Bebeto de Freitas fez revolução no vôlei e foi cartola passional

Dirigente morreu após evento nesta terça (13) no CT do Atlético-MG

Bebeto de Freitas na época em que era treinador da equipe masculina de vôlei do Olympikus
Bebeto de Freitas na época em que era treinador da equipe masculina de vôlei do Olympikus - Toni Pires/Folhapress
Marcelo Laguna
São Paulo

O dirigente Bebeto de Freitas, ex-jogador de vôlei e ex-técnico da seleção brasileira, morreu nesta terça-feira (13), aos 68 anos, após evento realizado no centro de treinamento do Atlético-MG, em Belo Horizonte.

Ex-atleta com dois Jogos Olímpicos no currículo, Bebeto de Freitas (1950-2018) se tornou treinador da seleção brasileira de vôlei aos 30 de idade. Novato, resolveu inovar.

“Até então, a gente treinava três vezes por semana e olhe lá. Com a chegada do Bebeto, passamos a treinar duas vezes por dia. Aquilo nos deu um salto de qualidade muito grande”, lembra Bernard Rajzman, comandado pelo técnico na seleção e no Atlântica-Boavista, do Rio.

Revolucionário, genial e estrategista. Esses são alguns dos adjetivos que as pessoas que conviveram com Bebeto de Freitas usam para descrever o comandante da “geração de prata”, que levou o Brasil pela primeira vez ao pódio do Mundial de vôlei, em 1982, realizado na Argentina, e da Olimpíada de Los Angeles, em 1984.

“Ele foi um estrategista, sabia como poucos preparar uma equipe. O Brasil tinha um time baixo, mas ele criou inúmeras alternativas ofensivas. Era um ídolo para mim”, afirmou William Carvalho, que foi levantador e capitão daquela equipe.

Auxiliar de Bebeto na seleção brasileira entre 1980 e 1984, José Carlos Brunoro diz que o treinador foi responsável pela mudança de paradigma da modalidade no país.

Com ele, a equipe deixou de ser coadjuvante nas competições internacionais.

“Dentro de quadra, ele foi um gênio como treinador e com a ‘geração de prata’ conseguiu implantar novos conceitos. O vôlei vivia o início da profissionalização e o Bebeto foi fundamental neste processo”, disse Brunoro.

Bebeto de Freitas também tinha um lado supersticioso —a ponto de repetir a roupa utilizada durante uma vitória na partida seguinte— e até mesmo irreverente.

“Poucos sabem que ele era brincalhão também. Uma vez, num Brasileiro de seleções, decidiu pegar o ônibus da seleção carioca e ficar dirigindo pelo pátio do hotel em que estávamos hospedados”, recordou o ex-jogador Antonio Carlos Moreno, que foi seu companheiro na seleção brasileira nas Olimpíadas de Munique-1972 e Montréal-1976.

Bebeto de Freitas em evento nesta terça (13) no centro de treinamento do Atlético-MG
Bebeto de Freitas em evento nesta terça (13) no centro de treinamento do Atlético-MG - Douglas Magno/O Tempo

NUZMAN

Sobrinho do jornalista João Saldanha, Bebeto tinha temperamento forte e não foram poucas as vezes em que ele entrou em confronto com dirigentes importantes do esporte brasileiro.

Entre eles Carlos Arthur Nuzman, presidente da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) —no período em que Bebeto era técnico— e depois do COB (Comitê Olímpico do Brasil), com quem se desentendeu várias vezes.

Quando Nuzman foi preso em outubro de 2017, sob suspeita de participar de um esquema de compra de votos para a escolha do Rio como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, Bebeto de Freitas chorou ao comentar o caso.

“Estou triste. Trabalhei pra caramba. Não trabalhei para ele ser preso, não. Trabalhei pra c... pra esse vôlei do Brasil. Essas coisas [corrupção no esporte] perduram por culpa nossa. Daqueles que não tiveram coragem de botar o dedo na ferida e falar. Era mais fácil dizer que eu estava maluco, doido [...] Esses anos todos, sempre soubemos, sempre tivemos certeza de que coisas erradas aconteciam”, afirmou.

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