Paulo Garcia diz ter mais credibilidade que rivais: 'Não falo bobagem'

Dono da Kalunga concorre pela terceira vez ao cargo de presidente do Corinthians

Diego Garcia
São Paulo

O candidato a presidente do Corinthians Paulo Garcia durante entrevista concedida para a Folha, na sede de sua empresa
O candidato a presidente do Corinthians Paulo Garcia durante entrevista concedida para a Folha, na sede de sua empresa - Fabio Braga/Folhapress

Paulo Garcia, 57 anos, vai tentar ser presidente do Corinthians pela terceira vez. Seria a quarta, não fosse uma desistência de última hora na última eleição, quando se aliou ao hoje adversário Roque Citadini.

"Na primeira vez que concorri eu estava um pouco afastado do clube. E agora o associado está mais propenso à minha eleição, tenho tido muitos apoios, por isso decidi ser candidato de novo. Acho que o clima mudou bastante", afirma Garcia.

O empresário é um dos donos da Kalunga, empresa que patrocinou o Corinthians de 1985 a 1994. No período, o clube foi campeão brasileiro pela primeira vez, em 1990. Agora, ele pretende assumir o time do coração para o ajudar a sair de uma situação financeira difícil.

"Precisa dividir o clube social, a base e a arena. São quatro planos diretores, um distinto do outro. São quatro coisas distintas que precisam convergir no mesmo local. Precisa remodelar todo o clube, fazer um projeto novo sabendo no que vai investir e aquilo que é viável. Escutar o sócio e debater com o Conselho", diz Garcia.

Em 2015, a Kalunga teve um faturamento de quase R$ 2 bilhões. E ele aposta no sucesso no ramo empresarial para ajudar o Corinthians a ajeitar as suas finanças.

O candidato chegou a ter sua candidatura impugnada sob a acusação de compra de votos na última segunda-feira (29), mas conseguiu uma liminar na Justiça que permitiu sua participação no pleito normalmente.

O candidato também aposta em investimentos no clube social como forma de vencer as eleições.

"Não tem nem pintura no clube hoje. A higiene dos banheiros é um absurdo nos finais de semana. Falta comando. Ali precisa reformar tudo para utilizar. Precisa de uma cara melhor, de um aproveitamento", afirma o candidato corintiano.

 

Você já se candidatou outras vezes. O que é diferente agora?

Na primeira vez, eu estava um pouco afastado do clube. E agora o associado está mais propenso na minha eleição, tenho tido muitos apoios, por isso decidi ser candidato de novo. Acho que o clima mudou bastante.

O perfil do sócio mudou?

Não muito, mas o sócio anda meio rebelde com coisas que não aconteceram. Na realidade, dentro do clube os últimos presidentes não eram frequentadores do clube, não teve investimento nenhum e revoltou muito essa questão

Quais os problemas do clube hoje?

Problemas que não tiveram evolução nenhuma. O clube ficou parado, sem manutenção, isso desagrada o associado em si.

A situação financeira não é das melhores. O que pensa de investimentos?

Primeiro, o que tem que ser feito é um plano diretor para 10, 15 anos. Viver o dia a dia não dá certo, você corre atrás de pagar a dívida que você arrumou. Antecipa contrato, vende por qualquer valor, aí não constrói nada. Precisa dividir o clube social, a base e a arena, são quatro planos diretores, um distinto do outro, são quatro coisas distintas que precisam convergir no mesmo local. Precisa remodelar todo o clube, fazer um projeto novo sabendo o que vai investir e aquilo que é viável, escutar o sócio e debater com o Conselho. O Conselho aprovando, tem que ser investido nisso.

Que tipo de investimentos são esses?

Pega a iniciativa privada, se puder fazer arena, um shopping, uma garagem de cinco andares, a garagem sei que pode, a arena é dúvida, pois existe um ginásio, mas se troca um pelo outro não tem problema. Então, se pode ter alguma iniciativa privada para fazer uma arena com shows e tudo, que o Corinthians tenha um percentual em cima disso e que depois fique tudo para o clube. O estacionamento a mesma forma, um shopping a mesma forma, que não vai perder área nenhuma. Tem um monte de ideias que podem ser feitas daqui para a frente, e isso é um negócio que demora, precisa debater para dar condições de uso.

