DIEGO GARCIA
DE SÃO PAULO

Campeão paulista e brasileiro em 2017, o Corinthians encerrou o ano com outro "título". Este, mais desagradável: o de clube com mais dívidas registradas em cartório entre as 12 maiores agremiações do Brasil, segundo levantamento da Folha.

No total, até o último dia de 2017, o time do Parque São Jorge tinha 53 protestos registrados, que juntos alcançavam R$ 799.967,24. Somadas as multas a serem pagas para o cancelamento de cada título e eventuais correções monetárias, o valor total poderia chegar a quase R$ 1 milhão.

O Grêmio vem em segundo lugar, com 47 protestos, seguido pelo São Paulo, com 31 registros. Botafogo, com 26 protestos; Internacional, com 23; Vasco, com 18; Flamengo, com 11; Fluminense, com 8; e Santos, com apenas um, completam a lista. Não foram encontradas dívidas registradas em nome de Palmeiras, Atlético-MG e Cruzeiro.

Em valores totais, o Corinthians ocupa a segunda posição. Por esse critério, o Fluminense é o primeiro na lista de devedores, com cerca de R$ 1,49 milhão em dívidas.

Cada protesto representa um registro feito por um portador de um título comercial que não teve efetuado seu pagamento dentro do prazo, buscando assim garantir o recebimento do montante por processos judiciais. A ação leva o inadimplente aos órgãos de proteção ao crédito, como Serasa e SPC.

A pesquisa foi feita junto ao IEPTB (Instituto de Protesto de Títulos do Brasil) e em tabelionatos de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

A Folha levantou as dívidas dos clubes com fornecedores dos mais variados tipos, como dos setores de construção, limpeza, alimentício, decoração e hoteleiro.

Um dos protestos contra o Corinthians é da empresa DM Serralheria, com sede em São Paulo. A dívida de R$ 15.168,02 foi emitida em 3 de outubro de 2017, no 6º Tabelião de Protesto de Letras e Títulos de São Paulo, e teve vencimento 15 dias depois.

Existem fornecedores com protestos de valores maiores. A Embrase Serviços Gerais cobra R$ 319.673,90 do clube por débitos que deveriam ter sido quitados entre dezembro de 2016 e fevereiro de 2017 por serviços de limpeza.

Além de pagar a dívida para limpar seu nome nos cartórios, o clube também precisa arcar com um valor para cancelar os títulos junto aos respectivos tabelionatos. No caso dos protestos registrado pela Embrase, por exemplo, o Corinthians precisaria pagar R$ 11.833,16 em multas para retirar os sete débitos da empresa das certidões.

A empresa O Rei da Grama registrou dois protestos contra o clube do Parque São Jorge, no fim de 2016 e começo de 2017, no valor total de R$ 2.4150. A companhia especializada em paisagismo vendeu pedaços de grama para serem plantados no clube.

Um funcionário da empresa que falou com a reportagem e não quis ser identificado disse que tentou fechar um acordo com o Corinthians para o pagamento da dívida, mas que não foi possível.

OUTROS ENDIVIDADOS

Vinte e nove dos 31 registros de protestos contra o São Paulo foram da mesma empresa, a Íntegra Construções, em valores que variam entre R$ 640,81 e R$ 25.948,97. No total, são R$ 125.428,28 em dívidas registradas -segundo apurou a reportagem, o valor está depositado em juízo.

Os outros dois protestos em nome do time tricolor são do Procon (Fundação de Defesa e Proteção do Consumidor), nos valores de R$ 65.493,33 e R$ 48.790,73, registrados em setembro e novembro de 2017. O órgão já multou o São Paulo anteriormente por conta de falhas na sinalização e pontos de acesso em jogos no Morumbi.

O Santos possui um único registro de dívida, no valor de R$ 98,11. Quem fez a denúncia foi o Hotel Di Giulio, localizado na Vila Tatetuba, em São José dos Campos.

Entre os 47 protestos contra o Grêmio, o segundo com mais dívidas registradas, estão quatro da Transrio Caminhões e Ônibus, nos valores de R$ 1.470,50, R$ 1.158,02, R$ 155 e R$ 284,04.

A maioria data de 2014. Os mais recentes foram registrados em julho de 2017, feitos pela Oldoni Sports, empresa de malhas. No total, são R$ 5.846,87 em dívidas.

Segundo a empresa, os débitos são referentes a produtos da linha retrô vendidos na loja oficial do clube. A fornecedora afirma que eventualmente o clube fica sem pagar alguns títulos, mas que depois de um tempo o pagamento costuma ser efetuado.

A Higiton, especializada no comércio de produtos de higiene, também registrou dívida do clube tricolor, no valor de R$ 1.871,03, datada de junho de 2016. A Banmed Distribuidora de Produtos Hospitalares cobra oito dívidas de R$ 5.175 cada, totalizando uma cobrança de R$ 41,4 mil.

Já o Fluminense ficou com a maior dívida em grande parte por causa de cobrança de R$ 1,475 milhão registrada pelo Ypiranga-BA pela compra do lateral Maranhão -a briga está na Justiça.

Flamengo e Botafogo têm, entre outros, débitos com a empresa Koleta Ambiental, especialista em coleta de lixo. Já o Vasco é cobrado por uma empresa de aluguel de jogos eletrônicos.

Entre os protestos contra o Inter estão o de uma empresa que faz serviços de desentupir privadas e dedetizar ambientes contra insetos e de uma empresa de embalagens.

OUTRO LADO

O Corinthians afirmou que pagou 25 dos 53 protestos registrados, mas ainda não recebeu a carta de anuência (documento em que o credor reconhece que a dívida foi paga) para dar baixa de todos no cartório. O clube diz ter recebido dez cartas de anuência e aguarda a chegada de outras 15.

A agremiação ainda menciona caso de uma empresa que entrou em falência, razão pela qual não há como receber a carta de anuência.

O Corinthians acrescenta que, dos 28 protestos que ainda estão por pagar, alguns são contestados na Justiça. É o caso de protestos de ao menos três empresas.

O Santos, por sua vez, afirma que "adotará providências imediatas acerca do único apontamento encontrado em seu nome".

O Botafogo afirmou que "está providenciando o completo levantamento junto aos cartórios, para verificação da procedência de tais anotações e, consequentemente, a regularização de eventuais débitos".

O Flamengo apontou que quatro das 11 dívidas em nome do clube estão prescritas e outras três estão em discussão na Justiça. Em outro caso, o clube afirma não ter comprovação de que o serviço cobrado foi prestado. A agremiação afirma que pagou outros dois débitos, mas ainda não conseguiu a carta de anuência, para dar baixa nos protestos. Por fim, diz que irá verificar do que se trata o último débito.

Grêmio, Internacional, Fluminense, Vasco e São Paulo foram procurados, mas não responderam até o fechamento desta edição.

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