Os hooligans são um problema que estará resolvido no mundial

Presidente do comitê organizador da Copa afirma que nível de segurança será alto

Alexei Sorokin, presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo da Rússia, sorri durante entrevista
Alexei Sorokin, presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo da Rússia, durante entrevista em evento sobre o Mundial em Moscou, na Rússia - Yuri Kadobnov - 30.maio.2017/AFP
Fábio Aleixo
Moscou

O choque entre hooligans ingleses e russos durante a Eurocopa-2016 em Marselha, na França, foi marcante. A batalha tomou conta das ruas da cidade e se estendeu para dentro do estádio.

Às vésperas do Mundial da Rússia, que será aberto em 14 de junho, o fato volta à tona e gera preocupação. 

“O serviço de segurança russo e a segurança particular dentro dos estádios garantirão que a celebração ocorrerá sem problemas em cada uma das 11 cidades-sede”, afirma Alexei Sorokin, 45, chefe do COL (Comitê Organizador Local).

O planejamento das autoridades russas em conjunto com forças de segurança de outros países tem feito a cada dia aumentar a lista de estrangeiros proibidos de entrar no país da Copa. 

O mesmo tem ocorrido, conforme afirmação de quem virou presidente do COL em dezembro, após a renúncia de Vitali Mutko, com a relação de russos que vão ser proibidos de entrar nos estádios durante o Mundial.

Mutko, acusado de ser um dos mentores do esquema estatal de doping na Rússia, deixou a presidência para se dedicar a sua defesa na CAS (Corte Arbitral do Esporte) e tentar reverter a decisão do COI (Comitê Olímpico Internacional) que o baniu por toda a vida de qualquer atividade relacionada ao esporte.

 Folha - O que mudou no Comitê Organizador desde a saída de Vitali Mutko?
Alexei Sorokin - Do ponto de vista operacional, nada mudou ou teve de ser mudado com a renúncia de Vitali Mutko. Sob sua liderança construímos e desenvolvemos estruturas organizacionais robustas e estamos conseguindo alcançar nossas metas. Vitali Mutko segue a cargo do projeto de infraestrutura como representante do governo. Estamos com os projetos em dia e alcançaremos os prazos.

O doping é uma sombra sobre a Copa do Mundo?
Não. Todo o controle antidoping na Copa do Mundo está sob autoridade e supervisão da Fifa. Como ocorreu em 2014 no Brasil, a Fifa fará os testes fora do país, como já foi na Copa das Confederações. Com relação às alegações contra a Rússia e jogadores russos, apenas posso reiterar o que foi dito. Os jogadores russos seguem sendo testados em competições internacionais e passarão pelo rigoroso controle da Fifa que é aplicado a todos os participantes.

A eleição presidencial no dia 18 de alguma maneira afeta a preparação para a Copa?
Ao mesmo tempo em que contamos com todo o apoio do governo federal e do presidente da Rússia, a eleição não afetará nosso trabalho. Ao longo dos últimos sete anos, nos preparamos para receber a Copa no mais alto nível. Todas as decisões estratégicas foram tomadas e estamos agora na fase final de execução.

Qual papel do presidente Vladimir Putin na organização?
O presidente é o mandatário do comitê supervisor do COL. Ele controla o órgão. Ele participa dos encontros e de todas as decisões importantes. É natural que ele não se junte a nós todas as semanas, mas periodicamente nos reunimos. O presidente Putin está a par dos acontecimentos.

Nesta terça-feira (6) faltarão 100 dias para a Copa. Quais são as maiores preocupações?
Tenho orgulho de dizer que não temos grandes preocupações. Estádios estão sendo finalizados, inspecionados e serão testados. Focamos a parte operacional dos jogos e da organização da competição em si, serviços aos espectadores, transporte e segurança.

O Brasil recebeu a Copa em 2014 e a Olimpíada em 2016 e muitas coisas relacionadas à infraestrutura foram entregues no último minuto. Isso acontecerá na Rússia?
Sem a intenção de comparar os dois países, eu gostaria de dizer que a Rússia está acostumada a receber grandes eventos esportivos. Muitas vezes provamos que somos anfitriões capazes e cordiais, permitindo que os atletas se apresentem no mais alto nível. Os espectadores aproveitarão os eventos em ambiente seguro e de muita hospitalidade.

Houve um problema relacionado com a saída do público do estádio Lujniki no amistoso entre Rússia e Argentina. Esta questão de saída das pessoas foi solucionado? Podemos esperar um estádio livre de problemas no amistoso entre Brasil e Rússia no dia 23 de março? 
Conduzimos  criteriosa análise com todos os envolvidos para entender o que causou este problema com os torcedores saindo e chegamos a nossas conclusões. Este é objetivo dos jogos-testes: encontrar os pontos fracos antes da Copa e tomar as medidas necessárias. A partida contra o Brasil será uma boa oportunidade para nós e autoridades para elevar ao máximo nossa preparação.

