O traço dominante na campanha do Marrocos para sediar a Copa do Mundo de 2026 parece ser o de que ninguém fala a respeito dela.

Em contraste com a candidatura conjunta de Estados Unidos, México e Canadá - anunciada em agosto do ano passado, no topo da Freedom Tower, em Nova York-, Marrocos revelou sua participação na disputa por meio de um comunicado de duas sentenças. Passados cinco meses do anúncio, os dirigentes do futebol marroquino acrescentaram pouquíssimos detalhes sobre como propõem organizar o evento esportivo.

Faltam cinco meses para que a Fifa selecione o país organizador do Mundial de 2026, e Marrocos só apontou um presidente para seu comitê organizador em dezembro. A campanha marroquina lançou na última terça (23) um logotipo oficial e ainda não apresentou os estádios que poderão receber o evento.

No passado, os comitês organizadores costumavam ter todas essas necessidades básicas resolvidas um ano antes da votação do comitê de seleção, e os dirigentes do comitê organizador teriam começado ainda mais cedo a realizar viagens de campanha.

Diversos dirigentes do futebol marroquino se recusaram a falar sobre os planos.

Os rivais do Marrocos, enquanto isso, estão meses à frente. O comitê organizador multinacional, com 14 integrantes e uma equipe executiva de quatro pessoas, já reduziu a lista de 41 cidades candidatas a sediar partidas.

Os três países determinaram há muito tempo o número de partidas que cada um sediaria. O planejamento extensivo e o plano da Fifa para expandir a 48 o número de nações participantes da Copa do Mundo levam os países norte-americanos a serem considerados como favoritos.

Os dirigentes do futebol marroquino asseguram que o país dispõe dos recursos necessários para sediar a Copa. Agora que o rei Mohammed 6º nomeou Moulay Hafid Elalamy, ministro marroquino da Indústria, para dirigir a campanha, eles dizem que seus esforços não demorarão a ganhar visibilidade.

Mas não surgiram muitas informações públicas sobre os planos. O país não aproveitou a Copa Africana de Nações, último torneio internacional a ser realizado antes que a Fifa tome a decisão, para divulgar sua candidatura.

Marrocos contratou a Vero Communications, de Londres, para ajudar a formular a estratégia de comunicação. A Vero ajudou o Qatar a conquistar a Copa de 2022.

COMPETIÇÃO

Os candidatos da América do Norte contam com vantagens, entre as quais estádios, hotéis e infraestrutura já prontos, bem como promessas de bater recordes de receita. Mas, dada a natureza da votação, Marrocos pode se provar um oponente mais difícil do que se prevê.

Para conquistar o direito, o país precisa convencer os líderes de 211 federações de que merece o encargo.

Em reunião de conselho da CAF (Confederação de Futebol Africana), Marrocos propôs bancar custos de treinamento, viagens e projetos de estádios em alguns dos 54 países africanos membros da Fifa. Artur Almeida e Silva, presidente da federação angolana, descreveu a motivação do Marrocos como altruísta.

"A oferta não deve ser entendida como escambo", disse Almeida e Silva, que previu que a maioria dos países africanos votará no Marrocos.

Os funcionários da confederação africana realizarão reunião para decidir se vão endossar Marrocos como bloco. O presidente, Ahmad Ahmad, afirmou no último dia 12 que era "legítimo" que o torneio retornasse à África.

A melhor esperança de Marrocos pode ser um estímulo involuntário de Donald Trump. Um dos primeiros atos de Trump como presidente foi assinar proibição de entrada de cidadãos de sete países majoritariamente muçulmanos -diversos dos quais localizados na África- nos Estados Unidos. Ele recentemente foi acusado de comentários derrogatórios sobre imigrantes da Nigéria e de outros países pobres.

Tradução de PAULO MIGLIACCI