Como os Beatles, o ataque do Liverpool era chamado de “The Fab Four” (os quatro fabulosos, em inglês). Até o final de 2017 era assim: Mané, Salah, Coutinho e Firmino.
O que fazer quando um deles é vendido, como aconteceu com Philippe Coutinho? Alguém precisa se destacar para compensar a ausência.
“Agora ele não é mais subestimado. É um jogador fundamental”, afirma o técnico do Liverpool Jurgen Klopp.
“Ele” é Roberto Firmino, 26, habituado a não ser tão valorizado. Em 2011, quando chegou ao Hoffenheim, da Alemanha, a diretoria do clube foi criticada por pagar R$ 16 milhões (em valores atuais) para contratar um desconhecido atacante brasileiro, que estava longe de ser o protagonista de um dos mais perigosos ataques da Europa.
Ao chegar ao Liverpool, em 2015, o jogador se acostumou a ouvir comparações do futebol com a música, mais especificamente com os Beatles.
Apesar de admitir que rock não é seu estilo preferido, ele conta que passou a apreciar mais as músicas da banda inglesa após chegar ao clube.
“Não tem como não gostar dos Beatles, ainda mais morando em Liverpool. Conheço a banda, digamos, por esbarrar com ela pelos cantos”, disse o jogador, que nesta terça (6) enfrenta o Porto pelo jogo de volta das oitavas da Liga dos Campeões —na partida de ida, em Portugal, ele marcou um dos gols da vitória do time inglês por 5 a 0.
Embora Paul, John, George e Ringo não gostassem de futebol, há uma ligação entre clube, torcida e cidade.
No documentário “Eight Days a Week” (oito dias por semana), milhares de torcedores do Liverpool cantam “She Loves You” (ela ama você), um dos maiores hits dos Beatles, na arquibancada do estádio de Anfield, para celebrar o título nacional de 1965.
“A torcida do Liverpool é muito apaixonada. Isso é um combustível”, afirma, omitindo outro fator que o faz ser um dos jogadores que mais se movimentam em campo durante os 90 minutos: a chance de ir à Copa.
“Não há o que questionar nele. Pessoas que sabem ver futebol sabem como julgá-lo”, sentenciou Klopp, fã incondicional do brasileiro, um dos nomes certos na lista de Tite para o Mundial russo.
Sem posição fixa no ataque e entrosado com Mané e Salah, Firmino é um dos destaques do Inglês. Um dinamismo que contrasta com sua personalidade calma, de falar pouco fora de campo.
“A vida é muito boa aqui”, constata, sobre a cidade. Tão boa que, de acordo com o Liverpool Echo, jornal local, o clube pode usar parte do dinheiro da venda de Coutinho (R$ 640,5 milhões) para renovar o contrato do atacante.
Firmino é de opostos. Calado fora dos gramados, elétrico dentro. Tímido na vida privada e exibicionista nas redes sociais, graças às fotos que sua mulher posta. Reservado no contato com jornalistas, chama a atenção pelo estilo de se vestir com roupas da moda. Tratamento para clarear os dentes o deixaram com branco que parece pouco natural. Foram colocadas lentes de contato dentais. O tratamento chega a R$ 50 mil.
“Não sou vaidoso, mas gosto de me cuidar, de me vestir bem, de estar bem comigo mesmo. Sempre fui muito preocupado com a minha saúde”, afirma.
7 a 1
Nascido em Maceió, Firmino chamou a atenção pela primeira vez no futebol pelo lado do folclore. O ex-goleiro Lutz Pfannenstiel, olheiro do Hoffenheim, confessou ter usado dados de um jogo de computador para indicá-lo.
Isso poderia ter marcado de maneira negativa o atacante que estava no Figueirense, se não tivesse dado certo na Europa. Logo isso deixou de ser uma preocupação.
“Ele era frágil e magro, mas aprendeu a mentalidade alemã e trabalhou muito, foi disciplinado. Ninguém sabia sobre ele quando chegou. Era um papel em branco. Aprendeu a língua alemã rápido e parecia ser um daqueles jogadores que assimilam a nossa forma de jogar muito facilmente”, diz Pfannenstiel.
Aprender a mentalidade germânica pode ser útil para Tite. A Alemanha será uma das principais rivais do Brasil na briga pelo título mundial. Os times podem até se enfrentar nas oitavas de final.
Há ainda o detalhe de reverter a imagem da goleada de 7 a 1 da semifinal de 2014. Quando ela aconteceu, Firmino vivia na Alemanha.
“Isso foi um assunto por muito tempo. Pelo menos comigo sempre foi [tratado] com respeito. Todos sabem que o Brasil é pentacampeão. Os jogadores [atuais] do Brasil não vão entrar em campo pensando naquela goleada. O momento é outro. A gana de vestir a camisa da seleção é sempre a mesma. Sempre foi e sempre será assim”, diz.
Prestes a disputar o primeiro Mundial da carreira, adorado pelo técnico e torcida do Liverpool, Roberto Firmino não esconde a felicidade que sente por ser querido. E como diriam os Beatles, “com um amor como esse, você sabe que deveria ser grato”.
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