Dueto norte-coreano brilha e mira feito na Olimpíada de Inverno

Atletas foram os primeiros de seu país a faturar um ouro na elite na patinação

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Kim Ju-sik (à esq.) e Ryom Tae-ok em treino antes do início da Olimpíada de Inverno
Kim Ju-sik (à esq.) e Ryom Tae-ok em treino antes do início da Olimpíada de Inverno - Felipe Dana/Associated Press
Gustavo Longo
PyeongChang

Após treinarem com o canadense Bruno Marcotte em 2017, Ryom Tae-ok e Kim Ju-sik se converteram na principal referência em esportes de inverno da Coreia do Norte.

Acostumado a receber atletas durante o verão no hemisfério norte (junho a setembro) na pista de gelo onde trabalha em Montreal, no Canadá, Marcotte ouviu um pedido inusitado após o Mundial de patinação artística no gelo de 2017, na Finlândia.

A dupla Ryom Tae-ok e Kim Ju-sik, da Coreia do Norte, queria treinar com ele para aprimorar a parte técnica de suas apresentações.

Seis meses após a experiência no Ocidente, os norte-coreanos cresceram na patinação artística no gelo.

Agora, eles chegam a PyeongChang não apenas como convidados pela diplomacia, mas também como competidores capazes de surpreender os rivais nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018.

Ryom Tae-ok e Kim Ju-sik formam uma das 22 duplas inscritas na categoria pares da patinação artística na Olimpíada cuja abertura foi realizada nesta sexta (9).

Além do treino em Pyongyang, capital da Coreia do Norte, eles ficaram oito semanas sob orientação de Marcotte.

Ex-patinador, ele é casado com Meagan Duhamel, bicampeã mundial nos pares tanto em 2015 quanto em 2016 ao lado de Eric Radford.

O período coincidiu com o aumento de tensão entre a Coreia do Norte e EUA, principalmente com o recrudescimento das trocas de acusações entre o ditador Kim Jong-un e Donald Trump, presidente norte-americano.

Para evitar distrações, Marcotte adotou uma medida para manter o foco dos patinadores. Nunca conversamos sobre política, disse à Folha.

Em vez de falar sobre assuntos polêmicos, os patinadores e o treinador conversavam sobre a única coisa que tinham em comum: a patinação artística no gelo.

O trabalho começou em julho e se estendeu até meados de setembro de 2017. Além de Marcotte, o dueto norte-coreano também teve orientações da irmã dele, Julie, coreógrafa e treinadora de patinação.

Com ajuda ocidental, Ryom Tae-ok e Kim Ju-sik evoluíram rapidamente.

Se no Mundial realizado em abril de 2017 eles terminaram na 15ª colocação, com 169.65 pontos na somatória de suas notas, no Troféu Nebelhorn, em setembro, eles ficaram na sexta colocação com 180.09 pontos no total.

Em janeiro de 2018, os norte-coreanos conquistaram o bronze no Four Continents, torneio que reúne os principais patinadores da América, Ásia, África e Oceania, que perde em importância somente para os Jogos Olímpicos de Inverno e o Campeonato Mundial. Foi a primeira medalha da Coreia do Norte em uma competição de elite na patinação artística.

Não é uma surpresa porque após passar oito semanas com eles eu sabia do potencial. Então, era o que eu esperava, realmente, prosseguiu o treinador canadense da dupla.

A dupla compete no programa curto (fase eliminatória) às 23h (de Brasília) na terça (13). Se ficar entre as 16 melhores, avança ao programa longo (fase final), que ocorre no dia seguinte às 23h30 (de Brasília).

Dos 22 atletas norte-coreanos que foram convidados a participar dos Jogos Olímpicos de PyeongChang, os dois patinadores foram os únicos que obtiveram índice técnico para a competição.

A sexta posição no Troféu Nebelhorn, na Alemanha, assegurou uma das cinco vagas olímpicas disponíveis.

Contudo, por razões ainda não esclarecidas, a federação norte-coreana de patinação não enviou a documentação necessária à ISU (União Internacional de Patinação) para confirmar a vaga da dupla.

Assim, a cota conquistada por Tae-ok e Ju-sik acabou repassada ao Japão. Não [sei o que houve], tudo o que converso com eles é sobre patinação e como eles podem melhorar, comentou Marcotte.

Na virada do ano, contudo, Kim Jong-un divulgou uma surpreendente mensagem anunciando o interesse em competir nos Jogos Olímpicos de PyeongChang.

Uma atitude inesperada e que serviu para abrir o diálogo entre os governos da Coreia do Norte e do Sul.

A partir daí, os patinadores recomeçaram sua caminhada olímpica, agora por vias diplomáticas. A ISU, órgão máximo da patinação, deixou a decisão nas mãos do COI (Comitê Olímpico Internacional), que por sua vez sempre demonstrou interesse na participação norte-coreana nos Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang.

Com a costura, Ryom Tae-ok e Kim Ju-sik conseguiram novamente a vaga no evento. Eles estão física e mentalmente prontos. A posição é difícil dizer, mas realmente espero que conquistem a melhor pontuação de suas carreiras, concluiu Marcotte.


REGRAS DA PATINAÇÃO ARTÍSTICA

A patinação artística no gelo é uma modalidade em que o atleta se apresenta executando saltos e piruetas ao som de uma música

Os juízes avaliam todos os elementos e dão notas de 0 a 10 para as apresentações

Os competidores são avaliados por elementos técnicos (saltos e piruetas) e artísticos (música, coreografia e figurino)

A nota final é a somatória de duas apresentações

1. Programa curto

Duração: 2min30

Os atletas devem exercer os movimentos requeridos

2. Programa longo

Duração: 4min (mulheres) e 4min30 (pares e homens)

Os patinadores montam suas apresentações, devendo constar saltos e giros, além de uma atenção especial dada a coreografia e interpretação

Dança no gelo

Há ainda a categoria "dança no gelo", em que os atletas também se apresentam em pares. Nessa categoria, no entanto, não são permitidos saltos, piruetas ou levantamentos sobre a cabeça. As apresentações são avaliadas apenas por critérios artísticos

Patinação artistica

NA TV

Olimpíada de Inverno

(a partir de 8h) SporTV 2 e 3

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