legumes curados ou em processos de fermentação) e in natura ou naturais (como frutas, verduras, legumes, grãos e proteínas), e preconiza que o consumo de ultraprocessados deve ser evitado.

Uma dieta rica, equilibrada e culturalmente apropriada é a base de uma alimentação saudável.

A mudança recente na rotulagem dos produtos com alto teor de gordura e sódio pode ser uma solução para reduzir o consumo, mas há também a necessidade de outras políticas públicas, como:

  • taxação de bebidas açucaradas;

  • redução do imposto de produtos de agricultura familiar;

  • aumento de feiras livres e hortas populares em centros urbanos;

  • ampliar a oferta de espaços para prática de atividade ao ar livre em regiões periféricas;

  • promover campanhas sobre prevenção de doenças crônicas.

Ciência para viver melhor

Novidades e estudos sobre saúde e bem-estar

  • O risco de desenvolver doença cardíaca diminuiu em pacientes com obesidade ou sobrepeso um ano após iniciar o tratamento com a semaglutida, primeiro medicamento aprovado para obesidade. A obesidade é um fator de risco elevado para doença cardiovascular, em especial doença ateroesclerótica. De acordo com um estudo apresentado na última sexta (19) no Congresso Europeu de Obesidade, em Dublin, houve uma melhora no chamado escore cardíaco um ano após o início do tratamento com semaglutida e uma redução de cerca de 10% do peso corporal. O estudo, que incluiu 93 pacientes com idade de 40 a 79 anos, foi liderado por Andres Acosta e Wissam Ghusn, do Programa de Medicina Precisa para Obesidade da Clínica Mayo, nos EUA.
  • Uma pesquisa da Universidade da Califórnia em Los Angeles associou dez tipos de pesticidas com degradação das células relacionadas ao mal de Parkinson, apontando para um maior risco de algumas substâncias tóxicas em causar doenças neurodegenerativas. Segundo o estudo, publicado na revista Nature Communications, os pesticidas indicados como neurotóxicos atuam diretamente na morte de células ligadas ao movimento e sistema motor, por isso causam uma piora da condição. Eles incluem herbicidas, fungicidas e inseticidas, incluindo o agrotóxico altamente utilizado e banido desde a década de 1980, dicofol (o mesmo do DDT).
  • Uma taxa elevada de açúcar no sangue pode piorar a recuperação cerebral após um quadro de AVC, indica uma pesquisa liderada pela equipe médica da Universidade de Michigan com cerca de mil pacientes que sofreram um derrame. De acordo com o estudo, publicado no periódico Jama Network Open, o risco de desenvolver demência após um derrame já era conhecido, mas não os fatores envolvidos. A pesquisa apontou a alta taxa de açúcar no sangue e o colesterol alto como dois fatores que, quando presentes, pioram o desempenho cerebral em pacientes de AVC, produzindo assim um risco elevado de aparecimento de demência e outras doenças neurodegenerativas, como Alzheimer.
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