Por onde começar?

Começar com algumas coisas básicas que não vão custar nada. Pegar algumas cuidadoras para resgatar os velhinhos no Corinthians. Você liga para fazer campanha, tem velhinhos perto do Parque São Jorge que dentro de casa não tem atividade. É resgatar esse pessoal com aulas de crochê, aulas de dança, hidroginástica, fazer um tour na Arena como ponto turístico de São Paulo, e daqui a pouco eles trazem os netos, os pais dos netos, os genros. Pega os sócios que gasta mil reais por ano, se traz três sócios, ele fica um ano sem pagar. Melhor três do que um, a luz é a mesma, água da piscina é a mesma, o bar vai ter mais gente e mais consumo, então de certa forma agrega algo nesse primeiro instante e faz um clube bem feito e organizado, estudado. Hoje, não vi, mas o desperdício de energia elétrica no clube é muito grande. As contas de luz são muito caras, pois o clube é mal direcionado. Aquilo dá para reduzir e pagar 30% a menos do que paga hoje.

Quanto gasta hoje de luz no clube?

R$ 300 mil. Pois quando acende refletor, acende à noite, mas aquilo precisa ser distribuído. A energia é perdida, os cabos precisam ser maiores, tem fio perdido, então precisa de um planejamento de ver fuga de corrente, fazer isso. Se economiza R$ 200 mil por mês, no ano são R$ 2,4 milhões. O clube é grande, fica toda hora aceso, acende tudo. Até para ligar energia. Nas lojas da Kalunga, quando liga a energia você não percebe, mas são vários. Se acende tudo de uma vez, a chupada de energia é absurda. Tem Led, mercúrio, vai nas quadras de tênis, não tem nada disso, é muito desperdício porque o planejamento é zero. Pessoal fala de compliance, mas nem sabe o que é. Não sabem que é uma norma para tudo, precisa de pessoas capazes para fazer aquela função, não tem que ser porque é amigo, é tipo pedir para apanhar em uma briga. Não tenho compromisso com ninguém, só com Flávio Adauto e Emerson Piovezan. Muita gente competente no clube, como o Lúcio na Arena, a Nancy. Pessoal fala que vai mandar todo mundo embora, é um absurdo. A situação não é bem assim. Evidentemente precisa trocar, mas não é bem assim

Qual a maior necessidade do sócio?

Ter um clube que dê para usar, onde o sócio se sinta bem. Não tem nem uma pintura no clube hoje. A higiene dos banheiros no sábado e domingo, de manhã está limpo, depois, se entra no banheiro é um absurdo no fim do dia. Falta comando, ali precisa reformar tudo para poder utilizar. Não adianta por dinheiro bom naquilo que não pode fazer. Precisa de uma cara melhor, o aproveitamento é melhor, tem um monte de situações que podem dar uma compactada e ficar um baita de um clube.

Tem conversas com empresas para shows na Arena?

Tive na época passada, agora não procurei ninguém. Dentro da Europa e Estados Unidos existem empresas especializadas apenas nisso, que administram as grandes arenas e fazem um grande trabalho. Não adianta inventar a roda. Precisa conversar para ver se é viável.

Os dois principais rivais, Palmeiras e São Paulo, trazem muitos shows aos seus estádios, Allianz e Morumbi, respectivamente. O que acontece que o Corinthians não faz o mesmo com sua arena?

Falam que um problema é a questão do gramado. Que é irrigado por baixo e aquecido de acordo com a temperatura. O do Palmeiras vira um pasto e vai jogar muito fora por causa do gramado, jogou lá com o campo ruim. A Arena precisa ser movimentada 24 horas por dia, fazer eventos, feira, mas para isso precisa de empresas especializadas. Se tem quem já faz, por que vou tentar fazer isso? Até o negócio começar a funcionar é difícil. Achando empresas especializadas, com uma receita boa, por que não?

O contrato com a Arena manda a receita direto para o fundo. Como resolver isso?

