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'Jogos Olímpicos de 2020 não são uma prioridade', diz Gabriel Medina

Surfista diz que deseja representar o Brasil em Tóquio, mas foco é o Mundial

Marcello Oliveira
Gold Coast (Austrália)

O brasileiro Gabriel Medina, 24, campeão mundial de surfe em 2014, deve fazer sua estreia olímpica nos Jogos de Tóquio-2020, quando sua modalidade estreia no programa do megaevento esportivo.

Apesar disso, o paulista coloca a competição na Ásia em segundo plano. Seu objetivo principal é conquistar pela segunda vez o Mundial.

Gabriel Medina durante disputa da etapa de Pipeline na ilha de Oahu, Havaí, em 2017
Gabriel Medina durante disputa da etapa de Pipeline na ilha de Oahu, Havaí, em 2017 - Sebastian Rojas - 19.dez.2017/FramePhoto/Folhapress

RAIO-X

Nascimento
22.dez.1993 (24 anos), em São Sebastião (SP)

Peso e altura
77 kg e 1,80 m

Primeira temporada no circuito mundial
2008

Principais resultados
Campeão mundial em 2014
Vice-campeão mundial em 2017



“Não é uma prioridade, mas espero participar dos Jogos lá no Japão representando o Brasil”, afirmou o atleta à Folha em Gold Coast, na Austrália, onde, neste domingo (11), começa a temporada 2018 do circuito mundial.

Com 11 surfistas entre os 34 que disputarão o título mundial, pela primeira vez o Brasil será o país com mais atletas na elite da modalidade

“Acho que é a melhor fase do Brasil. Fico feliz de fazer parte disso”, disse Medina. 

O paulista, no entanto, lembra que a modalidade ainda tem muito a evoluir no país. Principalmente em relação à organização de competições nacionais para surfistas em início de carreira. 

“Na minha época, eu até cheguei a competir no Brasileiro. Tinham mais campeonatos, mas, hoje em dia, a molecada não têm oportunidade de mostrar potencial.”


Folha - No ano passado você ficou em terceiro lugar na etapa de Gold Coast, mas teve um início de temporada difícil, atrapalhado por lesões. Como se sente neste início de ano?
Gabriel Medina - O ano passado foi de aprendizado. Infelizmente eu tive a lesão na primeira etapa, mas foi um ano em que eu aprendi bastante. No final consegui recuperar bem os pontos e agora eu me preparei bastante.

Ficou frustrado por não ter conseguido o título em 2017?
Frustrado não, mas foi uma pena. Foi por pouco que perdi o título, mas era uma missão quase impossível. Faltavam três etapas para acabar o ano, eu estava em 11º e cheguei no Havaí com chance de título, em segundo lugar. Claro que eu queria ganhar muito, mas, no fim, foi um ótimo ano.

Logo após perder o título, você disse que o futuro reservava algo melhor. O futuro é agora?
O futuro quem decide é Deus. O meu trabalho é me preparar, treinar, me sentir 100% para cada evento e fazer o meu melhor. Colocar tudo que eu treinei, tudo que eu deixei de lado para estar aqui, e eu espero que seja este ano.

Teremos um recorde de brasileiros no circuito mundial deste ano. O que isso representa para o surfe nacional?
É um momento histórico. O Brasil nunca teve tantos surfistas assim. Hoje é o país que mais tem surfistas no Mundial [11]. Acho que é a melhor fase do Brasil. Fico feliz de fazer parte disso. 

Apesar disso, não há um campeonato nacional atrativo. Isso é preocupante para o futuro do surfe profissional no país?
O Brasil é muito fraco de campeonato. Na minha época, eu até cheguei a competir no Brasileiro. Tinham mais campeonatos, mas, hoje em dia, tem poucos, e a molecada não têm oportunidade de mostrar potencial. Realmente o Brasil falha nisso. Você vem aqui para a Austrália, vai para os EUA, e eles têm o circuito deles. Um circuito bom, onde são descobertos novos talentos. É uma pena o Brasil não investir nisso, ainda mais na fase em que o país está no Mundial. Falta incentivo.

Por falar em futuro, sua irmã Sophia tem só 14 anos e já é destaque em campeonatos nacionais. Qual é o segredo da família Medina? 
Minha irmã está fazendo o que gosta. Nós nunca forçamos ela a surfar. Ela está se divertindo, e é legal porque ela está se dando bem. Nessa idade eu tinha ganhado um ou outro campeonato, eu engrenei mesmo depois dos 14. Ela tem peito. Espero que melhore cada vez mais, mas é difícil saber como vai ser. O ideal é não botar pressão e deixar ela se divertindo. 

