Ganso tenta recuperar seu futebol em microclube francês

Jogador atrai atenções para o pequeno Amiens, mas ainda é alvo de desconfiança entre céticos

Lucas Neves
Paris

Conhecida por sua monumental catedral gótica, a cidade de Amiens, na região norte da França, quer ser o altar da redenção de um novo morador ilustre: o meia Paulo Henrique Ganso, 28, que amargou um purgatório de dois anos no Sevilha e veste, a partir deste sábado (15), o uniforme do pequeno clube que leva o nome da localidade. O jogo contra o Lille é às 15h (horário de Brasília).

 
Técnico, presidente, torcida, ninguém na vizinhança do estádio do Unicórnio, a casa da equipe, confirma a escalação do ex-santista, revelado ao lado do amigo Neymar na Vila Belmiro do fim dos anos 2000.

Mas a imprensa francesa tem noticiado que ele só cruzou a fronteira pela promessa de ser titular e de ficar muito tempo em campo -roteiro bem diferente do que protagonizou no time andaluz, onde só disputou 18 partidas do Campeonato Espanhol nas últimas duas temporadas e pouco deixou o banco. A estreia parece iminente, portanto.

Nunca se viram tantos microfones em uma entrevista coletiva do Amiens quanto na sexta-feira (7), dia em que o brasileiro foi apresentado oficialmente sob o epíteto de melhor jogador que a equipe, que disputa apenas a sua segunda temporada na elite do futebol francês, já viu.

Emprestado pelo Sevilha, Ganso chega ao Amiens para atuar no futebol francês - Reprodução / Instagram

Não é à toa que o treinador Christophe Pélissier busca conter a euforia da torcida. "Queremos levá-lo de volta ao alto nível, mas sabemos que isso não vai ser da noite para o dia. Não se deve pressioná-lo", diz, por telefone, lembrando as críticas dirigidas ao ex-meia Raí em sua aclimatação ao Paris Saint-Germain, em 1993. "Cabe a nós devolver a ele a confiança e o prazer de jogar, coisas que tinha perdido na Espanha."

Antes do Sevilha, Ganso teve uma passagem também apagada pelo São Paulo, de 2012 a 2016. Na transferência para o futebol europeu, surgiram os primeiros questionamentos sobre a adequação de seu estilo (de técnica refinada, mas sem velocidade, explosão) ao padrão das melhores ligas de clubes do mundo. O desempenho do meia na Espanha não dissuadiu esses céticos.

"Talvez ele precise ser mais intenso naquilo que sabe fazer. Também sabe que terá de fazer um esforço no plano defensivo, em nome da equipe", observa o treinador. "Mas não pedirei que saia de seu registro."

O presidente do Amiens, Bernard Joannin, diz que o clube (13º colocado entre 20 na edição 2017 do Nacional) tem se especializado em "reconstruir carreiras" combalidas. Dá como exemplo a do atacante congolês-francês Gaël Kakuta, que em 2009, aos 18 anos, tornou-se o mais jovem atleta a ser escalado como titular do Chelsea para um jogo da Liga dos Campeões.

Acumulando passagens mais ou menos meteóricas por equipes de cinco países desde então, o jogador foi parar no Amiens na temporada passada. Conseguiu se reerguer o suficiente para voltar nesta ao Rayo Vallecano de Madri, que acabou de regressar à primeira divisão.

"Não se trata de um golpe de marketing", afirma Joannin. "Ter atraído Ganso é ótimo para o clube, é claro. Mas foi ele mesmo que quis vir [o meia teria recebido propostas melhores nos últimos meses do AEK Atenas e do próprio Santos], por causa do ambiente mais tranquilo, familiar, distante do burburinho dos grandes clubes."

Veio a família, mas o dinheiro ficou na Espanha. Segundo um canal de TV francês, o salário mensal de Ganso estaria na casa dos 480 mil euros (R$ 2,3 milhões), a serem bancados majoritariamente pelo Sevilha, que o emprestou por um ano e tem interesse em valorizar seu passe.

"É claro que, em termos de mídia, a chegada dele é incrível para um clube novo na primeira divisão. Mas o que esperamos mesmo é que recupere rápido o nível de jogo que apresentava no Santos e nos ajude a não cair", afirma Fabien Reinert, porta-voz da Tribune Nord, principal torcida do clube.

O jogador não quis dar entrevista antes de estrear.

 
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