Até onde você iria para acompanhar seu time do coração? E o que você seria capaz de fazer por ele? O palmeirense Anderson Tadeu Orlandini Rodrigues, 34, terminou um casamento de 15 anos por conta das viagens que faz para acompanhar os jogos da sua equipe de coração tanto dentro quanto fora do Brasil.
“Meu casamento já não estava indo bem, então resolvi me entregar ao Palmeiras”, afirma o torcedor, que consumou o divórcio no início deste ano. “Minha ex-mulher reclamava muito. Eu sempre a convidei, mas ela nunca quis me acompanhar.”
Rodrigues é um dos palmeirenses que vai assistir às três partidas que o clube disputará no exterior na fase de grupos da Copa Libertadores. O primeiro jogo será nesta quinta (1º), contra o Junior Barranquilla, na Colômbia.
O palmeirense possui um escritório de consultoria com um sócio corintiano que, segundo ele, não se interessa por futebol. Os horários flexíveis permitem que o Palmeiras seja uma das prioridades de sua vida —assim como sua filha, de quatro anos.
No ano passado, ele estima ter gasto R$ 40 mil com jogos e produtos do clube.
As passagens da viagem para Barranquilla foram compradas na manhã de sexta (23), horas após o time colombiano empatar com o Guaraní (PAR) e se classificar para a fase de grupos. Ele acredita que os gastos nesta primeira etapa do torneio ficarão em cerca de R$ 10 mil.
Torcedor do rival Corinthians, Diogo Thebas, 28, compartilha a obsessão por seguir o time fora do país. Ele afirma que não perde um jogo do clube alvinegro há oito anos.
“Se eu arrumar um emprego, tem que ser um no qual eu ainda consiga fazer as viagens para ver o Corinthians. Senão, eu provavelmente não aceitarei”, afirma Thebas, que hoje vive da renda de seus investimentos.
O amor pelo clube o fará ir até Cabudare, cidade localizada a 360 km de Caracas, capital da Venezuela, e onde está localizado o estádio em que o Deportivo Lara mandará o jogo contra o Corinthians.
Cabudare foi uma das cidades que ficou horas sem energia elétrica durante um apagão na última semana. Há também registros de greves de trabalhadores do município, insatisfeitos com a ditadura de Nicolás Maduro.
“A situação na Venezuela me preocupa, principalmente em relação à hospedagem e à segurança. É uma incógnita, não sei o que encontrarei por lá”, disse o corintiano, que usará milhas aéreas para assistir aos outros dois jogos do clube no exterior.
CONTRATEMPOS
Dinheiro não é o único fator determinante para as viagens dos torcedores. É preciso dedicar tempo para fazer um planejamento. “Eu me empenho em estudar a tabela. Programo a minha vida de acordo com o Santos”, diz Lucas Castellani de Almeida, 31.
Despachante em Salto-SP, o santista esteve presente em duas derrotas para o Barcelona. A primeira por 4 a 0, no Mundial do Japão, em 2011, e a segunda no Camp Nou, quando seu time foi goleado por 8 a 0 em amistoso.
Ele vai para Cusco (Peru) nesta quarta-feira (28), onde o Santos enfrenta o Real Garcilaso no dia seguinte.
“É um vício. Você deixa de participar das festas de família e de fazer várias coisas. O pessoal não entende, mas quem gosta sabe que é assim”, declarou o torcedor.
Com as passagens para os outros dois confrontos fora do país compradas –contra Estudiantes (ARG) e Nacional (URU)–, ele diz que não são apenas os resultados que marcam os jogos no exterior.
Almeida conta que mal conseguiu assistir a uma partida entre Santos e Cerro Porteño, em Assunção, no Paraguai, em 2011, por conta das garrafas e pedras que voavam em direção ao setor destinado aos torcedores alvinegros no estádio General Pablo Rojas.
O corintiano Thebas também teve uma das viagens marcadas pela violência. Ele estava em Oruro (BOL), no jogo contra o San José, em 2013, quando um sinalizador disparado da área onde estava a torcida do Corinthians matou Kevin Espada, torcedor boliviano de 14 anos.
“Ficamos sabendo que o menino morreu, teve as prisões [...]. Foi uma noite complicada e triste”, disse.
Almeida e Thebas são filiados a organizadas, mas viajarão de avião com amigos.
O motorista Renan Barbosa, 40, é outro torcedor que se diz apaixonado. Ele afirma ter ido a 80 estádios diferentes, no Brasil e no exterior, para acompanhar o Palmeiras. Em algumas dessas partidas pelo continente, o palmeirense viajou em seu Fusca verde.
“Já tinha ido [de Fusca] para Rosário [Argentina] e para o Uruguai. Quando vi que enfrentaríamos o Jorge Wilstermann [na Libertadores-2017] decidi ir. Foram dois dias e meio até Cochabamba”, diz.
“Amo ver o Palmeiras jogar. O time me dá a chance de conhecer coisas bem legais.”
Barbosa, no entanto, terá de dar férias ao Fusca neste ano. “Por questões familiares, eu não poderei acompanhar o time na temporada.”
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