ALEX SABINO
GUILHERME SETO
LUIZ COSENZO
SÉRGIO RANGEL
DE SÃO PAULO

A seleção brasileira pode ser punida pela Fifa por gritos homofóbicos contra Silva, do Paraguai. Todas as vezes que o goleiro cobrava um tiro de meta, a torcida presente no Itaquerão berrava "bicha".

A CBF já foi multada duas vezes por casos iguais durante as eliminatórias. A última punição aconteceu em novembro do ano passado após a partida diante da Colômbia. A primeira havia sido contra a Bolívia. No total, a Confederação teve de desembolsar cerca de R$ 140 mil.

Outras federações já receberam condenações mais pesadas. O Chile terá de atuar duas vezes em Santiago com portões fechados por causa do mesmo problema.

O locutor do Itaquerão chegou a pedir que os torcedores "respeitassem o adversário" e evitassem uma punição à seleção. Foi ignorado.

Os gritos de "bicha" ou "puto" nas cobranças de tiros de meta se propagaram no futebol brasileiro a partir da participação dos clubes mexicanos na Copa Libertadores, nos anos 90 do século passado.

O público no Itaquerão se uniu nas ofensas contra o goleiro paraguaio mais do que para incentivar qualquer jogador brasileiro a não ser Neymar. O campeão de popularidade foi Tite.

Quando os times foram anunciados, antes do início da partida, Fagner foi o mais aplaudido. Só perdeu para Tite. Apenas ele e Neymar receberam gritos individuais durante a partida. No caso do atacante do Barcelona (ESP), foi um incentivo após ter perdido pênalti no início de segundo tempo e um grito puxado pelo locutor do Itaquerão após o atacante ter feito o segundo gol. O serviço de alto falantes tentou iniciar um coro de "Marcelo" após o terceiro gol. Ninguém o atendeu.

Não que o treinador tenha despertado a atenção na área técnica. Chamou poucas vezes os jogadores para dar instruções e não reclamou da arbitragem sequer quando Paulinho caiu na área e todo o estádio pediu pênalti. Cada vez que Neymar recebia uma entrada forte do adversário, chamava Fagner para dar instruções.

Enquanto o empate esteve no placar, a torcida esqueceu de Tite. Estava preocupada em encontrar uma voz própria, um grito de guerra que fugisse do surrado "sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor" e só gritava em uníssono nos tiros de meta do Paraguai.

Mesmo após o gol de Coutinho, que Tite comemorou com o corpo curvado, socando o ar de cima para baixo com as duas mãos, ele parecia insatisfeito. A cada lançamento errado, se voltava para o banco e sinalizava, com as mãos, que queria passes rasteiros. E cada vez que mostrava descontentamento, a torcida no Itaquerão o homenageava.

"Olê, olê, olê, olê Titeeeee, Titeeeee."

Apenas quando o quarto árbitro sinalizou o acréscimo, Tite agradeceu ao público. Apontou para as arquibancadas e bateu do lado esquerdo do peito.

Antes disso, manteve-se impassível da mesma forma que assistiu de braços cruzados a Neymar perder o pênalti e comemorou discretamente o segundo gol.

Apenas se indignou quando a seleção fez o terceiro. O árbitro validou o lance e depois voltou atrás.

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