Árbitro de vídeo no Brasil teria o custo mais caro do mundo

Parte do valor de R$ 20 milhões é causado pelas distâncias entre as cidades

Testes da arbitragem de vídeo feitos pela CBF em Águas de Lindoia (SP)
Testes da arbitragem de vídeo feitos pela CBF em Águas de Lindoia (SP) - Bruno Santos - 26.set.2017/Folhapress
Eduardo Geraque
São Paulo

A conta para implantação do árbitro de vídeo apresentada pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) aos clubes da Série A do Campeonato Brasileiro é a mais cara entre os campeonatos nacionais onde o sistema entrou em operação ou vai começar a ser usado na temporada 2018.

Em 2017, Portugal, Itália, Alemanha e Estados Unidos adotaram de forma sistemática a tecnologia em suas ligas locais. A Holanda usou na sua copa nacional. A Austrália fez ​testes em alguns jogos.

De acordo com a CBF, para implantar o sistema de análise de jogadas por meio de replays em todas as cidades da Série A do Brasileiro o custo é de R$ 20 milhões, divididos em R$ 1 milhão por clube. O valor foi considerado alto pelos dirigentes dos times, que vetaram a implantação da tecnologia em 2018.

Em termos de custo, a conta em avaliação na Espanha, que deve implementar o sistema de vídeo após a Copa do Mundo no Nacional de 2018/19, é a mais próxima do Brasil até agora.

O país ibérico tem dimensões parecidas com o Estado de São Paulo e conexões radiais, a partir de uma central que seria feita em Madri, onde está a federação local.

As estimativas do custo da operação no campeonato da Espanha, segundo a Folha apurou, indicam um valor entre R$ 10 milhões e R$ 12,5 milhões para todo o funcionamento do sistema ao longo do primeiro ano. O que geraria um custo de R$ 625 mil por equipe, contra R$ 1 milhão que seriam gastos pelas agremiações do Brasil.

O valor é um pouco superior ao que deve ser gasto pela federação chinesa, que também pretende instalar o assistente de vídeo em 2018.

No Oriente, o custo total estimado de quase R$ 10 milhões, se fosse dividido pelos 16 times do país, renderia uma despesa de R$ 606 mil para cada um deles.

Ao contrário do Brasil, nenhum país do mundo que usa ou vai usar o sistema anunciou que repassará os custos para os times.

As ligas, por entenderem que a tecnologia é um custo do campeonato, e não dos times, pagam a conta sozinhas.

Na prática, não deixa de ser um pagamento indireto feito pelos clubes de Portugal, Espanha e Itália, por exemplo, onde as ligas são geridas e custeadas pelas próprias agremiações.

As estimativas da CBF só ficam atrás da fatura paga pela Conmebol no ano passado. Para as duas semifinais e as duas finais da Copa Libertadores, a entidade sul-americana desembolsou R$ 82,5 mil por partida realizada. No Brasileiro, a divisão por jogo resultaria em R$ 26,3 mil.

CUSTO BRASIL

Especialistas ouvidos pela reportagem, que preferiram não se identificar, não se surpreenderam com as cifras apresentadas para o Brasil.

Uma das justificativas para o alto custo da operação é a dimensão do país. Por causa do tamanho do Brasil, seria inviável construir uma única central de vídeo ligada por meio de cabos de fibra óptica com todos os estádios da Série A. O cabeamento é fundamental para que as imagens dos lances trafeguem rapidamente, evitando assim demora nas análises dos replays.

Por causa disso, a CBF tende a optar por salas de comando em estádio da Série A.

Nestes locais seria preciso montar uma central ligada por cabo de forma permanente ao sistema da TV Globo, empresa geradora das imagens e detentora dos direitos de televisão dos jogos do Campeonato Brasileiro.

Em países menores, como Portugal, onde o custo do sistema saiu por volta de R$ 3 milhões na temporada passada, existe uma única central, na região central do país.

Todos os estádios são conectados ao prédio da Liga Portugal, em Lisboa. Há outra diferença em relação ao Brasil. Em Portugal, a liga é a responsável por gerar as imagens, produzir a transmissão das partidas e vender os direitos de transmissão.

Por isso, a central de arbitragem pode ser instalada onde ocorre a recepção das imagens dos jogos de todo o país. No Brasil, como não houve entendimento entre CBF e Globo, a central de árbitro de vídeo ficaria em outro lugar.

PREÇO DE MERCADO

De acordo com a CBF, os custos da implantação do árbitro de vídeo para o Campeonato Brasileiro está de acordo com mercado internacional.

A entidade informa que "as empresas especializadas e atuantes no mercado fizeram seus orçamentos baseadas no escopo completo do projeto, que inclui uma longa lista de ações".

Foram orçadas, segundo a CBF, todas as viagens necessárias para a operação da tecnologia dentro de um "país continental como é o Brasil" até todas as intervenções que vão ser feitas em cada um dos estádios da Série A.

Parte das estruturas, segundo as empresas, precisam ser montadas e desmontadas jogo a jogo.

Até mesmo questões aduaneiras, para importação dos equipamentos eletrônicos que serão usados, entraram nos cálculos feitos pelas empresas consultadas.

A CBF não nomeou os grupos que apresentaram os orçamentos.

Ao contrário de países menores, como Portugal e Espanha, o Brasil não teria uma central nacional única para o processamento das imagens dos lances. O plano seria usar cabines de transmissão em cada um dos estádios, segundo ainda a CBF.

Porém, havia o temor de que os árbitros de vídeo fossem pressionados por dirigentes ou pela torcida local.

Na reunião no início do mês na CBF, 12 times foram contra o pagamento para implementação do sistema. América-MG, Atlético-MG, Atlético-PR, Ceará, Corinthians, Cruzeiro, Fluminense, Paraná, Santos, Sport, Vasco e Vitória votaram contra o desembolso de R$ 1 milhão, quantia que caberia a cada um dos times se o custo total fosse rateado.

Bahia, Botafogo, Chapecoense, Flamengo, Grêmio, Internacional e Palmeiras votaram a favor da implantação do sistema no 2º turno. O São Paulo não votou. O presidente Carlos Augusto de Barros e Silva deixou a reunião antes do final.

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