Irritados com pena, torcedores russos fazem barulho na Olimpíada

Por causa de doping, atletas não podem usar bandeira nem ouvir hino do país

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Torcedor russo festeja com a bandeira do país durante uma partida de hóquei masculino disputada contra os EUA, nos Jogos de Inverno de PyeongChang
Torcedor russo festeja com a bandeira do país em partida de hóquei masculino disputada contra os EUA, nos Jogos de Inverno de PyeongChang - Chang W. Lee/The New York Times
David Segal
PyeongChang | The New York Times

Eles acenam com grandes bandeiras onde se lê “máquina vermelha”. Pintam o rosto com as cores da bandeira do país ou a desenham nos cabelos. Torcem em grupo, usando camisas e cachecóis combinados, e gritam “Rús-si-aaa” em uníssono.

Legiões de torcedores russos vieram à Olimpíada de Inverno de PyeongChang oferecendo uma resposta enfática a quem acreditasse que a descoberta do esquema estatal de doping nos Jogos de Sochi-2014, que levou à exclusão do país e de dezenas de atletas russos da Olimpíada deste ano, tivesse causado embaraço ou desânimo.

“Nossos atletas são como todos os outros atletas”, disse Viacheslav Shksarin, morador de Vladivostok, Rússia, que estava domingo à noite no Centro de Biatlo de Alpensia, usando um chapéu alto de pele conhecido como papakha. “Para nós, o que aconteceu aqui foi muito injusto. Estamos zangados”, afirmou.

Até agora, os atletas russos não conquistaram nenhum ouro. Desempenho inferior ao dos Jogos de Sochi-2014. Naquela ocasião, até o 11º dia de Olimpíada, a Rússia já havia conquistado cinco medalhas de ouro, e 18 no total. Até a mesma data, em PyeongChang, os atletas russos conquistaram 11 medalhas.

Mas você não encontrará na torcida russa qualquer pessoa que culpe os atletas ou o governo do país. Em lugar disso, os torcedores culpam o COI (Comitê Olímpico Internacional), que proibiu a participação dos melhores competidores russos e que eles veem como corrupto.

Há torcedores que admitem que alguns atletas do país talvez usaram doping. Mas mais de 160? Eles querem provas. O testemunho do antigo diretor do laboratório antidoping de Moscou e as duas investigações, uma pela Wada (Agência Mundial Antidoping) e outra pelo COI, não os convencem.

“Ninguém nos conta o que houve”, disse Andreri Savinov, 53, morador de Moscou, enquanto esperava a largada do biatlo, prova na qual a Rússia enfrentava problemas de doping até antes de 2014. 

Savinov e seus compatriotas estão apoiando uma delegação conhecida oficialmente como Atletas Olímpicos da Rússia, em uma Olimpíada na qual o uso da bandeira e do hino russos foram proibidos nos locais de disputa.

Essas e outras restrições foram impostas depois que uma investigação determinou que a Rússia operou o que talvez tenha sido a mais ambiciosa conspiração de trapaça atlética na história do esporte: um programa estatal de doping para fornecer aos atletas substâncias que melhorariam seu desempenho, acompanhado por contramedidas a fim de ajudá-los a escapar de testes antidoping. O presidente russo Vladimir Putin nega as acusações.

Os esforços produziram resultados notáveis nos Jogos de Sochi, onde a Rússia conquistou 29 medalhas, entre as quais 11 de ouro, o maior total entre os países participantes. Quatro dessas medalhas foram posteriormente canceladas devido a violações das regras de doping.

Como muitos torcedores russos, Savinov estava vestido de forma a expressar sua indignação. Usava um chapéu da Olimpíada de Sochi e uma jaqueta vermelha e branca com as letras RU na frente. Em uma manga, um emblema dizia “equipe olímpica russa”. Perto dele, uma mulher acenava com uma imensa bandeira de tema russo, com a efígie de um urso.

A bandeira russa é um objeto que os atletas tomam cuidado para evitar. Ilia Kovalchuk, estrela da equipe de hóquei, ao que se sabe vem pedindo a torcedores que desejam uma foto com ele que escondam temporariamente suas bandeiras. Ele e os demais atletas russos concordaram em não realizar protestos, e até mesmo aparecer em uma foto com alguém que carregue uma bandeira russa poderia ser interpretado como violação desse compromisso.

Nas arquibancadas essas restrições não se aplicam e os torcedores russos talvez sejam o grupo mais visível em PyeongChang, excetuados os sul-coreanos, donos da casa.

Como ocorreu no jogo de hóquei sobre o gelo masculino contra os EUA, no sábado (17), em que torcedores russos ocuparam as arquibancadas atrás dos gols, em uma massa azul e vermelha. Muitos mostravam os dizeres “Rússia no meu coração” e cantavam canções folclóricas.

É difícil identificar se eles são “torcedores” verdadeiros ou parte de um grupo patrocinado enviado —pelo governo ou por oligarcas que apoiam os esportes olímpicos— a fim de representar o país e a exibir as bandeiras russas pelas instalações olímpicas.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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