Descrição de chapéu Copa do Mundo

Técnicos brasileiros desaparecem da luta por vaga na Copa do Mundo

Antes requisitados, treinadores vivem perda de prestígio para comandar equipes em eliminatórias

Álvaro Fagundes Daniel E. de Castro
São Paulo

​A sequência de fracassos do Brasil nas últimas Copas afundou o prestígio de um típico produto de exportação do futebol do país: os treinadores brasileiros praticamente desapareceram das seleções estrangeiras.  

Levantamento da Folha em todos os jogos das últimas quatro eliminatórias para a Copa do Mundo mostra que a presença de técnicos do Brasil no exterior entrou em queda depois do Mundial da Alemanha, em 2006.

No qualificatório para aquela Copa, na sequência do penta, 16 países tiveram brasileiros no comando das suas equipes nacionais —de Portugal a Togo. Na fase de classificação para a Copa deste ano, três selecionados de pouca expressão recorreram a um nome do país: Barbados, Belize e Timor-Leste.

Se os brasileiros perderam espaço, outras nacionalidades avançaram em prestígio.

Nas eliminatórias para o Mundial russo, técnicos argentinos e espanhóis dominaram o mercado com franceses e alemães, cujas nações são tradicionais exportadoras dessa mão de obra.

A Argentina terá o maior número de treinadores na Copa deste ano. Das 32 seleções classificadas, quatro, além do próprio time albiceleste, são comandadas por nomes do país vizinho.

O único brasileiro nessa função será Tite, assim como Luiz Felipe Scolari foi o único representante em 2014.

PRESTÍGIO EM BAIXA

A demanda de seleções estrangeiras por técnicos do Brasil é antiga. No fim da década de 1960, o bicampeão mundial Didi levou a seleção peruana à Copa do Mundo, e Carlos Alberto Parreira, aos 24 anos, tornou-se treinador de Gana.

Nas décadas seguintes, vários países interessados em desenvolver o futebol recorreram a brasileiros, respaldados pelos currículos e também pelo prestígio associado à seleção canarinho.

A queda verificada neste século é motivada, segundo profissionais da área, por um conjunto de fracassos.

Nessa lista estão resultados ruins nas últimas edições de Copa do Mundo e Copa América, conhecimento limitado dos técnicos do país e dificuldades para entrar no mercado internacional.

"Os trabalhos são avaliados de acordo com o sucesso. Se há retração nesse número, significa que não temos tido o sucesso necessário", diz Paulo César Carpegiani, hoje treinador do Flamengo e que já comandou Paraguai e Kuait.

Para René Simões, que levou a Jamaica à Copa de 1998, na França, "ninguém passa impune pelo 7 a 1", mas a razão para a queda vai além do vexame contra a Alemanha.

A equação composta pelo treinador é mais complexa e inclui desde mudanças no futebol mundial até a gestão do francês Michel Platini na direção da Uefa (organismo que comanda o esporte na Europa), de 2007 a 2015.

Segundo ele, uma das explicações é que o treinamento moderno do atleta exige três fases: pensar (entender o que está fazendo em campo), decidir (dar autonomia, sem instrução do técnico até sobre para quem passar na lateral) e executar.

O técnico brasileiro, porém, virou especialista só na última etapa, que inclui aprimorar fundamentos como finalização e cruzamento.

"Os brasileiros eram peritos em fazer a cintura deles amolecer", afirma René, que também comandou as seleções de Trinidad e Tobago e Costa Rica em eliminatórias.

Já a entrada de Platini na Uefa significou a ascensão de profissionais franceses em posições-chave nas federações, que somou-se à penetração de treinadores do país pelo mundo e deu vantagem a essa escola. "Ele botou francês em tudo que é lugar."

Pesa ainda contra os brasileiros uma questão trabalhista. Ex-técnico de Jamaica e Qatar, Sebastião Lazaroni diz que a Uefa e a federação asiática praticam reserva de mercado, já que não reconhecem automaticamente a licença profissional emitida em cursos da confederação brasileira.

A CBF negocia atualmente o reconhecimento do diploma brasileiro na Europa. Na Ásia, segundo a entidade, alguns países pedem a confirmação de que o técnico do país passou por uma formação.

OTIMISMO

Apesar do declínio verificado, o momento é de otimismo para os entrevistados. "Resultados momentâneos não são superiores ao sucesso da escola brasileira. [Uma mudança] passa pelo Tite, que vem resgatando uma forma de jogo, e pelo próximo Mundial", afirma Lazaroni.

"O treinador brasileiro é referência, não à toa conquistamos cinco Copas com técnicos da casa", diz Carpegiani.

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