Técnico sérvio vê favoritismo do Brasil e quer 2° lugar no grupo

Mladen Krstajic era assistente de ex-treinador e foi efetivado apenas em janeiro

O técnico da Sérvia, Mladen Krstajic, durante um jogo amistoso disputado contra a seleção da China, em Guangzhou
O técnico da Sérvia, Mladen Krstajic, durante um jogo amistoso disputado contra a seleção da China, em Guangzhou - VCG/VCG via Getty Images
Alex Sabino
São Paulo

Mladen Krstajic, 43, parecia desconfortável após o sorteio para os grupos da Copa do Mundo, em dezembro, na Rússia. Ele estava ali como quebra-galhos, um interino que tinha de responder a perguntas sobre uma seleção que meses depois ele sabia que não seria mais sua.

O ex-zagueiro havia sido escolhido para ocupar o cargo de forma interina após a saída de Slavoljub Muslin, 64, técnico que havia classificado a Sérvia para o Mundial. 

“Seja de forma interina ou em definitivo, é uma honra. Qual técnico não quer representar seu país?”, questiona.

Em janeiro, ficou definido que ele será o técnico da Sérvia na Copa. Em 27 de junho, em Moscou, vai liderar a equipe contra o Brasil, na última rodada do Grupo E.

À Folha, Krstajic diz que sua principal missão será criar um clima de harmonia entre os jogadores, algo que quase nunca foi possível no passado, quando o elenco se dividia em panelas étnicas de sérvios, croatas e bósnios. 

Se conseguir isso, acredita ser possível ficar em segundo na chave e ir às oitavas de final. A primeira colocação será do Brasil, opina.


Folha - A Sérvia, mesmo quando ainda se chamava Iugoslávia, sempre chegava aos Mundiais apontada como possível surpresa por causa dos jogadores de qualidade. Em 1990, foi à disputa de pênaltis contra a Argentina e quase se classificou à semifinal. Podemos ver a sua equipe em 2018 dessa mesma forma, como candidata à zebra?
Mladen  Krstajic - Quando você fala sobre a Sérvia, tem de ser honesto. Não nos classificamos para a Copa de 2014 no Brasil e não estamos na primeira linha dos favoritos. Quem for enumerar os favoritos para o próximo Mundial, não vai mencionar a Sérvia.

Nem mesmo como surpresa?
Queremos ser a surpresa do torneio, claro. Temos de criar um bom clima no elenco. Não vamos falar de expectativa. Creio que jogamos melhor quando as pessoas não falam muito sobre nós.

Você era assistente de Slavojub Muslin, então já conhece o grupo...
Sim, isso é uma vantagem. Não creio que haverá muitas mudanças até a estreia na Copa [em 17 de junho, contra a Costa Rica]. Já temos um elenco quase formado. Pode haver alguma novidade, mas nada significativo.

Você fala em boa atmosfera no grupo por causa dos problemas no passado entre sérvios, croatas e bósnios?
É uma situação delicada e que ultrapassa o limite do futebol. Possivelmente atrapalhou a seleção no passado, mas agora cabe apenas a nós criar um clima para que a campanha seja boa. Não digo apenas por essa questão [política], mas você precisa ter harmonia no grupo em um torneio curto como a Copa do Mundo. Não há time dividido que consiga fazer uma campanha convincente.

Após o sorteio, você disse que o Brasil estava praticamente garantido como primeiro colocado no grupo. Continua pensando assim?
Claro. Não é exclusividade da Sérvia. Qualquer time que caísse no grupo do Brasil teria de vê-lo como favorito. Tenho certeza que os treinadores da Suíça e da Costa Rica pensam da mesma forma. Nossa principal preocupação é derrotar esses outros dois adversários e ficar com a segunda vaga da chave. O Brasil não deve estar preocupado conosco. Deve estar preocupado em ganhar a Copa do Mundo.  

O técnico da seleção brasileira, Tite, não gosta de ser apontado com tamanho favoritismo...
Temos de ser realistas. Claro, no futebol você nunca sabe... Tudo é possível. Mas temos de partir do princípio que o Brasil está acima dos demais. Pelo menos no início do torneio, nosso nível de competição está com Suíça e Costa Rica. Não é nenhuma vergonha reconhecer isso. São três seleções que brigarão em igualdade de condições pela segunda vaga no grupo. Espero que sejamos nós os classificados. Temos capacidade para isso.

Quando montar a seleção para enfrentar o Brasil, sua maior preocupação será como parar Neymar?
Não será minha única preocupação. Neymar é um dos melhores jogadores do mundo. Em breve, poderá ser o melhor. Tem talento para isso. Mas se em campo nos preocuparmos excessivamente com ele, estaremos perdidos. E os outros? E Philippe Coutinho? E Paulinho? E Gabriel Jesus? O Brasil tem seleção de grandes jogadores. Claro, Neymar talvez seja o principal nome, mas está longe de ser o único.

Após o sorteio para a Copa, você revelou quem era seu jogador brasileiro favorito e causou surpresa...
Marcelo Bordon [zagueiro ex-São Paulo e que fez carreira no futebol alemão]? Não foi uma brincadeira. Jogamos juntos no Schalke 04. Gosto muito dele.

TÉCNICO JOGOU COPA EM 2006

Inexperiente, Mladen  Krstajic terá na Copa do Mundo seu primeiro torneio como técnico. Competição que ele conhece como atleta. Fez parte da defesa titular da seleção no Mundial de 2006.

Por causa do Mundial  na Alemanha, ele também sabe bem o que é chegar como possível surpresa e decepcionar. Na época chamado de Sérvia e Montenegro, o país entrou na Copa com a fama de ter uma defesa sólida. Nas eliminatórias, havia sofrido apenas um gol.

Quando a bola rolou, o elenco se dividiu entre os jogadores de origem sérvia e os montenegrinos. Foram três derrotas e a lanterna do Grupo C. No meio do caminho, a equipe levou uma goleada de 6 a 0 da Argentina.

Há uma disputa interna no futebol nacional entre o uso de jogadores veteranos ou dar chances para os mais novos.

Esse foi um dos motivos para a queda de Slavoljub Muslin, que classificou a seleção para a Rússia apesar de a Sérvia não ser a favorita no seu grupo das eliminatórias, que tinha ainda Áustria, País de Gales e Irlanda.

Uma das queixas era que ele relutava em colocar em campo Sergej Milinkovic-Savic, 22, da Lazio (ITA), e sofria pressão por causa disso.

Antigo assistente de Muslin, Krstajic deve levar a revelação sérvia para a Copa do Mundo e escalá-la como titular.

RAIO-X

Nome: Mladen Krstajic

Nascimento: 4 de março de 1974 (43 anos)

Times como jogador: Werder Bremen (2000-2004), Schalke 04 (2004-2009) e Partizan (2009-2011)

Como técnico: Sérvia (desde 2018)

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.