COB vai vestir marca chinesa de graça até a Olimpíada de Tóquio

Comitê Olímpico Brasileiro usará os uniformes da Peak Sport até 2024

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Uniformes da Peak Sport
Uniformes da nova fornecedora de material esportivo do COB, a empresa chinesa Peak Sport - Alexandre Castello Branco/COB
Demétrio Vecchiolli
UOL

Depois de vestir os uniformes da Nike durante cinco anos, entre 2012 e 2016, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) firmou no ano passado um contrato com uma nova fornecedora de material esportivo: a Quanzhou Peak Shoes, mais conhecida como Peak  Sport, válido até o final de 2024. O dado mais surpreendente sobre o acordo tornou-se público no balanço financeiro anual do COB: o comitê não vai receber um centavo em dinheiro dos chineses, pelo menos até o fim de 2020.

O contrato para o atual ciclo foi fechado em R$ 7,877 milhões e estipula apenas o pagamento em forma de VIK (value in kind, em inglês), o que no bom português é chamado de permuta. Ou seja: a Peak vai entregar uniformes e o Time Brasil vai usá-los até o fim de 2020. Esses uniformes custam o equivalente a R$ 7,8 milhões.

Em contato com a Folha, o COB afirmou, via assessoria de imprensa , que a configuração do contrato poderá ser alterada a partir de dezembro de 2020

Não é possível uma comparação exata com os valores pagos pela Nike porque o modelo de negócio é muito diferente. Entre 2009 e 2016, o COB viveu um período chamado de “máscara olímpica”, no qual não podia firmar patrocínios individuais, mas recebia uma porcentagem do que arrecadava o Comitê Organizador dos Jogos Rio-2016. Em teoria, deveria receber mais de R$ 120 milhões (de 2009, corrigidos anualmente a partir do saldo remanescente) para estampar as marcas olímpicas.

O contrato com a Nike fazia parte desse amplo acordo, com o COB recebendo dinheiro do Comitê Rio-2016 e comprando material da empresa norte-americana. Ou seja: o custo do material esportivo era descontado do total recebido pelo COB. Em 2016, por exemplo, o COB gastou o equivalente a R$ 5,6 milhões em materiais esportivos. No total, em quatro anos, foram movimentados R$ 11,4 milhões.

Agora, o valor cai para R$ 7,8 milhões, apenas. Mesmo sem qualquer redução do escopo do serviço, que envolve 150 mil peças. O Time Brasil vai continuar participando do mesmo número de eventos, entre eles quatro edições dos Jogos Olímpicos: PyeongChang-2018 (inverno), Buenos Aires-2018 (Juventude), Lausanne-2020 (inverno, da Juventude) e Tóquio-2020 (verão). Além disso, o Brasil vai usar Peak nos Jogos Pan-Americanos de Lima-2019 e nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, no mês que vem.

A assinatura do contrato com a Peak surpreendeu porque a empresa chinesa não é expressiva no mercado, fornecendo material para 12 comitês olímpicos nacionais, nenhum do porte do Brasil. Mas nenhuma das gigantes internacionais quis ter sua marca associada ao COB, que teria ficado sem outra opção. Quando assumiu em outubro, Paulo Wanderley chegou a cogitar revogar o acordo feito pelo seu antecessor, Carlos Arthur Nuzman, mas voltou atrás.

A boa notícia para os atletas é que, segundo o COB, a Peak se comprometeu a remunerá-los por medalhas – os valores nunca foram divulgados. 

De acordo com o COB, em contato com a Folha, esta premiação diz respeito apenas à participações em Jogos Olímpicos

Vale lembrar que o material esportivo é a menina dos olhos do mercado de marketing ligado ao movimento olímpico. Isso porque, dentro das arenas e nas transmissões só é permitida a exibição das marcas que fornecem os uniformes dos atletas. Assim, em 90 minutos de um jogo de futebol, por exemplo, só serão vistas duas marcas: dos fornecedores dos dois times.

Cenário ruim

O período de máscara da Rio-2016 acabou em dezembro, quando o COB se viu sem nenhum patrocinador e sem expertise de buscá-los no mercado, uma vez que não fazia isso desde 2009. Após uma fase de organização, o comitê viu sua imagem ser abalada pelas investigações contra Nuzman e, depois, sua renúncia. E até agora não conseguiu se reerguer.

O balanço financeiro de 2017 mostra quase tudo que o COB firmou em termos de patrocínio inclui apenas permuta. O contrato com a universidade Estácio para ensino à distância, por exemplo, é de R$ 16 milhões, mas sempre por permuta – vale para a Academia Olímpica. A Travel Ace Assistance se comprometeu com R$ 6 milhões em seguros-viagem e a BRW Participações vai dar R$ 282 mil em equipamentos fitness.

Assim, só dois contratos são em cash: R$ 4,2 milhões da Coca-Cola (R$ 600 mil em 2017, em acordo firmado ainda em 2016) e R$ 150 mil (só pra 2017) da Estácio, ambos para ativações nos Jogos Escolares. Ou seja: o COB não recebeu nem R$ 1 milhão em verbas de patrocínio individuais no ano passado.

A única fonte expressiva de recursos privados para o COB é o programa de cessão de marca internacional, o Top Program, no qual o COB aceita ter sua marca atrelada às dos patrocinadores do COI, recebendo por isso R$ 9,8 milhões em 2017 – parte deste valor só foi efetivamente paga em 2018, depois que a suspensão aplicada ao COB foi revogada.

Prejuízo menor

No balanço financeiro de 2016, ainda sob a gestão de Nuzman, o COB colocou como “provisão de perdas" um total de R$ 23 milhões que o Comitê Rio-2016 deveria pagá-los pelos patrocínios. Ponderando que o Rio-2016 estava quebrado, o COB admitiu que ficaria no prejuízo. Ainda no começo de 2017, a dívida foi renegociada para ser quitada em sete vezes, mas só a primeira parcela foi quitada, em março.

Ainda assim, o prejuízo foi menor do que o imaginado. Em 2017, o COB recebeu em cash um total de R$ 4,872 milhões, além de outros R$ 3,785 em permutas, incluindo aí carros da Nissan, que foram doados às confederações.

Sobram outros R$ 15,498 milhões, que o COB já desistiu de receber. “Em função da inadimplência dos últimos exercícios e da situação financeira do Rio 2016, foi efetuada provisão para perdas, sendo o montante calculado conforme melhor estimativa da administração”, explicou a auditoria responsável pelo balanço.

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