Descrição de chapéu Copa do Mundo

Para chegar a Maradona, Messi tem de ganhar a Copa, diz Carlos Bilardo

Técnico da seleção campeã em 1986 considera argentino o melhor do mundo

 

Carlos Bilardo em seu apartamento em Buenos Aires
Carlos Bilardo em seu apartamento em Buenos Aires - Pedro Lazaro Fernandez - 14.jul.16/Clarín

 

São Paulo

Falar com Carlos Bilardo, 79, exige paciência e boa dose de diplomacia.

“Você é de onde?”

“Está em Buenos Aires?”

“É por telefone?”

“Qual é o assunto?”

“Ligue de novo depois de amanhã, está bem?”

Depois de quatro telefonemas e conversas que envolveram até a mulher, Glória, o campeão mundial de 1986 aceitou falar sobre o que espera ver na Copa da Rússia, o futebol atual e a seleção argentina, que ele considera uma das favoritas ao título.

Técnico para sempre ligado ao futebol de resultados e ex-meia do Estudiantes tricampeão da Libertadores, Bilardo levou também uma seleção recheada de atletas lesionados à final em 1990. Prova do seu poder de espremer vitórias quando menos se espera. Uma das vítimas naquele ano foi o Brasil. 

Com respostas sem floreios, no mesmo estilo de seus times, Bilardo não vê comparação entre Messi e Cristiano Ronaldo. Seu compatriota é melhor. E sua lista dos três maiores da história (Maradona, Pelé e Cruyff) só não aumenta para quatro porque falta a Lionel algo que ele pode conquistar em julho, em Moscou: o título mundial.

 

Folha - O senhor acha que veremos algo novo taticamente no Mundial da Rússia?
Carlos Bilardo - Não. Futebol não teve tantas novidades assim no decorrer dos anos. 

Alguma seleção pode surpreender? Bélgica, por exemplo?
Não acredito. Creio nos times de sempre. Argentina, Brasil, Alemanha, Espanha, França... Mundial é torneio de poucas surpresas. Essas que citei são as seleções mais importantes, aquelas que as pessoas querem ver em campo.

E o que podemos esperar da Argentina?
Estamos bem. A seleção é forte e pode ir além de 2014, quando poderíamos ter vencido. Na final, fomos melhores que a Alemanha. Depende de como vai chegar, do momento. Mas vejo a equipe com grandes possibilidades.

A goleada por 6 a 1 sofrida no amistoso contra a seleção espanhola influencia?
Tem de influenciar. Você não pode sofrer seis gols em um jogo e achar que tudo deve  continuar daquele jeito. Faltou alma em campo, de saber o que representa vestir a camisa da Argentina. Mas é melhor ter acontecido agora e não na Copa do Mundo.

A questão que imagino que sempre lhe fazem é a respeito de Messi.

O que posso dizer? Ele é o melhor jogador do mundo. Não há outro como ele.

Mas a discussão é o quanto ele precisa ser campeão mundial para estar entre os melhores da história. O senhor concorda que ele tem de ganhar a Copa pela Argentina para estar no mesmo nível de Maradona?
Sim, precisa. Para chegar ao nível de Maradona, Pelé e Cruyff, Messi tem de ganhar a Copa do Mundo. Cruyff não ganhou, mas era um jogador tão especial que transformou a Holanda. Messi tem sempre a comparação com Maradona. Para chegar ao mesmo patamar, ele tem de trazer a Copa para a Argentina.

Muitas vezes há a impressão de que Messi não é tão adorado na Argentina quanto é em outros países. Mesmo no Brasil muita gente gosta dele.
Isso muda com títulos. Mas nessa história conta muito a imprensa. Há a imprensa a favor e a imprensa contra. É sempre assim. Com os jogadores que a Argentina tem, podendo contar com Messi, a seleção está bem.

Como Messi deve jogar na seleção?
Com liberdade total. Sem qualquer obrigação defensiva.

 

O senhor não é grande fã de Jorge Sampaoli...
Sobre isso eu não falo.

Mas quando ele foi escolhido o senhor disse que se Sampaoli era o melhor treinador da Argentina, era preciso começar tudo de novo.
Não creio dever falar sobre isso agora. Não desejo comentar sobre o técnico da seleção.

As pessoas chamam a sua escola de futebol de bilardismo. O senhor concorda?
Não existe bilardismo. Eu sempre preparei meu time para ganhar partidas de futebol. 

Incomoda a opinião de que a sua filosofia é o antifutebol?
Este tipo de crítica não me incomoda mais. Por exemplo, em 1976, quando desembarquei em Cáli para dirigir o Deportivo, a manchete do jornal local foi “chegou o antifutebol”. Sabia disso? Meses depois fomos o primeiro time colombiano a chegar a uma final de Libertadores. Quando eu jogava no Estudiantes foi a mesma coisa. Isso porque éramos o primeiro time pequeno, fora de Buenos Aires, a ganhar tudo. Depois diziam que a seleção jogava feio quando eu era o técnico. Ganhamos a Copa do Mundo e chegamos à final no torneio seguinte.

As críticas feitas em 1986 antes da viagem para o México ainda não foram esquecidas?
Já passou. Mas eu mandei minha mulher e minha filha morarem com a minha sogra para que não sofressem com as críticas na rua. O resultado final é a resposta de tudo. 

O senhor disse em entrevistas que a vitória justifica tudo.
Sim, eu disse. Porque é verdade.

Ficou na história que havia garrafa de água com algum medicamento dada ao lateral Branco na partida entre Brasil e Argentina na Copa de 1990...
Não teve nada disso. Isso é resultado de entrevista que dei há alguns anos e que, quando publicada, tudo o que disse acabou interpretado da forma errada. Não existiu isso.

O senhor tinha um programa de rádio que agora não está mais no ar, mas continua falando sobre futebol, opinando... O quanto o futebol faz parte da sua vida ainda?
É a minha vida. Sou fascinado. Paro para ver qualquer partida, mesmo que sejam garotos jogando na rua. Minha mulher até perde a paciência.

Raio-x

Nome
Carlos Salvador Bilardo

Nascimento
16.mar.1939 (79 anos), em Buenos Aires

Principais títulos como jogador
Campeonato argentino (1959 e 1967), Libertadores (1968, 1969 e 1970) e Mundial de Clubes (1968). Todos pelo Estudiantes

Principais títulos como técnico
Campeonato Argentino (1982, com o Estudiantes). Campeão mundial (1986, com a seleção argentina)

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