Vaidoso e adorado em Liverpool, Firmino sonha com a Copa do Mundo

Um dos nomes certos de Tite no Mundial, atacante faz parte de um dos melhores ataques da Europa

Roberto Firmino comemora gol do Liverpool sobre o Porto, na partida de ida das oitavas de final da Liga dos Campeões fazendo sinal de coração
Roberto Firmino comemora gol do Liverpool sobre o Porto, na partida de ida das oitavas de final da Liga dos Campeões - Matthew Childs - 14.fev.2018/Reuters
Alex Sabino
São Paulo

Como os Beatles, o ataque do Liverpool era chamado de “The Fab Four” (os quatro fabulosos, em inglês). Até o final de 2017 era assim: Mané, Salah, Coutinho e Firmino.

O que fazer quando um deles é vendido, como aconteceu com Philippe Coutinho? Alguém precisa se destacar para compensar a ausência.

“Agora ele não é mais subestimado. É um jogador fundamental”, afirma o técnico do Liverpool Jurgen Klopp.

“Ele” é Roberto Firmino, 26, habituado a não ser tão valorizado. Em 2011, quando chegou ao Hoffenheim, da Alemanha, a diretoria do clube foi criticada por pagar R$ 16 milhões (em valores atuais) para contratar um desconhecido atacante brasileiro, que estava longe de ser o protagonista de um dos mais perigosos ataques da Europa.

Ao chegar ao Liverpool, em 2015, o jogador se acostumou a ouvir comparações do futebol com a música, mais especificamente com os Beatles.

Apesar de admitir que rock não é seu estilo preferido, ele conta que passou a apreciar mais as músicas da banda inglesa após chegar ao clube.

“Não tem como não gostar dos Beatles, ainda mais morando em Liverpool. Conheço a banda, digamos, por esbarrar com ela pelos cantos”, disse o jogador, que nesta terça (6) enfrenta o Porto pelo jogo de volta das oitavas da Liga dos Campeões —na partida de ida, em Portugal, ele marcou um dos gols da vitória do time inglês por 5 a 0.

Embora Paul, John, George e Ringo não gostassem de futebol, há uma ligação entre clube, torcida e cidade. 

No documentário “Eight Days a Week” (oito dias por semana), milhares de torcedores do Liverpool cantam “She Loves You” (ela ama você), um dos maiores hits dos Beatles, na arquibancada do estádio de Anfield, para celebrar o título nacional de 1965. 

“A torcida do Liverpool é muito apaixonada. Isso é um combustível”, afirma, omitindo outro fator que o faz ser um dos jogadores que mais se movimentam em campo durante os 90 minutos: a chance de ir à Copa.

“Não há o que questionar nele. Pessoas que sabem ver futebol sabem como julgá-lo”, sentenciou Klopp, fã incondicional do brasileiro, um dos nomes certos na lista de Tite para o Mundial russo. 

Sem posição fixa no ataque e entrosado com Mané e Salah, Firmino é um dos destaques do Inglês. Um dinamismo que contrasta com sua personalidade calma, de falar pouco fora de campo. 

“A vida é muito boa aqui”, constata, sobre a cidade. Tão boa que, de acordo com o Liverpool Echo, jornal local, o clube pode usar parte do dinheiro da venda de Coutinho (R$ 640,5 milhões) para renovar o contrato do atacante.

Firmino é de opostos. Calado fora dos gramados, elétrico dentro. Tímido na vida privada e exibicionista nas redes sociais, graças às fotos que sua mulher posta. Reservado no contato com jornalistas, chama a atenção pelo estilo de se vestir com roupas da moda. Tratamento para clarear os dentes o deixaram com branco que parece pouco natural. Foram colocadas lentes de contato dentais. O tratamento chega a R$ 50 mil.

“Não sou vaidoso, mas gosto de me cuidar, de me vestir bem, de estar bem comigo mesmo. Sempre fui muito preocupado com a minha saúde”, afirma.

7 a 1

Nascido em Maceió, Firmino chamou a atenção pela primeira vez no futebol pelo lado do folclore. O ex-goleiro Lutz Pfannenstiel, olheiro do Hoffenheim, confessou ter usado dados de um jogo de computador para indicá-lo.

Isso poderia ter marcado de maneira negativa o atacante que estava no Figueirense, se não tivesse dado certo na Europa. Logo isso deixou de ser uma preocupação.

“Ele era frágil e magro, mas aprendeu a mentalidade alemã e trabalhou muito, foi disciplinado. Ninguém sabia sobre ele quando chegou. Era um papel em branco. Aprendeu a língua alemã rápido e parecia ser um daqueles jogadores que assimilam a nossa forma de jogar muito facilmente”, diz Pfannenstiel.

Aprender a mentalidade germânica pode ser útil para Tite. A Alemanha será uma das principais rivais do Brasil na briga pelo título mundial. Os times podem até se enfrentar nas oitavas de final.

Há ainda o detalhe de reverter a imagem da goleada de 7 a 1 da semifinal de 2014. Quando ela aconteceu, Firmino vivia na Alemanha.

“Isso foi um assunto por muito tempo. Pelo menos comigo sempre foi [tratado] com respeito. Todos sabem que o Brasil é pentacampeão. Os jogadores [atuais] do Brasil não vão entrar em campo pensando naquela goleada. O momento é outro. A gana de vestir a camisa da seleção é sempre a mesma. Sempre foi e sempre será assim”, diz.

Prestes a disputar o primeiro Mundial da carreira, adorado pelo técnico e torcida do Liverpool, Roberto Firmino não esconde a felicidade que sente por ser querido. E como diriam os Beatles, “com um amor como esse, você sabe que deveria ser grato”.

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