A questão é que vou pedir 90 dias para rever todos os contratos, com Nike, Globo, não sei o teor. Fizeram uma auditoria com 200 milhões de reais que a Odebrecht não cumpriu, não sei se isso procede. Eu só escuto falar. Precisa pegar gente especializada, advogados, para ver exatamente o que é e negociar com eles. Ir à Justiça só em último caso, debater em cima de fatos, não de tese. Falaram hoje de dar CIDs para a Caixa e dar tchau para a Odebrecht, não é assim, precisa debater. Falam da OMNI, SPR, mas não sei como é. Preciso ver os contratos. É um negócio que precisamos debater para ver.

A OMNI é outro ponto delicado, que leva uma porcentagem grande do sócio-torcedor. O que acha disso?

Não sei se é verdade, mas para mim, sou independente. Só vejo o lado bom do clube. Aquilo que for bom para o clube eu apoio, se for ruim, converso com o presidente, que tem o poder de decisão. Muita gente prefere apagar a estrela dos outros a levantar a sua. Ninguém quer se juntar, falam que é tudo ladrão, Lava Jato, impeachment. Os adversários estão fora do Corinthians, acabou estão todos juntos, lá é inimigo político, não é adversário. Só quem perde com isso é o Corinthians. Vai pegar patrocínio, o cara pula fora, não quer estar envolvido em Lava Jato e tudo isso. O pior é o boato. Quando teve o impeachment do Roberto, colocou o Flávio lá, acalmou tudo, é questão de colocar pessoas certas no lugar certo e profissionalizar.

Falta transparência ao clube hoje?

Isso de fazer reunião pela internet não existe. E também não vou dizer que vou fazer um acordo de transparência e mostrar os contratos, isso não pode, existe sigilo e confidenciabilidade. Posso por os macros, receita de publicidade X e Y, folha de pagamento X, não posso chegar lá e falar que aquele jogador ganha isso. É um absurdo, quero fazer transparência de receitas e despesas, aí sim sabe até onde vai o contrato, mas valores não pode notificar. Tem um monte de situações que não podemos falar que vai fazer isso e aquilo pois não sabe a dificuldade que tem. Precisa ver se está errado, se contratos foram mal feitos ou não.

O clube está dividido?

Muita gente e muito dono da verdade. É um absurdo, uma falta de percepção das coisas muito grande.

Como resolver as questões dos naming rights?

Antes de fazer qualquer coisa temos que ter os contratos em mãos para avaliar. Depois disso, é preciso negociar com todas as partes e ver o melhor caminho para o Corinthians. om a inauguração, o estádio perdeu uma chance de negociá-los. O Brasil passou por crise, precisamos pensar nisso, mas é possível vendê-los, com adequação de mercado, e fechar isso assim que possível.

Como será sua relação com as organizadas?

Não tenho problemas com elas. Fui um dos fundadores de uma das organizadas (Gaviões da Fiel). Sempre estive junto às organizadas e não tenho nenhum problema. Cobram quando precisam cobrar. Vamos ter uma relação amigável

A Kalunga pode voltar a patrocinar o clube?

A Kalunga não pode patrocinar por causa do estatuto, que não permite nenhuma relação comercial com conselheiros. Hoje, para a gente fazer, fica igual nepotismo, falam que você não está pagando, não vale a pena, o desgaste é maior. Quando você põe uma marca é para ela crescer, e não ficar o questionamento. Colocando a Kalunga, hoje, fica ruim. Foi permitido no futebol society, todo ano nós patrocinamos. Isso acaba fazendo e é aprovado. Um absurdo o que fizeram. O cara não pode comprar na Kalunga, pois tem um sócio. Acho o contrário, se ele é conselheiro, igualdade de condições, todo mundo está de olho nele. Sabe o que fazem? Fazem por terceiros. Dá para outro, que aí vende. É um absurdo. Isso tem que ser tirado do estatuto.

Ainda dá para tirar?

