Descrição de chapéu Copa do Mundo

Diante de proposta de US$ 25 bi, Infantino convoca reunião na Fifa

Grupo de investimento quer injetar dinheiro pelos direitos de novos torneios

Tariq Panjaç
Nova York | The New York Times

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, convocou uma reunião de emergência entre os principais dirigentes do futebol internacional para discutir a proposta de US$ 25 bilhões apresentada por um grupo de investimento pelos direitos de novos torneios, o que poderia mudar radicalmente algumas das maiores competições do futebol.

Em uma longa carta enviada aos membros do Conselho da Fifa, a instância mais elevada da organização, Infantino convocou na semana passada uma reunião especial com os líderes do futebol nas seis confederações regionais que integram a organização, a ser realizada ainda nesta semana, para discutir novos detalhes sobre a oferta pelo controle de um novo torneio quadrienal interclubes com 24 participantes, que teria linhas semelhantes às da Copa do Mundo, a principal competição e fonte de receita da Fifa, que arrecada US$ 5 bilhões com o torneio, bem como a proposta de uma liga de seleções.

O jornal The New York Times noticiou os detalhes das negociações secretas entre Infantino e um grupo de investidores internacionais em 9 de abril. Infantino informou o conselho da Fifa sobre as negociações em uma reunião muito dividida, em Bogotá, no mês passado.

Os dirigentes da Fifa até o momento proibiram Infantino de levar adiante o acordo, que ele disse precisar ser assinado em 60 dias. A recusa aconteceu porque ele se recusou a identificar os membros do consórcio internacional de investidores, mencionando um acordo de confidencialidade, e também porque os dirigentes acreditam que as novas competições conflitariam com torneios existentes.

Mais tarde surgiu a informação de que um dos investidores envolvidos é o SoftBank, instituição financeira sediada no Japão que opera o maior fundo mundial de investimento em tecnologia.

O plenário do Conselho da Fifa deve discutir a oferta em uma reunião extraordinária no começo de maio. A próxima reunião do grupo estava marcada para junho, dias antes do início da Copa do Mundo de 2018 na Rússia.

"Uma reunião com as confederações acontecerá, mas ainda não temos data", disse um porta-voz da Fifa, confirmando que o objetivo da reunião seria discutir detalhes da oferta dos investidores. "Novas consultas também estão em curso envolvendo as diferentes partes interessadas em potenciais mudanças na Copa do Mundo de Futebol da Fifa".

Reuniões de emergência são raras, e reservadas a questões muito vitais. A última vez que a Fifa convocou uma reunião de emergência de seu mais alto conselho foi em 2015, quando diversos dos integrantes do órgão foram detidos em um hotel de luxo em Zurique, em uma operação policial ao raiar do dia.

O motivo que Infantino invocou para a reunião de emergência é duplo. Ele quer persuadir os dirigentes céticos a autorizá-lo a levar adiante as negociações sobre a transação de US$ 25 bilhões. Mas também quer acalmar alguns membros que se irritaram com o que veem como busca agressiva por Infantino de um acordo que poderia resultar na maior reestruturação do futebol em décadas.

Em sua campanha pela presidência da Fifa, Infantino prometeu quadruplicar as verbas para o desenvolvimento do futebol nos países membros. Os US$ 25 bilhões lhe propiciariam dinheiro suficiente para cumprir essa promessa antes de disputar a reeleição no ano que vem.

A oposição de poderosos dirigentes do futebol europeu e de alguns dos maiores clubes do continente continua forte. Criar o evento sem a anuência dos melhores clubes do mundo –que empregam os jogadores mais famosos, dos quais o evento necessita para ser sucesso–  provavelmente resultaria em conflito prolongado, em um esporte no qual há disputa pela primazia entre as seleções nacionais, regidas pela Fifa, e os clubes de futebol, regidos pelas seis confederações regionais e seus países membros.

Para conquistar apoio, Infantino se reuniu com alguns executivos dos maiores clubes, entre os quais o Bayern de Munique, alemão, e a Internazionale de Milão, agora sob controle chinês, de acordo com pessoas informadas sobre a situação. A discussão aconteceu sem o conhecimento da Associação de Clubes Europeus, que reúne cerca de 200 agremiações de todo o continente que abriga a maioria dos clubes mais ricos do planeta. Um porta-voz da associação disse que ela não havia sido informada sobre a reunião extraordinária do conselho da Fifa.

Em um documento informativo enviado aos membros do Conselho da Fifa antes da reunião de Bogotá, e visto por jornalistas do The New York Times, a Fifa disse que favorecia uma Copa do Mundo interclubes com 24 participantes, metade dos quais europeus. Os participantes incluiriam os finalistas das quatro edições anteriores da Liga dos Campeões, a competição futebolística mais rica do planeta.

A Fifa estimou que cada edição de seu torneio interclubes geraria um máximo de US$ 1 bilhão. O grupo de investidores oferece US$ 3 bilhões por torneio, com o valor restante reservado à criação de uma liga de seleções nacionais.

A Uefa, organização que comanda o futebol europeu, se opõe à proposta, em geral. As duas competições que a Fifa quer criar prejudicariam seus eventos, e criariam um forte concorrente para a Liga dos Campeões, que gera bilhões de dólares em publicidade e direitos de transmissão. A liga mundial de seleções usurparia a versão da Uefa para um torneio semelhante, cuja primeira edição acontecerá este ano.

As confederações da Ásia e das Américas parecem em geral apoiar a ideia, que garantiria mais jogos contra os grandes times europeus, para seus melhores clubes. Mas Reinhard Grindel, membro alemão do Conselho da Fifa e crítico do estilo de gestão de Infantino, disse ao presidente da Fifa que a organização deveria se concentrar em torneios de seleções e não interferir nos assuntos dos clubes.

Em sua carta mais recente aos países membros, a Fifa explicou que o dinheiro do acordo proposto beneficiaria diretamente as 211 federações que a integram. São essas federações que elegerão o novo presidente da organização no ano que vem.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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