Celeiro olímpico, São Caetano deve a atletas e vai reduzir investimento
O esporte de São Caetano do Sul, cidade da Grande São Paulo que se converteu nas últimas décadas em um celeiro de medalhistas olímpicos, está em alerta.
Centenas de atletas, como o ginasta Arthur Zanetti e o lutador Maicon Andrade, medalhistas nos Jogos Olímpicos do Rio, não receberam a a totalidade da última parcela da bolsa a que tinham direito, referente a 2016.
A secretaria de esportes e turismo havia prometido quitar o débito ainda nessa semana, mas depositou apenas metade do valor da parcela.
A situação se agrava pelo fato de, já em meados de fevereiro, nem os competidores nem os principais clubes e associações esportivas da cidade –que têm times de handebol, vôlei, ginástica, judô e taekwondo, entre outras modalidades– foram chamados à mesa para negociar a renovação do apoio para 2017.
O hábito que perdurava era que os chamamentos públicos para extensão do vínculo ocorressem já no trimestre anterior ao novo exercício.
A Folha apurou que nesta semana a diretoria esportiva da BM&F, maior clube de atletismo do país, foi avisada de que seu contrato com São Caetano pode não ser mantido.
A BM&F recebe dinheiro da prefeitura local, que a patrocina, e está baseada na cidade desde 2011. O clube representa a cidade em competições nacionais há mais de dez anos e em 2012 inaugurou a primeira pista indoor do país. No centro de treinamento da equipe também funciona um projeto comunitário e outro de formação de atletas.
Caso realmente aconteça a cisão, o município teria de pagar multa superior a R$ 20 milhões ao clube.
A indefinição também afeta equipes de esportes coletivos vinculadas a clubes –os mais tradicionais são SERC São Caetano (ginásticas e natação) e Associação Atlética São Caetano (handebol, vôlei e taekwondo).
As equipes de handebol, relevantes no cenário nacional, correram risco de serem extintas, mas tiveram sua manutenção garantida pelo vice-prefeito e secretário de esportes e turismo, Beto Vidoski (PSDB), na última semana.
Ainda assim, o aporte na modalidade será reduzido.
No caso do vôlei, a cidade tem um time que disputa a Superliga feminina. Como o registro perante a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) para disputar o torneio pertence ao clube, em caso de fim de convênio, São Caetano poderia ficar sem equipe no principal torneio nacional.
Em sua defesa, a prefeitura argumenta que houve um congelamento de R$ 205 milhões em seu orçamento.
O esporte foi um dos setores que mais sofreram. Segundo a pasta, houve um corte total de 34% na sua verba em relação a 2016. Isso representa R$ 11,3 milhões.
Em 2014, por exemplo, a cidade deu aproximadamente R$ 27 milhões para o esporte.
Com o arrocho, a nova gestão preferiu enxugar os repasses para o alto rendimento.
Na comparação com o ano passado, os gastos com repasses a atletas de ponta, como Andrade e Zanetti, foram reduzidos em 53% –ficaram em R$ 4 milhões.
Nesta semana, Vidoski tem tentado negociar renovações, com valores reduzidos. Em janeiro, prometera ao ginasta e ao lutador manter os aportes a suas modalidades.
A Folha procurou Vidoski para comentar os cortes, mas não obteve resposta. Atletas, à espera de resolução, têm preferido não comentar.
São Caetano é a segunda cidade que mais vezes conquistou os Jogos Abertos do Interior paulista, em 15 ocasiões. De 1997 a 2010, enquanto fez grande investimento em seu programa esportivo, só perdeu uma edição (2003).
Nesta década, entretanto, o município efetuou cortes recorrentes e deixou de dominar o esporte no Estado. Venceu de novo em 2012, mas não deixou de formar atletas. Agora, a continuidade está em xeque.
CRISES RECENTES
São Caetano teve duas grandes crises nesta década. Em janeiro de 2011, a prefeitura da cidade dispensou 720 de 986 atletas que defendiam a cidade.
Entre os cortados estavam os judocas Edinanci Silva e Carlos Honorato –medalhista de prata nos Jogos de Sydney-2000– e o lutador de taekwondo Diogo Silva. Na época, o município alegou corte de verbas e disse que se tratava de um ajuste temporário.
Em 2014, um protesto contra o então secretário de esporte Éder Xavier, que queria fazer um corte de R$ 1 milhão na pasta, envolveu passeata pelas ruas da cidade movida por atletas, técnicos e dirigentes. Xavier, pressionado, pediu então exoneração do cargo.
A gestão que assumiu em 2017, sob comando de Beto Vidoski, já chegou a afirmar que sua prioridade será as categorias de base e não mais o alto rendimento.
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