Nos últimos anos foi comum ver surfistas brasileiros reclamando das notas dos juízes. Você acha que o país é prejudicado pela arbitragem?
É difícil falar de julgamento, ainda mais no surfe. Deve dar um trabalho… Eu não conseguiria ser juiz. Tem acontecido. Não só com brasileiros, mas com os gringos também. É um problema geral. Tiveram erros, mas cada vez mais eles têm procurado melhorar.

Você acha que deveria haver uma mudança no sistema de pontuação do surfe?
A gente [surfistas] conversa sobre isso. Na verdade há várias opções, mas não sabemos qual seria a ideal. Eu tenho várias ideias, mas nada concreto. Teria que pensar. Hoje, do jeito que está… Cara, é difícil de falar sobre julgamento, mas eu acredito que eles tenham melhorado bastante. Vamos ver este ano.

Uma das principais novidades do Mundial é a etapa em onda artificial. Acha que esse tipo de onda favorece o seu estilo?
Eu gostei da piscina de onda, surfei algumas vezes. É uma onda divertida, mas não sei como seria em uma competição. Vai ser difícil. A gente está acostumado com mar e eu prefiro surfar no mar, com certeza. A piscina vai ser um negócio novo que vamos testar. Acho que tomaram uma decisão muito precipitada, porque eu nem sei como vai ser a competição, e é uma onda que teve gente que até hoje não surfou. É tudo novo.

Quem você considera que são os seus principais adversários? John John Florence continua seu maior rival?
Pelos resultados sim, ele é o meu maior rival, mas tem vários caras bons. Eu acho que esse ano o circuito mundial vai ser legal de assistir. É o ano que tem mais gente boa participando. O nível está bem alto e vai ser muito disputado.

No ano passado sua mãe reclamou do comportamento de alguns torcedores no Havaí. Acha que a competitividade e o profissionalismo que o esporte alcançou está afetando o clima de camaradagem que sempre existiu no surfe?
O lance da torcida é normal, não é? Em todos os esportes uma torcida provoca a outra, como no futebol. O difícil é que o surfe está ficando mais profissional. Infelizmente isso aconteceu com a minha família. Eles assistiram da praia e aí ficavam enchendo o saco deles na areia, mas a praia é pública também.

Mas você acha isso normal?
É coisa de torcida. Eu não ligo. Não estou nem aí. É mais a minha família e as pessoas que torcem por mim que se incomodam.

É verdade que você já morou em Gold Coast em um intercâmbio? Vários brasileiros contam essa história...
Eu já ouvi falar isso. Às vezes me perguntam sobre isso mesmo, mas eu nunca morei aqui, isso é lenda (risos). Uma vez eu fiquei aqui treinando por menos de um mês e acabei estudando inglês numa escola, mas foi só isso, nunca morei em Gold Coast.

Você pensa nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020? Vê a disputa da Olimpíada como uma prioridade? 
Sim, eu penso na Olimpíada. Não é uma prioridade, mas espero participar dos Jogos lá no Japão representando o Brasil. Ainda é cedo, não sabemos como serão selecionados os atletas. Quero muito participar, será histórico.

Mas se tivesse que escolher entre uma medalha olímpica e mais um título mundial?
Acho que o título! (risos)

A WSL (Liga Mundial de Surfe) anunciou recentemente que as etapas de Pipeline e Fiji não serão disputadas em 2019. O campeonato sai perdendo?
São duas etapas que eu amo. É uma pena retirar elas do campeonato. São as duas melhores ondas do circuito.

OUTRAS MODALIDADES

Não é só Gabriel Medina que minimiza a importância da medalha olímpica. Muitos atletas de esportes sem grande tradição nos Jogos costumam desfalcar o megaevento por problemas de calendário ou em busca de prêmios mais generosos.

Neste ano, a NHL (principal liga de hóquei no gelo dos EUA) impediu seus atletas de disputarem os Jogos de Inverno de PyeongChang por não concordar em paralisar seu torneio.

As principais estrelas do golfe não participaram da volta da modalidade aos Jogos, em 2016. Alguns alegaram medo do vírus da zika. Outros, como o australiano Adam Scott, deram preferência a outros compromissos.

Também é comum que atletas da NBA desistam dos Jogos para não perder suas férias. Na Rio-2016, Stephen Curry e LeBron James encabeçaram extensa lista de pedidos de dispensa da seleção americana de basquete. 

Para os tenistas, a disputa da Olimpíada carioca não contou pontos no ranking mundial. Por isso, alguns atletas preferiram disputar outros torneios oficiais.

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