O choque entre hooligans ingleses e russos durante a Eurocopa-2016 em Marselha, na França, foi marcante. A batalha tomou conta das ruas da cidade e se estendeu para dentro do estádio.
Às vésperas do Mundial da Rússia, que será aberto em 14 de junho, o fato volta à tona e gera preocupação.
“O serviço de segurança russo e a segurança particular dentro dos estádios garantirão que a celebração ocorrerá sem problemas em cada uma das 11 cidades-sede”, afirma Alexei Sorokin, 45, chefe do COL (Comitê Organizador Local).
O planejamento das autoridades russas em conjunto com forças de segurança de outros países tem feito a cada dia aumentar a lista de estrangeiros proibidos de entrar no país da Copa.
O mesmo tem ocorrido, conforme afirmação de quem virou presidente do COL em dezembro, após a renúncia de Vitali Mutko, com a relação de russos que vão ser proibidos de entrar nos estádios durante o Mundial.
Mutko, acusado de ser um dos mentores do esquema estatal de doping na Rússia, deixou a presidência para se dedicar a sua defesa na CAS (Corte Arbitral do Esporte) e tentar reverter a decisão do COI (Comitê Olímpico Internacional) que o baniu por toda a vida de qualquer atividade relacionada ao esporte.
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Folha - O que mudou no Comitê Organizador desde a saída de Vitali Mutko?
Alexei Sorokin - Do ponto de vista operacional, nada mudou ou teve de ser mudado com a renúncia de Vitali Mutko. Sob sua liderança construímos e desenvolvemos estruturas organizacionais robustas e estamos conseguindo alcançar nossas metas. Vitali Mutko segue a cargo do projeto de infraestrutura como representante do governo. Estamos com os projetos em dia e alcançaremos os prazos.
O doping é uma sombra sobre a Copa do Mundo?
Não. Todo o controle antidoping na Copa do Mundo está sob autoridade e supervisão da Fifa. Como ocorreu em 2014 no Brasil, a Fifa fará os testes fora do país, como já foi na Copa das Confederações. Com relação às alegações contra a Rússia e jogadores russos, apenas posso reiterar o que foi dito. Os jogadores russos seguem sendo testados em competições internacionais e passarão pelo rigoroso controle da Fifa que é aplicado a todos os participantes.
A eleição presidencial no dia 18 de alguma maneira afeta a preparação para a Copa?
Ao mesmo tempo em que contamos com todo o apoio do governo federal e do presidente da Rússia, a eleição não afetará nosso trabalho. Ao longo dos últimos sete anos, nos preparamos para receber a Copa no mais alto nível. Todas as decisões estratégicas foram tomadas e estamos agora na fase final de execução.
Qual papel do presidente Vladimir Putin na organização?
O presidente é o mandatário do comitê supervisor do COL. Ele controla o órgão. Ele participa dos encontros e de todas as decisões importantes. É natural que ele não se junte a nós todas as semanas, mas periodicamente nos reunimos. O presidente Putin está a par dos acontecimentos.
Nesta terça-feira (6) faltarão 100 dias para a Copa. Quais são as maiores preocupações?
Tenho orgulho de dizer que não temos grandes preocupações. Estádios estão sendo finalizados, inspecionados e serão testados. Focamos a parte operacional dos jogos e da organização da competição em si, serviços aos espectadores, transporte e segurança.
O Brasil recebeu a Copa em 2014 e a Olimpíada em 2016 e muitas coisas relacionadas à infraestrutura foram entregues no último minuto. Isso acontecerá na Rússia?
Sem a intenção de comparar os dois países, eu gostaria de dizer que a Rússia está acostumada a receber grandes eventos esportivos. Muitas vezes provamos que somos anfitriões capazes e cordiais, permitindo que os atletas se apresentem no mais alto nível. Os espectadores aproveitarão os eventos em ambiente seguro e de muita hospitalidade.
Houve um problema relacionado com a saída do público do estádio Lujniki no amistoso entre Rússia e Argentina. Esta questão de saída das pessoas foi solucionado? Podemos esperar um estádio livre de problemas no amistoso entre Brasil e Rússia no dia 23 de março?
