Cesta mágica e torcida barulhenta tornam Basquete Cearense sensação do NBB

Equipe de Fortaleza joga pela sobrevivência nesta quarta, contra o Paulistano

Daniel E. de Castro
São Paulo

Uma cesta inusitada fez a imagem do Basquete Cearense, equipe de Fortaleza que disputa o NBB (liga nacional da modalidade), se espalhar pelo mundo.

Em 21 de março, ainda na temporada regular, Paulinho Boracini foi para a linha de lance livre a dois segundos do fim do jogo, com seu time três pontos atrás do Bauru.

Ele converteu o primeiro arremesso. Como só mais um ponto não bastaria, o armador errou o segundo de propósito, pegou o próprio rebote e acertou bola de três pontos da lateral da quadra, praticamente sem ângulo.

O vídeo se espalhou por grupos de WhatsApp e viralizou. Foi parar nas redes sociais de veículos de comunicação dos EUA, como a ESPN.

"Quando eu olhei meu celular e vi a quantidade de mensagens de pessoas que há tempos não falavam comigo, me deu o estalo de que ganharia repercussão", afirma Thalis Braga, 32, presidente da Associação Basquete Cearense.

Se em dois segundos o clube viu sua exposição internacional explodir, um trabalho bem mais longo e caseiro tem guiado o planejamento nos seus seis anos de existência.

O projeto em Fortaleza começou por iniciativa de Alberto Bial, 65, técnico que já passou por vários clubes do basquete brasileiro. No time do Ceará, ele se divide entre o papel de gestor e de comandante dos jogadores em quadra.

A equipe foi fundada em 2012 e tornou-se a primeira do Nordeste a disputar o NBB –​hoje o Vitória (BA) também representa a região.

Dos 15 participantes da liga nesta temporada, 10 são do Sudeste e 3 do Sul. Ser pioneiro onde a cultura do esporte não se destacava foi uma das dificuldades encaradas pelos líderes do projeto.

Para Bial, o apoio da associação a programas sociais na cidade ajudou a mobilizar a população. Outro movimento foi convencer as pessoas de que um jogo de basquete pode ser um programa de lazer para a família, distante da rivalidade protagonizada por Ceará e Fortaleza no futebol.

"Não tem ginásio nenhum no Brasil que faça um show como o do Basquete Cearense", diz. No pacote de entretenimento das partidas, destaque para o carcará, ave mascote que dá o apelido do time.

Bandeira da torcida do Basquete Cearense aberta no ginásio
Ginásio Paulo Sarasate, onde a equipe de Fortaleza manda suas partidas, durante 1º jogo das quartas contra o Paulistano - Stephan Eilert - 16.abr.18/Divulgação Basquete Cearense


Dos 5 maiores públicos do NBB na temporada, 2 são deles, inclusive o maior: 8.115 torcedores estiveram no ginásio Paulo Sarasate no confronto que garantiu vaga nas quartas de final. Os cearenses têm 4 dos 20 maiores públicos da história da competição.

Além de crescer, a barulhenta e participativa torcida transformou-se numa aliada dos atletas em quadra, segundo o armador Davi Oliveira, 25, que participa da associação desde o seu início.

"Hoje, são muitas pessoas que realmente torcem, não são só espectadores procurando lazer. Sabem pressionar a arbitragem quando ela apita algo duvidoso, a diferença de torcer na defesa e no ataque. No início não tinha essa característica", afirma.

Segundo o atleta, fãs de basquete passaram a discutir com propriedade o desempenho da equipe e até ajudar o time com conselhos técnicos.

O próximo passo do projeto, segundo Bial, é investir num ginásio próprio (o Paulo Sarasate pertence à prefeitura) para que equipes desde os oito anos de idade treinem no mesmo espaço.

Hoje, quatro atletas do elenco são formados no Ceará, motivo de orgulho para ele. “Passou de um movimento para uma revolução dentro do esporte brasileiro”, diz.

O Basquete Cearense recebe o Paulistano, atual vice-campeão, às 19h30 desta quarta (25) para o jogo quatro das quartas de final do NBB.

A série está 2 a 1 para o clube de São Paulo, que passará à semifinal se vencer. A equipe de Fortaleza precisa da vitória para forçar a quinta partida e continuar em busca de uma semifinal inédita.

A expectativa é de casa cheia. Em apenas dois setores do ginásio os ingressos são cobrados. Nos demais, a entrada pode ser trocada por um quilo de alimento.

Na TV
Basq. Cearense x Paulistano
19h30, SporTV 3
 

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