Prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil se mantém atuante no Atlético-MG

Ex-presidente do clube mineiro é acusado por vereador de usar o time em barganha política

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Homem sentado com mão no queixo, em frente a microfones
O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), apresenta no plenário da Câmara Municipal balanço de sua gestão Politica - Alex de Jesus/O Tempo/Folhapress
Belo Horizonte

​O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), não abandonou completamente seu cargo anterior, o de presidente do Atlético-MG, após assumir o comando do Executivo da capital mineira.

Desde o início do mandato, em janeiro de 2017, a condução da prefeitura e do time se confundem —seja em viagens do prefeito e dos secretários ou em recente acusação de barganha na Câmara.

Kalil, porém, nega haver conflito de interesses e diz que participa muito pouco da administração do Atlético.

O principal indício de uso político do clube pelo prefeito veio de acusação do vereador Gabriel Azevedo (PHS).

Coordenador da campanha de Kalil, mas brigado com ele desde janeiro, Azevedo disse que o filho do vereador Jair Di Gregório (PP) ingressou na categoria de base do time em troca de apoio na Câmara.

Azevedo, que é conselheiro do clube mineiro, divulgou nas redes sociais a gravação de uma conversa telefônica em que o secretário de Desenvolvimento de Belo Horizonte, Daniel Nepomuceno, que até dezembro dividia a função com a presidência do Atlético, lhe confirmaria a barganha: "Eu não posso falar nada, isso é verdade. O filho dele está lá [no Atlético]."

A gravação transformou as sessões da Câmara Municipal em um campo de guerra. Jair Di Gregório entrou com pedido de quebra de decoro. A base de Kalil também acusa Azevedo de irregularidades.

Não é a primeira vez que Nepomuceno causa desgaste ao prefeito. Em abril do ano passado, Kalil soube por publicação em uma rede social que o secretário havia pedido licença não remunerada para ir à Itália assistir a um jogo da Liga dos Campeões.

Em janeiro, Nepomuceno viajou a Portugal para negociar a contratação de Elias.

Outros nomes relacionados ao Atlético também estão no primeiro escalão da prefeitura da capital mineira: o secretário da Fazenda, Fuad Noman, é conselheiro do clube, e Adriana Branco, ex-diretora executiva, é a secretária de Assuntos Institucionais e Comunicação Social.

"Eleito que fui, com expressiva votação, não pretendo consultar a ninguém sobre os cargos de minha inteira confiança", disse Kalil.

Há um ano, já como secretária, Branco tirou quatro dias de licença não remunerada para acompanhar a estreia do time na Libertadores, na Argentina. Em foto da viagem, aparece ao lado de Cacá Moreno, publicitário da Perfil 252, que presta serviço ao Atlético e ao município.

O contrato entre a agência e a prefeitura foi firmado em 2014, na gestão do ex-prefeito Márcio Lacerda (PSB), e renovado duas vezes. A prefeitura chegou a notificar a empresa de que haveria uma nova licitação, mas desistiu e renovou até novembro de 2018.

A Uber também mantém relações com o clube e com a prefeitura. A empresa patrocina o Atlético-MG e o Carnaval de Belo Horizonte.

Ao menos três contratos de patrocínio do clube foram discutidos na prefeitura.

Segundo relatos de pessoas próximas à administração do Atlético, Kalil segue atuando nas principais decisões, como patrocínios e contratações. Representantes do time costumam se encontrar com ele na sede da prefeitura.

Kalil disse que não comete irregularidades. "Também recebi dirigentes do América-MG e do Cruzeiro", afirmou.

ESTÁDIO

Em setembro de 2017, Kalil usou um jato particular de Rubens Menin, dono da construtora MRV (uma das patrocinadoras do clube), para ir ao Rio, numa quinta-feira, almoçar com o empresário e o jornalista Chico Pinheiro, conselheiro do Atlético.

Menin, de quem Kalil diz ser amigo, doou R$ 200 mil para a campanha do prefeito. A MRV, por sua vez, doou um terreno para a construção do futuro estádio do Atlético. A empresa ainda pagará R$ 60 milhões pelos naming rights da Arena MRV.

O almoço aconteceu para apaziguar uma briga entre os dois, iniciada após Pinheiro questionar em rede social a escolha da MRV pelo clube, pois a empresa havia sido denunciada por trabalho escravo. No encontro, Kalil esclareceu que a construtora foi absolvida no processo.

Uma foto do encontro foi publicada por Pinheiro com a seguinte legenda: "Em almoço no Rio, Rubens Menin, da MRV Engenharia, ratificou o compromisso com a conduta ética nas relações de trabalho e com o Atlético-MG".

Nepomuceno, presidente do Atlético na época, também participou do encontro.

O Atlético-MG deve gastar R$ 410 milhões para a construção do novo estádio, que será financiado pelo próprio clube, sem dinheiro público.

A obra foi aprovada no conselho do clube, mas ainda depende de aval dos vereadores. Cabe justamente ao prefeito enviar o projeto de lei autorizando a construção do estádio à Câmara. A prefeitura participa ainda nas etapas de licenciamento e liberação de alvarás.

Kalil foi à sessão do conselho que aprovou a construção do estádio. Votou à tarde e foi à comemoração à noite, o que inviabilizou encontro com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

Prefeito diz que não favorecerá a sua agremiação

O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, nega haver conflito de interesse nas relações com o Atlético-MG.

"Se alguém está achando que vai fazer estádio irregular, sem todas as normas, sem [aprovação da secretaria de] Meio Ambiente, sem a Secretaria de Política Urbana, está enganado", disse à Folha.

Kalil confirmou que viajou ao Rio com Rubens Menin, dono da construtora MRV, mas negou que o encontro com Chico Pinheiro tivesse relação com o clube.

Ele disse que a viagem ter acontecido em dia de expediente não atrapalhou sua agenda na prefeitura.

Kalil afirma não ver problema em secretários tirarem licenças não remuneradas para irem a eventos do clube desde que isso não atrapalhe o trabalho na prefeitura.

O prefeito declarou ainda que respeitou a legislação ao renovar o contrato de publicidade com a Perfil 252 sem licitação e classificou o procedimento como normal.

Kalil negou ter atuado para conseguir uma vaga nas categorias de base do Atlético-MG para o filho do vereador Jair Di Gregório.

Di Gregório confirmou que intermediou a participação de seu filho Jairzinho, 18, em um teste com o secretário de Desenvolvimento, Daniel Nepomuceno, então presidente da agremiação alvinegra.

"Pedi teste ao então presidente Daniel Nepomuceno. [...] Minha conversa com Daniel foi sempre informal."

Gregório disse ainda que o filho joga desde os quatro anos e se profissionalizou no Vila Nova no ano passado.

Segundo o diretor de comunicação do Atlético, Domênico Bhering, Jairzinho participa de testes no clube, podendo ser contratado ou dispensado a partir do seu desempenho. O clube não quis comentar os outros casos tratados na reportagem.

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