Crise e brasileiros ajudam Barcelona a dominar futsal europeu
Uma loja, uma lanchonete e uma fila de turistas para entrar no museu do Barcelona separam o estádio Camp Nou do ginásio Palau Blaugrana na capital da Catalunha.
Já a distância do futebol para as outras 15 modalidades do clube espanhol é muito maior. O futsal está perto de amenizar essa diferença.
Nesta sexta-feira, em Tbilisi, capital da Geórgia, a equipe disputou a semifinal da Taça Uefa (equivalente a Copa dos Campeões) e perdeu para o Kairat Almaty, do Cazaquistão.
Do outro lado da chave estão Iberia Star, time da casa, e o atual vice-campeão, o Dínamo, da Rússia. A final já é domingo.
Ano passado os catalães jogaram e ganharam a principal competição continental pela primeira vez. E essa mudança no Barça passou pelo Brasil.
No atual elenco são seis os jogadores nascidos no país: Wilde, Igor, Gabriel e Ari, além de Fernandão (naturalizado espanhol) e Saad (cidadão italiano). A maioria chegou nos últimos anos, quando o Barcelona da quadra passou a repetir o sucesso do campo.
"Há seis anos estávamos na Série B. Resolveram investir e, hoje, vivemos um mundo a parte no país", diz Ari, 31, que chegou ao time em 2009.
Nesta temporada, o Barça já está na final da Copa do Rei, terminou em primeiro lugar, a duas rodadas do fim, a fase de classificação do Espanhol e é o atual campeão da Copa da Espanha.
O clube investia e ganhava títulos no hóquei, handebol e no basquete, que atualmente conta com o armador da seleção brasileira Marcelinho Huertas e também está na semifinal do principal torneio europeu, a Euroliga.
A economia da Espanha ajudou o futsal.
Em crise desde 2008 e com desemprego que hoje atinge mais de 27% da população ativa, o futsal espanhol também sofreu com a recessão. Times fecharam, patrocinadores sumiram e atletas deixaram o país, centro da modalidade no mundo.
Marcel Merguizo/Folhapress |
Fernandão, Igor, Saad e Gabriel se reúnem na quadra |
Como a crise afetou diretamente o setor imobiliário --e muitas construtoras bancavam as equipes--, as que não fecharam acabaram por baixar os salários. "Hoje, só três clubes pagam bem e direito", diz Wilde, 32, ao se referir ao próprio Barça além do ElPozo e do Inter Movistar.
"Os clubes estão apostando nos jovens porque o investimento diminuiu. Noto algo que não acontecia com os espanhóis antes: estão saindo do país", diz Gabriel, 32.
Em Barcelona, o futsal ganhou o status do basquete e do handebol (ambos lotam o ginásio) há cerca de cinco anos. Cada uma das três modalidades tem patrocínios próprios e se bancam, além de desfrutarem do mesmo moderno centro de treinamento da equipe de futebol.
"O Barça se sustentou sem patrocínio quando a crise chegou. Hoje, sair daqui nem pensar, pois é muito difícil encontrar algum clube com a essa estrutura no meio de toda a crise", afirma Saad, 33, paulista naturalizado italiano que ficou sem receber por seis meses em outro clube.
Marcel Merguizo/Folhapress |
Jogadores da equipe de futsal do Barcelona conversam no intervalo de treino no Palau Blaugrana |
O Mosteles, bancado por uma construtora, perdeu investimento e fechou. Quatro anos depois de sair, Saad diz que recuperou apenas 60% do que lhe deviam.
Agora, ele diz que não deseja voltar para o Brasil e se orgulha de frequentar o mesmo restaurante que Lionel Messi, por exemplo. "Não peço autógrafo nem tiro foto. O mundo deles é outro. Quando fizermos 10% do que fazem, estarei feliz".
Os troféus, contudo, já estão lado a lado aos do futebol no museu visitado por mais de um milhão de fãs por ano, embaixo da arquibancada na qual se lê o lema "Mais que um clube". Neste caso, mais que um clube de futebol.
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