Na crise, equipes trocam treinadores novos por outros mais experientes
Williams Aguiar/Sport Club do Recife | ||
Luxemburgo orienta a equipe do Sport durante jogo contra o Palmeiras |
A temporada do futebol brasileiro começou com vários clubes apostando em treinadores jovens. No entanto, más campanhas fizeram com que os dirigentes buscassem a segurança de nomes com mais tempo no mercado.
Sete dos dez times da Série A do Campeonato Brasileiro que trocaram treinadores fizeram apostas em profissionais mais experientes.
Saíram quase sempre os representantes da nova geração, a maioria com formação acadêmica, mas em início de carreira, e entraram técnicos com mais tempo na profissão.
É o caso, por exemplo, do Coritiba. O time iniciou o Brasileiro com Pachequinho, 46, que fazia seu primeiro trabalho como técnico efetivo de uma equipe profissional, e hoje é comandado por Marcelo Oliveira, bicampeão brasileiro (2013 e 2014).
"O técnico menos experiente encaixa no perfil de início de temporada. Se não der certo, você precisa buscar um nome mais experiente para colocar o time nos trilhos", diz Augusto Carreras, diretor do Sport, que apostou em Daniel Paulista, 35, no início do ano e depois no nome de Ney Franco, 51, para o Brasileiro.
Mas acabou trocando-o por Vanderlei Luxemburgo, 65, o mais velho entre os treinadores em atividade na Série A.
Um sinal de que a experiência etária está sendo mais valorizada agora é o crescimento da média de idade dos técnicos. Na primeira rodada era de 50 anos, agora está em 53 -sem considerar profissionais interinos.
O Atlético-PR foi um dos poucos que inovou na troca de técnicos. Escolheu Fabiano Soares, 51, que nunca tinha treinado um time profissional do Brasil. Ele comandou equipes pequenas na Espanha e em Portugal, como Compostela e Estoril.
PRESSÃO
O treinador hoje mais longevo no cargo em times da primeira divisão é Zé Ricardo, 46, do Flamengo. Na função de desde maio de 2016, ele era novato em times profissionais quando foi chamado.
Depois dele, Mano Menezes, 55, é quem está há mais tempo em seu clube. Assumiu o Cruzeiro em julho de 2016.
"Não sou corporativista. O trabalho ruim tem que ser interrompido, mas o que é um trabalho ruim? Logo depois do 7 a 1, disse que o futebol brasileiro precisava melhorar em todos os aspectos. Se queremos que o futebol brasileiro proponha o jogo, como é a sua característica, isso precisa ser considerado", diz Mano. "É simplista dividir os treinadores entre velhos e novos".
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Para Mano, paciência e avaliação criteriosa da comissão técnica são essenciais. Ele cita o exemplo de Guardiola como referência de paciência. Na temporada passada, no Manchester City, o técnico espanhol sofreu seis derrotas.
"Ele não mudou de mentalidade [ofensiva]. Mas terá mais uma temporada para trabalhar", afirma.
Demitido do Sport, Ney Franco critica a avaliação técnica que os cartolas brasileiros fazem dos trabalhos.
"Os dirigentes se preocupam com as críticas que recebem. Eles estão em grupos de WathsApp e são bombardeados por críticas de conselheiros e torcedores", afirma.
Marcello Dias/Futura Press/Folhapress | ||
Rogério Ceni, demitido pelo São Paulo |
Afastado do campeonato pelo Atlético-MG, Roger Machado concorda com Franco.
"A decisão é baseada na pressão. É um problema cultural brasileiro essa troca. Tanto a minha geração quanto a mais antiga estão contribuindo [para o desenvolvimento do futebol]", diz Roger, que treinou o Grêmio antes de trabalhar em Minas.
Entre os dirigentes, a cultura de que mudar é preciso e a importância dos mais experientes estão em alta.
"A vivência dos treinadores experientes não pode ser jogada fora", diz Domênico Bhering, diretor do Atlético-MG. "Era preciso mudar a filosofia", diz sobre a demissão de Roger.
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