Empresário de jogador que denunciou abuso sexual diz ter recebido oferta de suborno

Luciano Pereira prestou depoimento no caso em que Ruan, 19, acusa coordenador da base do Santos

Alex Sabino Diego Garcia Guilherme Seto
São Paulo

Luciano Pereira, empresário de Ruan Petrick Aguiar de Carvalho, 19, que acusa o afastado coordenador das categorias de base do Santos de abuso sexual, afirma ter recebido tentativas de suborno para desmentir a denúncia feita pelo jogador. Na saída da delegacia, nesta quarta (18), ele afirmou à Folha ter relatado o fato em seu depoimento aos delegados.

“Ofereceram dinheiro, emprego... Recusei. Eu sou empresário conhecido no futebol e não quero meu nome envolvido em uma situação como essa”, afirmou.

Ruan registrou Boletim de Ocorrência na Delegacia de Repressão e Combate à Pedofilia acusando Ricardo Marco Crivelli, conhecido como Lica, de tê-lo abusado sexualmente em 2010. Na época, Ruan tinha 11 anos. Diante da denúncia, a diretoria do Santos afastou Crivelli das categorias de base do clube enquanto o caso é investigado. Foi aberto inquérito que agora está em segredo de Justiça. 

À reportagem, Pereira mostrou áudio de um telefonema em que um suposto funcionário de empresa de agenciamento de jogadores lhe oferece emprego no Santos se ele desmentir a versão de Ruan.

O Santos afirma não ter dado autorização para qualquer pessoa física ou jurídica para falar em seu nome no caso ou fazer negociações de cargos. “Ainda, registre-se, jamais o faria com finalidade tão baixa”, disse a assessoria de imprensa do clube.

Fachada da entrada do hotel Recanto dos Alvinegros, construído dentro do Centro de Treinamento do Santos
Fachada da entrada do hotel Recanto dos Alvinegros, construído dentro do Centro de Treinamento do Santos - Fernando Donasci - 6.jan.2006/Folhapress

Nesta quarta, uma testemunha prestou depoimento confirmando a história contada por Ruan. Ele, que é mais velho do que Ruan, segundo um dos delegados do caso, disse que estava na casa na noite em que teria acontecido o crime, em 2010. À polícia, afirmou que Crivelli tentou abusá-lo, mas foi rechaçado.  

Embora evitem dizer isso publicamente, dirigentes do Santos apontam componente político para desqualificar a acusação. O acusado Ricardo Crivelli é sócio do presidente do clube, José Carlos Peres, em uma empresa de agenciamento de atletas. O dirigente alega que a companhia está inativa.

Na última terça (17), a oposição protocolou pedido de impeachment de Peres por, entre outras coisas, prejudicar a imagem do clube.

Uma das acusações é que Ruan é orientado por empresários influentes na gestão anterior, de Modesto Roma Jr., encerrada em 2017. 

“Eu não quero saber de política de clube. Quero justiça”, afirma Régis Santana, pai de Ruan.

OUTRO LADO

O coordenador da base do Santos, Ricardo Crivelli, informou que não se pronunciará sobre as acusações. 

"Meu cliente tem total interesse que a verdade seja mostrada", afirma Adriano Vanni, advogado de Crivelli, afirmando que seu cliente nega todas as acusações.

O Santos diz ter recebido a denúncia com surpresa e afirma que abriu uma investigação para apurar o caso.

“O clube vai investigar criteriosamente a situação, considerando que o profissional em questão jamais teve qualquer mácula em sua extensa carreira no futebol, e que acusações como essa envolvem reputações, tanto dos acusadores quanto do próprio acusado, que devem ser preservadas sem qualquer juízo prévio de culpa. Reiteramos, contudo, que a apuração será conduzida pelas autoridades competentes, se efetivamente consistentes”, afirma o clube em nota à Folha.

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