Com brasileiros, time de futsal russo é bancado por comunistas

KPRF joga a Superliga Russa e é mantido pelo Partido Comunista desde 2003

Fábio Aleixo
Moscou

Não importa onde o time jogue, sempre haverá ao menos uma pessoa na arquibancada apoiando e tremulando uma bandeira vermelha com a foice e o martelo.

Essa é a realidade para os jogadores do KPRF, time de futsal da Superliga Russa criado e mantido pelo Partido Comunista da Federação Russa desde 2003.

O partido conta com escritórios em praticamente todas as cidades do país. Por isso, consegue atrair torcedores em todos os jogos.

“Começamos como um clube amador, mas o sucesso foi tanto que a liderança do partido resolveu investir e a partir de 2007 viramos profissionais”, diz Ivan Melnikov, presidente do time.

O objetivo do projeto, de acordo com ele, é atrair jovens e, como consequência, conseguir novos apoiadores e membros para o partido.

O pai de Melnikov é vice-secretário nacional da legenda e um dos representantes da sigla no parlamento russo.

Hoje, a serviço do KPRF no futsal estão três brasileiros.

Em quadra, os jogadores Paulinho, 32, e Cirilo, 38. Fora dela, o preparador físico José Marcelo Gomes, 48.

“Quando falo com o pessoal do Brasil que trabalho no time de um partido, a primeira reação é de espanto. A segunda é de me pedirem alguma coisa. A simbologia da foice e do martelo ainda é muito forte nos dias de hoje em todo o mundo”, diz Gomes.

“O que acho engraçada é a nossa camisa. De um lado, o distintivo tão comunista. Do outro, o símbolo da Nike”, afirma o preparador.

A fabricante de material esportivo americana é a única a expor sua marca em qualquer material do KPRF.

O time não conta com patrocinadores, nem divulga o seu orçamento. Segundo o presidente, essa é uma informação confidencial.

O KPRF treina em um ginásio alugado no município de Reutov, a 18 quilômetros do centro de Moscou, e manda suas partidas em Klimovsk, a 50 quilômetros da capital.

Atualmente, conta em seu elenco com atletas das seleções espanhola e russa, ocupa a quarta posição do campeonato local —um dos mais qualificados do mundo— e está classificado para os playoffs. A equipe nacional é a atual vice-campeã mundial.

Há 15 anos vivendo em Moscou e naturalizado russo, o pivô Cirilo passou 14 temporadas no Dínamo, potência local. Ele está gostando das condições dadas pelo KPRF, clube ao qual chegou em 2017.

Segundo Cirilo, o Dínamo ficou sem dinheiro e acabou com o projeto do futsal.

“Resolvi vir para cá e posso dizer que a estrutura é muito boa. Não nos falta nenhum material, temos ótimas acomodações quando viajamos e pagam em dia. E não temos nenhuma restrição, não precisamos seguir nenhum tipo de cartilha por sermos do Partido Comunista”, afirma o jogador, que encerrará a sua carreira ao fim desta temporada.

“Acho que um time como este nunca daria certo no Brasil. Seria um escândalo um partido colocar dinheiro em uma equipe profissional. Mas aqui na Rússia lidam super bem com isso”, completa.

Para Marcelo Gomes, o radicalismo e a polarização existentes no Brasil atualmente não deixariam que uma fórmula como essa desse certo.

Outro com longa experiência no futsal russo é o pivô Paulinho. Está no país há seis anos, três deles no KPRF, e tem acompanhado de perto a evolução do clube que tem como meta o título nacional, além de se classificar para alguma competição europeia.

“Ser de um time de partido não muda nada em nossas vidas. A única coisa é que sempre temos torcida. É como se fosse o Corinthians. Onde joga, sempre tem alguém apoiando. E isso me impressiona muito”, disse.

Flâmula do time russo de futsal que é mantido pelo Partido Comunista, cujo distintivo tem uma foice e um martelo
A foice e o martelo, símbolos do Partido Comunista Russo e, também. da equipe de futsal - Mauricio Fernando Zamora/Folhapress

No esporte amador, o KPRF desenvolve atividades de vôlei, futebol, natação, lutas, entre outras modalidades por todo o país.

O time de futsal do Partido Comunista foi fundado em 2003 como uma equipe amadora para competir em um torneio apenas voltado para partidos políticos. A partir da temporada 2007/2008 se profissionalizou e passou a disputar o Campeonato de Moscou. No ano seguinte já conquistou o título. Em 2010/11 foi campeã da segunda divisão e garantiu o acesso para a Superliga, da qual não saiu mais. Nos dois últimos campeonatos, o time foi eliminado nas quartas de final.

O KPRF ainda tem um time B jogando na segunda divisão, que é o atual campeão e outra equipe chamada “Guarda Vermelha”, também na segundona.

Partido Comunista da Federação Russa

Conhecido pela sigla KPRF (Kommunisticheskaia Partia Rossiskoi Federatsii) foi fundado em 14 de fevereiro de 1993 e é frequentemente tido como o sucessor do Partido Comunista da União Soviética, banido em 1991 pelo presidente Boris Ieltsin após o fim da União Soviética. Hoje, tem cerca de 160 mil membros e é o segundo maior partido do país, atrás apenas do Rússia Unida. Segue as ideias Marxistas-Leninistas. Em todas eleições já realizadas na Rússia sempre acabou no segundo posto. No pleito presidencial de maio, o candidato Pavel Grudinin teve 11,7% dos votos (8,6 milhões) contra 76,7 (53,4 milhões) de Vladimir Putin. Tem 42 de 450 assentos na Duma, o parlamento russo.

Em seu brasão tem as palavras: Trabalho. Poder para o Povo. Socialismo.

O comunismo foi o regime oficial da Rússia a partir de 1917, após o fim do czarismo em decorrência da Revolução Russa. O último czar foi Nicolau 2º. O primeiro líder comunista foi Vladimir Lênin, entre 1917 e 1924. Em 1922, houve a fundação da União Soviética, composta de 15 nações. Ela durou até 1991, administrada sob o lema do comunismo e socialismo. Outro grande líder da União Soviética foi Josef Stálin.  

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