O COL fica feliz em ter o maior campeão das Copas jogando no país antes do Mundial?
Penso que é justo dizer que todo mundo aqui na Rússia - jogadores e torcedores assim como as pessoas comuns - está empolgado para este jogo. O seu país é tido como a casa do 'jogo bonito' e admirado em todo o mundo.

Na era das mídias sociais há muitas fake news sendo divulgadas. Isso preocupa o COL?
Você certamente deve ter notado que o COL e a Rússia estão informando tudo da maneira mais transparente possível. Claro que estamos monitorando tudo que é publicado sobre o páis e nosso trabalho e sabemos bem diferenciar quais são as notícias falsas e corretas e nos pronunciar quando seja necessário. 

A mídia britânica tem publicado matérias negativas sobre o Mundial. Há uma campanha britânica contra a Copa? A porta-voz do Ministro de Relações Exteriores, Maria Zakharova, disse isso.
Fomentar o medo ou trazer à tona assuntos irrelevantes fora de proporção antes de grandes eventos não é algo novo. Isso é o suficiente para dizer que nosso trabalho está sendo seguido de forma mais crítica em alguns países do que em outros. Do ponto de vista operacional, não é relevante. O que é relevante é que se houver problema, o COL e as autoridades irão agir.

Racismo, homofobia. Estas questões preocupam o COL?
Todos os visitantes da Rússia, independentemente de raça, gênero, religião ou orientação sexual podem esperar uma recepção calorosa. Estamos empenhados com a Fifa na campanha antidiscriminação. Estou convicto de que a Copa vai catalisar mudanças dessas percepções. Queremos fazer da Rússia um exemplo para todos. Nós queremos ser o melhor país-sede da Copa.

O Estado Islâmico fez propaganda ameaçando o torneio, atletas e seleções. Preocupa?
Como país-sede, a Rússia e todas as autoridades consideram a segurança a prioridade número 1. Desde o estágio de candidatura e durante toda a preparação, um grande esquema foi concebido e desenvolvido. Implementamos este sistema com sucesso na Copa das Confederações. Nosso esquema foi aclamado pela Fifa, seleções e espectadores.

À medida que a Copa está chegando, seguem as discussões com os mais variados setores para finalizarmos a estratégia de segurança. Cenários para todos os tipos de potenciais ataques foram levados em conta. Nosso conceito não muda nem com as ameaças do Estados Islâmico.

A Rússia terá medidas abundantes de segurança. Tudo será organizado para não incomodar os fãs.

Os hooligans ameaçam?
Como você viu na Copa das Confederações, estamos confiantes de que a segurança estará no mais alto nível. Estamos satisfeitos com o sistema do Fan ID (identidade do fã). O compartilhamento de informações entre as autoridades russas e de outros países impedirão hooligans de entrar na Rússia. O serviço de segurança russo e a segurança particular nos estádios garantirão que a celebração vai ocorrer sem problemas.

Sabemos da tensão existente entre Rússia e Ucrânia e como as relações diplomáticas estão deterioradas. Os torcedores ucranianos serão bem recebidos na Rússia? E os jornalistas ucranianos que quiserem cobrir o torneio?
Por quê não? A Rússia vai garantir a segurança de jornalistas ucranianos, assim como de todos os outros países que vierem aqui trabalhar. É impossível fazer segurança seletiva, seja por grupos étnicos ou qualquer outro tipo. A segurança de todos estará garantida.

Falando sobre a cerimônia de abertura. O COL e a Fifa já decidiram quem vai se apresentar no show? Qual será a ideia da cerimônia? Podemos esperar uma exibição do que a Rússia é como país?
O trabalho para a cerimônia está em andamento e claro que queremos que quem esteja no estádio ou vendo pela TV relembre dela nem que seja por instantes. Mas você precisa entender que há limitações dado o fato que ela acontece no campo de jogo. Então temos que saber balancear o espetáculo e a não agressão ao gramado.
 
Podemos esperar também um novo encontro entre Pelé e Maradona na Copa?
Claro que seria muito bom ver Pelé e Maradona juntos em uma Copa do Mundo. Está na natureza do torneio unir grandes jogadores. No momento, nossos pensamentos estão na melhor recuperação possível para o Pelé.
 
A Itália não se classificou para a Copa do Mundo e será o único campeão mundial a não marcar presença. Isso é ruim?
Muitos fãs pelo mundo ficaram desapontados com isso. Infelizmente nem a Holanda nem o Chile, que trouxe muitos torcedores na Copa das Confederações, se classificaram. Porém, 31 times além da Rússia estarão aqui lutando pelo prêmio máximo.
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