Balões de R$ 23 mi comprados para a Rio-16 estão sem uso

Equipamentos faziam parte do legado de segurança pública, mas acabaram abandonados

Diego Garcia
São Paulo

Adquiridos para auxiliarem na segurança durante os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, quatro balões que custaram R$ 23,2 milhões aos cofres públicos estão hoje abandonados. A informação foi confirmada pelo Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União.

Balões adquiridos para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro - Divulgação

Os balões foram utilizados ao longo da Rio-2016 e entraram no chamado legado da segurança pública gerado pelos Jogos. Cada balão custou cerca de R$ 5 milhões. Com o treinamento de policiais e guardas municipais foram gastos R$ 3 milhões.

Os balões são capazes de atingir 200 metros de altura e realizar filmagens ininterruptas por até 72 horas, com câmeras de alta definição.

Também foram gastos R$ 1,6 milhão para a compra de dez viaturas novas para a Guarda Municipal, R$ 11,9 milhões em sistemas de 215 câmeras de segurança, R$ 1,7 milhão em equipamentos antibomba e R$ 4,9 milhões em 42 motocicletas para policiais. 

Somado, esse valor é menor do que o gasto com os balões.

Após os Jogos, três deles foram doados à Polícia Militar do Rio de Janeiro. O outro foi endereçado à Guarda Municipal do Rio. Nenhum teve o aproveitamento esperado. Em julho de 2017, o ministério concluiu que eles estavam sem uso pelos órgãos.

Em 16 de agosto do ano passado, a controladoria recomendou que os balões fossem revertidos à União para evitar prejuízos, "tendo em vista o atual estado de abandono de tais equipamentos".

Na terça-feira (13), a CGU informou à Folha que os órgãos de segurança pública abriram processos administrativos de reversão de doação dos equipamentos.

Segundo a auditoria feita pela CGU, os gestores municipais alegaram elevado custo de manutenção dos balões, além da logística para montagem da operação, exigência de constante atualização de treinamento e poucos resultados. 

Empresa que forneceu os balões, a Altave contesta a informação de que os custos de manutenção são elevados. De acordo com a empresa, o preço do gás hélio fica em R$ 5 mil para um voo de 72 horas, e que após esse período são necessárias pequenas recargas para o balão manter seu formato aerodinâmico.

“O custo por hora diminui quanto maior for a duração da operação, pois o custo do gás é diluído ao longo do tempo”, afirma a empresa em nota enviada à Folha.

Sobre a logística para montagem da operação, a Altave afirma que forneceu um pacote de treinamentos a 80 policiais militares e guardas municipais, que estão aptos a operar os sistemas entregues, e que a logística para montagem da operação foi um dos focos de desenvolvimento de engenharia de modo a simplificar e facilitar seu uso.

“A exigência de constante atualização de treinamento é inverídica”, diz a empresa em nota.

Em 22 de dezembro de 2016, a Guarda Municipal do Rio de Janeiro já havia informado que não tinha interesse em contar com os balões e manifestou a intenção de doação do dispositivo a outro órgão.

A PM atribuiu a inoperância a fatores como ausência de visão noturna nas câmeras, não permissão para acompanhamento de alvos móveis e o fato de o equipamento só poder voar até 100 metros sem autorização da Força Aérea.

A Altave rebateu essa informação ao dizer que a tecnologia infravermelha não estava na especificação dos equipamentos para as Olimpíadas e que por isso não compôs os sistemas entregues, e que os balões voaram a mais de 200 metros de altura sem maiores dificuldades durante as Olimpíadas.

Governo diz que há interessados nos equipamentos

Procurado pela Folha, o Ministério Extraordinário da Segurança Pública confirmou a informação de que foram abertos processos administrativos de reversão de doação dos balões pela Secretaria Municipal de Ordem Pública do Rio de Janeiro e pela Secretaria de Segurança do Estado do Rio de Janeiro.

Após as consultas, a informação é que o balão em posse da Guarda Municipal será, agora, doado a algum dos órgãos de segurança sediados no Distrito Federal que demonstraram interesse na utilização do bem.
Ainda não há definição sobre os três equipamentos em posse da Polícia Militar.

A respeito do pedido do Ministério da Transparência para que fossem feitos reparos nos equipamentos, a pasta informou que o Departamento da Força Nacional analisa o interesse em receber os balões, bem como o custo envolvido para reparos, manutenção e treinamento de novos operadores.

O Ministério da Segurança Pública apontou também que recebeu interessados de entidades públicas estaduais e federais para a aquisição dos balões. Agora, segundo a pasta, a Secretaria Nacional de Segurança Pública está aguardando uma definição da PM para que seja providenciado o fretamento.

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