Atletas da Chape que não viajaram pensaram em abandonar o futebol
Avener Prado/Folhapress | ||
Zagueiro Rafael Lima busca força para superar tragédia com companheiros da Chapecoense |
Uma semana após o acidente que vitimou 71 pessoas, incluindo 19 atletas e 24 membros da delegação da Chapecoense, os jogadores do clube que ficaram em Chapecó buscam forças para continuar com a carreira.
Mas não conseguem esconder os olhos marejados e o semblante de dor e tristeza.
O zagueiro Rafael Lima, 30, é um dos mais abalados. No clube desde o final de 2011, o jogador participou dos acessos para a Série B e Série A do Brasileiro. Ele tem 206 jogos com a camisa alviverde.
"Ainda parece que é tudo mentira. Fecho os olhos e vejo meus companheiros, sonho com eles. Essa ferida jamais vai cicatrizar", diz.
"Uma situação que era para ser inesquecível para o lado bom se tornou inesquecível para o lado ruim", complementa o defensor, que foi contratado pelo diretor de futebol do clube catarinense, Cadú Gaúcho, que também morreu no acidente aéreo.
Com contrato até o final do ano, ele afirmou que ainda não planejou seu futuro.
"Se eu estivesse estabilizado financeiramente, eu pararia. Não é da boca para fora que falo isso. Temos a certeza que vamos morrer um dia, mas da maneira que foi ceifada a vida desses guerreiros não dá para acreditar. Fazia planos para jogar mais oito, nove anos. Agora já não sei."
O sentimento de Rafael Lima é compartilhado por Neném, 34, com quem compartilha o vestiário desde 2011.
"Na emoção, vem esse pensamento [de se aposentar], mas na condição atual a gente sabe que não é possível. Tenho uma família para cuidar", afirma o meia.
A reportagem ainda tentou contato com o meia Hyoran, 23. No entanto, ele não quis se pronunciar por estar muito abalado. Natural de Chapecó, ele foi negociado com o Palmeiras e não viajou porque se recuperava de lesão.
Já o goleiro Nivaldo, 42, anunciou sua aposentadoria logo após a tragédia. Ele fará parte do novo departamento de futebol do time, que está sendo montado.
RECONSTRUÇÃO
O clima de tristeza e sofrimento impregna a cidade de Chapecó e a Chapecoense, que se prepara para fortalecer o lado emocional dos jogadores que vão permanecer no elenco e os reforços que devem ser contratados.
De acordo com o clube, a expectativa é trazer 22 atletas para a temporada de 2017.
"Primeiramente, vamos fazer um trabalho em equipe e, em um segundo momento, individualizado. Ele vai ser necessário, porque o clima está muito pesado", afirma Irlene Würzius, 54, assistente social da Chapecoense, responsável por coordenar o trabalho de recuperação psicológica dos funcionários.
"Eles [os jogadores contratados] vão sentir isso assim que chegarem à cidade e vão trabalhar com profissionais que ainda estão aqui", diz.
A preocupação também é grande com os jogadores das categorias de base. Logo após o acidente, muitos foram atendidos e liberados para visitarem as suas cidades.
A equipe sub-17 retorna ao clube na próxima segunda-feira (12), enquanto o time sub-20 volta no dia 19.
"Desde o momento da tragédia os jogadores da base quiseram ir para suas casas porque necessitavam ficar com os pais, e concordamos. Eles foram atendidos pela nossa equipe, por nossos parceiros e os liberamos. Eles devem retomar a partir da próxima semana a rotina de trabalho", conclui Irlene.
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