Depende dos conselheiros para tirar, mas acho muito difícil tirar, pois o pessoal parte do pressuposto que o cara é bandido no Brasil. Nos Estados Unidos, partem do pressuposto que o cara é sério. Aqui, você tem crédito se não for caloteiro. Lá, você vai pagando em dia e ganhando bônus. No Brasil, todo mundo acha que o outro é bandido. É uma falsa moralidade. Precisa saber negociar. Ter 100% da base é o melhor dos mundos. Precisa respeitar os contratos que tem agora, cada caso é um caso. O cara aparece com o Neymar lá, com o Messi, faz o que? Não quer porque é 100%? Não existe, precisa saber negociar. Não pode se endividar e dar parte de jogador a empresário. O Fernando, meu irmão, foi isso. Você sabe da história?

Pode falar.

O Fernando foi multado no imposto de renda. Acontece que teve um ano que o Andrés foi falar comigo e com o Beto. O Fernando estava com depressão, e meu pai lá no Noroeste, e o Fernando não entende muito bem de futebol, não tem paciência. E aí chegou o Andrés aqui, não tinha dinheiro para pagar a folha salarial e queria R$ 6 milhões, devolveria dia 28, nessa mesma época (dezembro). Eu falei que estava fora, não queria me envolver. Ele disse 'ninguém fica sabendo'. Tem como isso? Fernando ligou ao Beto por outra coisa. Disse que tinha o dinheiro, bateu um papo com o Andrés e emprestou. Aí, dia 28 disse que queria de todo o jeito. Andrés disse que ia entrar um dinheiro. Fernando não quis juros, disse que estava fazendo um favor. Fernando viajou, quando voltou o Andrés dobrou ele e deu passe desse, daquele, como garantia. Aí, ele recebeu como garantia, depois que pagasse, devolvia. E aí, Fernando pagou imposto de renda. Depois desse favor. E teve 4% de multa. Não pode emprestar a ninguém de graça, precisa pagar 4%. Em cima da sua renda, não apenas dos R$ 6 milhões. Pagou uma bolada e ficou Aí falou que arruma advogado, falei que já tinha visto ele, perguntei se ele estava louco. Fernando já tinha enfiado R$ 5 milhões no Noroeste, brigou com o pessoal de Bauru e eles pediram uma prestação de contas do meu pai sobre o próprio dinheiro dele. Aí o Fernando disse que não queria mexer mais com isso. Meu pai deu porcentagem de jogadores para ele. O Bruno César, o Ralf, o Edno. Ele colocou os jogadores por aí, o Otacílio Neto no Corinthians, e outro que não lembro, colocou uns dois ou três, e aí foi indo, indo, se envolvendo nisso e foi a melhor coisa para ele. Estava no negativo pesado até o ano passado. Agora, ele falou para mim que está no azul. É muito investimento. O pessoal fala do Malcom. Tinha um moleque no Corinthians, o pessoal bate a carteira. Depois, ele descobriu que trabalhavam para ele e pegava jogador dele. E aí o Fernando se engrenou bem e não tem esse negócio. Agora, foi a Paris, foi ao Bayern, está vendendo um lateral para a Juventus. O Fernando foi no Corinthians devolver o título remido dele. Mas gostou desse negócio, viaja para cima e para baixo, é o melhor dos mundos. No Corinthians, agora, é o único time que ele não quer fazer mais negócio, pois só dá desgaste. Levou jogador no São Paulo, criticaram porque não trouxe ao Corinthians. É gozado isso. E o Fernando é sério.

Por que acha que o associado deve votar em você e não nos outros?

Tenho mais credibilidade, não falo bobagem e não sei se os outros têm. Te dou um exemplo típico, de administrador, dos outros candidatos não vi nenhum, e nem no Brasil. E o futebol está sendo passado a limpo, todo mundo está caindo, na Fifa e federações, vai dar uma melhorada boa. Os clubes são administrados de uma forma corrupta, os contratos são feitos para gerar corrupção. Ninguém quer compliance, abertura. Vai no Vasco, de que viveu o Eurico Miranda? É esse tipo de situação. O Platini foi uma surpresa. Fiquei sabendo que o Beckenbauer também, é um negócio absurdo que a gente vê. Na hora que entrar os clubes como empresas, uma multinacional, na Itália os times hoje os chineses comparam, antes eram de família, cheios de rolos, hoje já não tem. Nos EUA, porque não tem rolo? Pois são franquias. Pode se tratar assim como franquias.

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