Jogos de Inverno de Pyeongchang sofrem com ausência de público

Organizadores enchem as arenas com estudantes e doando ingressos a voluntários

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Prova de esqui slalom com cadeiras vazias nas arquibancadas de arena em Pyeongchang
Prova de esqui slalom com cadeiras vazias nas arquibancadas de arena em Pyeongchang - Doug Mills/The New York Times
Tariq Panja
PyeongChang | The New York Times

Nos últimos dias, Sung Baik-yoo, o porta-voz do comitê organizador da Olimpíada de Inverno de 2018, vem concedendo entrevistas coletivas, por volta das 11h, para atualizar os jornalistas quanto à venda de ingressos para os Jogos. E a cada dia, as notícias são um pouco mais positivas do que no dia anterior.

Na quinta (15) , Sung disse que os organizadores estão a 1% da meta de vender 90% dos ingressos para os jogos, o que equivaleria a cerca de um milhão de entradas. Mas nos locais de competição em Pyeongchang, das pistas de esqui no polo dos esportes de montanha aos ginásios de esportes no gelo do Parque Olímpico, a história parece muito diferente dos pronunciamentos de sucesso de Sung.

Fileiras e mais fileiras de assentos azuis vazios vêm sendo um pano de fundo constante em muitas das disputas, a despeito dos esforços dos organizadores para ocupar os vazios fornecendo aos voluntários dos Jogos os chamados "ingressos paixão", que permitem que assistam às competições. Eles também estão trazendo grandes grupos de estudantes para assistir às provas.

Até agora, os torcedores que chegam em cima da hora para as provas, excetuados os esportes mais populares, não estão encontrando dificuldade para comprar ingressos.

Peter Skinner, australiano radicado em Bancoc que veio da Tailândia para assistir aos Jogos, disse que se arrependeu de ter adquirido ingressos meses antes do início da olimpíada.

"Nunca mais compraremos ingressos com antecedência", disse Skinner, ao entrar com a mulher no ginásio de hóquei para a primeira rodada do torneio masculino. Uma modalidade que os dois aguardavam com ansiedade era o esqui downhill, que, como diversas outras disputas de esqui, foi adiada devido ao tempo ruim. Em vez disso, eles optaram por assistir à patinação artística.

"É triste, está tudo meio vazio", ele disse sobre o público escasso nas modalidades a que assistiu.

E não foram só os espectadores que perceberam. Aksel Lund Svindal, o norueguês que ganhou o ouro na prova de esqui downhill masculino na quinta-feira, descreveu como "meio estranha" a sensação de concluir sua descida diante de uma arquibancada vazia.

O baixo comparecimento pode ser atribuído em parte ao fato de que a Coreia do Sul não tem uma cultura de esportes alpinos. O país só obteve sucesso em duas modalidades na Olimpíada de Inverno: a patinação de velocidade e a patinação artística.

Em Jogos Olímpicos realizados em outros países, torcedores locais lotaram os locais de competição para assistir aos esportes que não conheciam, apenas para tomar parte da experiência olímpica. No sábado (10), as arquibancadas estavam quase lotadas durante a prova na qual Lim Hyo-jun garantiu o ouro para a Coreia do Sul na patinação de velocidade, mas modalidades menos populares estão sendo disputadas diante de públicos muito pequenos.

"Se essa prova estivesse sendo realizada na Itália, Áustria, Noruega ou Suécia, haveria 50 mil pessoas assistindo", disse Svindal. Ele afirmou que era justo acrescentar que os noruegueses dificilmente lotariam uma arena para ver uma prova de patinação de velocidade em pista curta, como aconteceu em Pyeongchang, mas disse que gostaria de ter conquistado a medalha com atmosfera mais festiva. " É meio triste", afirmou.

Assentos vazios não são problema que se restrinja aos Jogos de Pyeongchang. Os organizadores das duas últimas olimpíadas --a do Rio de Janeiro em 2016 e os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, dois anos antes-- também se viram questionados quando imagens de locais de competição com muitos assentos vazios chegaram às telas dos televisores de todo o mundo.

Nos dois casos, a culpa pela baixa ocupação foi atribuída aos ingressos reservados para os atletas e os patrocinadores. Os organizadores estão fazendo a mesma coisa, aqui. "Constatamos que esses são os assentos vazios", disse uma porta-voz do comitê organizador de Pyeongchang, embora seja pouco provável que essa seja a única explicação. Os organizadores continuam a fazer publicidade dos Jogos e estão encorajando os torcedores a adquirir ingressos diretamente nos locais de competição.

A tensão política intensificada entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos, nos meses que antecederam os Jogos, não ajudou as vendas. Menos de seis meses antes da abertura da Olimpíada, o presidente Donald Trump ameaçou a Coreia do Norte com "fogo e fúria", em resposta a uma série de testes de mísseis daquele país. A fronteira pesadamente armada entre as duas Coreias fica a cerca de 65 quilômetros do local dos Jogos.

Problemas ocasionais com bilhetes e transportes também levaram alguns espectadores a chegar aos locais de disputas apenas depois que os eventos haviam começado.

Na quarta (14), um jogo de hóquei sobre o gelo feminino entre a seleção unificada da Coreia e o Japão já estava na metade do primeiro período quando Jewell Hatton, da Pensilvânia, que estava tentando assistir à partida, foi informada por um atendente de que seu ingresso não era válido e que ela teria de se mudar.

"Isso aconteceu também na noite de ontem", disse Hatton.

Os organizadores disseram que havia sido necessário reemitir alguns ingressos porque a mídia havia solicitado mais espaço.

A presença de grupos de estudantes sul-coreanos vem sendo comum em diversas disputas. Eles são trazidos de ônibus para assistir aos Jogos, como parte de um programa do Ministério da Educação para educar os jovens sobre os esportes de inverno.

Eles também servem muito bem para ocupar os assentos vazios. Em uma recente partida de hóquei, um grupo de estudantes estava fotografando avidamente a equipe feminina de cheerleaders que a Coreia do Norte enviou aos Jogos.

Também existe um programa para que os voluntários olímpicos ocupem os lugares vagos. Eles precisam tirar seus uniformes para que não sejam identificados e, se um espectador pagante chegar, podem ter de deixar o assento.

"Esperamos também que tudo isso ajude a melhorar a atmosfera nos locais de competição para que os atletas possam ter seu melhor desempenho", disse um porta-voz do comitê organizador dos Jogos de Pyeongchang.

Alguns torcedores estrangeiros que não encontraram muitas alternativas de transporte também estão repensando se assistirão a provas realizadas tarde da noite. Os organizadores têm ônibus operando até alguns locais centrais, mas depois disso os torcedores precisam se virar sozinhos, e a temperatura está congelante.

"Tive de ligar para o cara do hotel em que estamos para que ele viesse me pegar", disse Skinner, o torcedor australiano radicado em Bancoc. Ele afirmou ter visto espectadores pedindo carona a voluntários e até a policiais.

Ele está hospedado a cerca de cinco quilômetros do local das competições --o que é perto, comparado a outros torcedores. Mas acrescentou que "é uma distância longa a caminhar quando a temperatura é de menos 15 graus".

Pelo menos uma atleta viu o relativo silêncio como vantagem. A biatleta alemã Laura Dahlheimer disse que precisa se concentrar ao disparar com seu rifle contra o alvo.

"Isso é melhor do que fazê-lo quando 50 mil pessoas estão gritando", ela disse.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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