Conduzimos criteriosa análise com todos os envolvidos para entender o que causou este problema com os torcedores saindo e chegamos a nossas conclusões. Este é objetivo dos jogos-testes: encontrar os pontos fracos antes da Copa e tomar as medidas necessárias. A partida contra o Brasil será uma boa oportunidade para nós e autoridades para elevar ao máximo nossa preparação.
O COL fica feliz em ter o maior campeão das Copas jogando no país antes do Mundial?
Penso que é justo dizer que todo mundo aqui na Rússia - jogadores e torcedores assim como as pessoas comuns - está empolgado para este jogo. O seu país é tido como a casa do 'jogo bonito' e admirado em todo o mundo.
Na era das mídias sociais há muitas fake news sendo divulgadas. Isso preocupa o COL?
Você certamente deve ter notado que o COL e a Rússia estão informando tudo da maneira mais transparente possível. Claro que estamos monitorando tudo que é publicado sobre o páis e nosso trabalho e sabemos bem diferenciar quais são as notícias falsas e corretas e nos pronunciar quando seja necessário.
A mídia britânica tem publicado matérias negativas sobre o Mundial. Há uma campanha britânica contra a Copa? A porta-voz do Ministro de Relações Exteriores, Maria Zakharova, disse isso.
Fomentar o medo ou trazer à tona assuntos irrelevantes fora de proporção antes de grandes eventos não é algo novo. Isso é o suficiente para dizer que nosso trabalho está sendo seguido de forma mais crítica em alguns países do que em outros. Do ponto de vista operacional, não é relevante. O que é relevante é que se houver problema, o COL e as autoridades irão agir.
Racismo, homofobia. Estas questões preocupam o COL?
Todos os visitantes da Rússia, independentemente de raça, gênero, religião ou orientação sexual podem esperar uma recepção calorosa. Estamos empenhados com a Fifa na campanha antidiscriminação. Estou convicto de que a Copa vai catalisar mudanças dessas percepções. Queremos fazer da Rússia um exemplo para todos. Nós queremos ser o melhor país-sede da Copa.
O Estado Islâmico fez propaganda ameaçando o torneio, atletas e seleções. Preocupa?
Como país-sede, a Rússia e todas as autoridades consideram a segurança a prioridade número 1. Desde o estágio de candidatura e durante toda a preparação, um grande esquema foi concebido e desenvolvido. Implementamos este sistema com sucesso na Copa das Confederações. Nosso esquema foi aclamado pela Fifa, seleções e espectadores.
À medida que a Copa está chegando, seguem as discussões com os mais variados setores para finalizarmos a estratégia de segurança. Cenários para todos os tipos de potenciais ataques foram levados em conta. Nosso conceito não muda nem com as ameaças do Estados Islâmico.
A Rússia terá medidas abundantes de segurança. Tudo será organizado para não incomodar os fãs.
Os hooligans ameaçam?
Como você viu na Copa das Confederações, estamos confiantes de que a segurança estará no mais alto nível. Estamos satisfeitos com o sistema do Fan ID (identidade do fã). O compartilhamento de informações entre as autoridades russas e de outros países impedirão hooligans de entrar na Rússia. O serviço de segurança russo e a segurança particular nos estádios garantirão que a celebração vai ocorrer sem problemas.
Sabemos da tensão existente entre Rússia e Ucrânia e como as relações diplomáticas estão deterioradas. Os torcedores ucranianos serão bem recebidos na Rússia? E os jornalistas ucranianos que quiserem cobrir o torneio?
Por quê não? A Rússia vai garantir a segurança de jornalistas ucranianos, assim como de todos os outros países que vierem aqui trabalhar. É impossível fazer segurança seletiva, seja por grupos étnicos ou qualquer outro tipo. A segurança de todos estará garantida.
O trabalho para a cerimônia está em andamento e claro que queremos que quem esteja no estádio ou vendo pela TV relembre dela nem que seja por instantes. Mas você precisa entender que há limitações dado o fato que ela acontece no campo de jogo. Então temos que saber balancear o espetáculo e a não agressão ao gramado.
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