Descrição de chapéu

Calor frustra recorde na Maratona de Londres e cria suspense para Berlim

Temperatura atrapalhou tentativa do queniano Kipchoge de quebrar marca de prova rápida

Sérgio Xavier Filho
São Paulo

Infelizmente, não deu. Esse foi o sentimento geral após a sempre rápida Maratona de Londres, disputada neste domingo (22). Era para ser a maratona do recorde, ou melhor, dos recordes. Poucas vezes na história se aguardou tanto a quebra de marcas.

No feminino, a queniana Mary Keitany e a etíope Tirunesh Dibaba correriam escoltadas por "coelhos" masculinos até o final da prova, tentando buscar as 2h15min25 da britânica Paula Radcliffe, no longínquo 2003.

Na prova dos homens, a expectativa era gigante. O queniano Eliud Kipchoge tinha tudo para superar as 2h02min57 de seu compatriota Dennis Kimetto. Quase tudo. Faltou combinar com quem controla o termostato do planeta.

Os 17°C da largada, que se transformaram em 22ºC na chegada, fritaram qualquer chance de recordes. Keitany e Dibaba se arrastaram até o final e viram a queniana Vivian Cheruiyot vencer com 2h18min31, bem distante da marca de Radcliffe.

Kipchoge fez o possível e até venceu a prova. Só que suas 2h04min27 soaram decepcionantes para quem esperava ouvir as trombetas do recorde. O tema promete ser resgatado em setembro, quando a nata da elite se reúne na igualmente rápida prova de Berlim.

Eliud Kipchoge é a principal razão de tanta decepção. Simpático e sempre sorridente, o queniano de 33 anos disputou 10 maratonas na vida e venceu nove delas. É uma espécie de Roger Federer da corrida de fundo. Ganhou Berlim, Chicago, três vezes Londres, além da Maratona Olímpica do Rio.

É dele a terceira marca na distância, 2h03min05, miseráveis oito segundos atrás do recorde de Kimetto. Mas a maior façanha de Kipchoge não se deu no ambiente das principais maratonas.

Em 2017, ele foi uma das três cobaias em um experimento científico-marqueteiro da Nike. A empresa de material esportivo reuniu fisiologistas, engenheiros e PHDs nas áreas mais diversas para quebrar a barreira das duas horas na maratona. O desafio final se deu em maio passado na pista de Monza, na Itália.

As condições eram ideais. Temperatura, umidade, circuito plano, um carro-madrinha dando o ritmo na frente com coelhos que se revezavam, tudo perfeito. Fora os tênis utilizados, que impulsionavam as passadas.

A marca não foi batida, mas foi por pouco, muito pouco. Kipchoge fechou a distância em 2h00min25. Não valeria para recorde pelas condições artificiais de corrida descritas acima, só que valeu para mostrar que o bicho-homem poderia, sim, correr bem mais perto de duas horas.

Londres, 2018, seria o palco perfeito se... a temperatura não sabotasse. É verdade também que os marcadores de ritmo, bancados pela organização da prova, exageraram no ritmo. No masculino, passaram a meia maratona com 1h, no feminino, com 1h07min16.

Marcas que até fariam sentido se a temperatura estivesse abaixo de 10 graus centígrados. Com o incomum calor londrino nessa época do ano (foi a mais quente maratona de Londres já disputada), os candidatos a recorde foram "quebrando" um a um.

A decepção do público só não foi total porque o ídolo inglês e bicampeão olímpico nos 5.000 e 10.000 m Mo Farah terminou em terceiro com 2h06min32 e quebrou o recorde britânico da maratona que perdurava desde 1985.

Na segunda posição, o etíope Tola Kitata terminou com 2h05min cravadas. No feminino, Vivian Cheruiyot teve no pódio a companhia da compatriota queniana Brigid Kosgei e da etíope Tadelech Bekele.

Em Berlim, Kipchoge terá mais uma chance de escrever seu nome na história como o maior maratonista de todos os tempos.

Não estará sozinho. Terá provavelmente as companhias de veteranos como o etíope Kenenisa Bekele, que detém o segundo tempo da história (2h03min03) e só chegou na sexta posição neste domingo, e de novatos etíopes como Guye Adola (melhor marca de 2h03min46 já na estreia), Leul Gebrselassie (2h04min02) e Berhanu Legesse (2h04min15).

Além de treinar pesado, é recomendável que a turma reze por um friozinho sem vento e sem chuva. Na beirada dos limites do homem, as condições climáticas fazem toda a diferença.

Sérgio Xavier Filho é jornalista, comentarista dos canais SporTV e autor do blog Correria

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