Patinadora brasileira recusa convite para competir com americano

Após resultado histórico na Coreia do Sul, Isadora disputa Mundial em Milão

A patinadora brasileira Isadora Williams durante os Jogos de Inverno de PyeongChang
A patinadora brasileira Isadora Williams durante os Jogos de Inverno de PyeongChang - Phil Noble - 23.fev.2018/Reuters
Gustavo Longo
São Paulo

Primeira latino-americana a chegar a uma final da patinação artística nos Jogos Olímpicos de Inverno, em fevereiro, na Coreia do Sul, Isadora Williams, 22, voltará a competir nesta quarta (21), no Mundial, em Milão, na Itália, representando o Brasil. Poderia ser diferente. 

Após a apresentação na Coreia, a brasileira, nascida nos Estados Unidos, recebeu convite para mudar de equipe no Mundial. A proposta foi feita por um atleta americano que queria ela como par. Não houve um contato oficial da confederação.

“Adoro patinar e ir às competições representando o Brasil. Não me vejo representando outra bandeira. Já vieram atrás de mim com proposta para competir nos ‘pares’, mas recusei”, afirmou Isadora à Folha. 

A brasileira não revelou o nome do atleta que fez o convite. Ele gostaria de formar dupla com ela para competir pelos Estados Unidos nos “Pares”, categoria da patinação com dois atletas.

A ISU (União Internacional de Patinação), órgão máximo do esporte, não impede que um atleta troque de nacionalidade —desde que ele se desvincule da federação de seu antigo país e esteja filiado corretamente na nação que irá representar.

Por ter dupla cidadania, Isadora poderia competir livremente pelos Estados Unidos se ela se filiasse à USFSA (federação norte-americana de patinação artística) e se desvinculasse da CBDG (Confederação Brasileira de Desportos no Gelo). Além disso, nos “Pares”, ela poderia participar de torneios internacionais pela nação de seu parceiro sem ter que passar pelo processo de naturalização —mas esse processo é obrigatório para os Jogos Olímpicos. 

Contudo, a ideia sequer foi considerada por Isadora Williams. Após conversar com a família e com seus treinadores, ela decidiu que está disposta a encarar mais um ciclo olímpico pelo Brasil e tentar a vaga aos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2022.

“Os pensamentos invadiram a minha cabeça [após PyeongChang]. Falei que não tinha certeza sobre Pequim-2022, mas o meu treinador ficou bravo e disse que tenho muito potencial a ser desenvolvido ainda”, comentou. 

Nesta quarta (20), a brasileira compete no programa curto, a partir das 6h45 no horário de Brasília. As regras são as mesmas dos Jogos Olímpicos: ela precisa terminar entre as 24 melhores para avançar ao programa longo, na sexta-feira, dia 23. Em 2013, Isadora terminou na 25ª colocação do Mundial, ainda hoje o melhor resultado do Brasil na história da competição. 

Aos 22 anos e vivendo a melhor fase da carreira, a brasileira busca inspiração na italiana Carolina Kostner, italiana campeã mundial em 2012 e que segue competindo em alto nível mesmo aos 31 anos. Uma raridade em um universo dominado por adolescentes – Alina Zagitova, medalha de ouro em PyeongChang, tem apenas 15 anos.  

Ela condiciona o próximo ciclo olímpico à garantia de que terá apoio financeiro para encarar mais quatro anos de competições e treinos. Após o Mundial, Isadora irá conversar com a confederação  para ver a verba disponível da entidade para a sequência do trabalho da brasileira na patinação artística. 

“Sem apoio eu não tenho condições. Não tenho patrocínio e sou estudante universitária. Aqui as universidades são caríssimas e ainda tenho dois anos para terminar meus estudos.” 

MÚSICA BRASILEIRA

Enquanto ainda busca uma definição para os próximos quatro anos, Isadora Williams já inicia o planejamento para o que pretende fazer após o Mundial. Ela definiu que seu programa curto terá uma música brasileira na próxima temporada, que começa no segundo semestre de 2018. 

“Tive muitos pedidos dos fãs para fazer um programa com música brasileira. Gosto de músicas mais antigas, como “Águas de Março” e “Mais que Nada” e já estou testando estas duas canções”, afirmou. 

Essa não será a primeira vez que Isadora utilizará músicas brasileiras em suas apresentações. Em 2016, seu programa longo era uma combinação de músicas brasileiras que incluía “Águas de Março”, “Brasileirinho”, “Mais que Nada” e “Bachianas”, de Villa-Lobos. 

Ela também definiu que outra música brasileira estará presente na sua apresentação de gala, evento que acontece no encerramento de competições e que reúne os melhores atletas.

“Como é algo mais descontraído e divertido, estou pensando usar o ‘Vai Malandra’, da Anitta”, diz.

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