Com R$ 700 milhões no Brasil, Hawilla tenta não voltar aos Estados Unidos

Empresário alega problemas de saúde e que já colabora com a justiça

Alex Sabino Diego Garcia
São Paulo

Delator do escândalo de corrupção no futebol, que levou à prisão do ex-presidente da CBF José Maria Marin, o empresário J. Hawilla, 74, tenta não voltar aos Estados Unidos. As alegações são a colaboração que tem dado à Justiça americana e seus problemas de saúde. 

Pelo acordo firmado, Hawilla tem de pagar US$ 151 milhões (R$ 551 milhões) aos EUA. Antes de seu depoimento, havia quitado US$ 25 mi (R$ 91,2 mi, 16,5% do total) da dívida. A Justiça americana não informa se o restante foi depositado.

Levantamento feito pela Folha aponta que o patrimônio das empresas da família de Hawilla é de R$ 725 milhões. Os dados estão disponíveis na Junta Comercial do Estado de São Paulo. Desses, R$ 213 mi estão no nome do próprio J.Hawilla. Os R$ 512 mi restantes estão em nomes de familiares. 

J. Hawilla alega que está doente e que tem colaborado com a Justiça americana para não ter de retornar aos Estados Unidos
J. Hawilla alega que está doente e que tem colaborado com a Justiça americana para não ter de retornar aos Estados Unidos - Letícia Moreira/Folhapress

O empresário estava impedido de sair dos EUA desde 2013, mas foi autorizado pela Justiça do país a voltar para o Brasil em fevereiro.

Em 16 de março, o procurador Richard Donoghue pediu à juíza Pamela Chen, responsável pelo caso, que a sentença de Hawilla fosse adiada para 2 de outubro. O prazo inicial era 23 de abril.

O procurador afirmou que a mudança da data era apropriada pela "contínua cooperação do senhor Hawilla com a investigação do governo" e para que ele resolva algumas questões pendentes, sem entrar em detalhes se são questões pessoais ou financeiras. 

Hawilla teve câncer na garganta, tem problemas pulmonares e disse em seu depoimento ter feito cirurgia para colocar um stent no coração. Falou com a juíza usando um balão de oxigênio.

Há duas semanas, em voo de São Paulo para São José do Rio Preto (a 437 km da capital) ele passou mal. Seus remédios não fizeram efeito e ele teve severa falta de ar. Ao chegar em sua cidade natal, disse a amigos que chegou a pensar que morreria dentro do avião. 

Hawilla é colaborador na investigação sobre esquema de pagamento de propina na Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol).

Ele confessou ter pago suborno para o paraguaio Nicolas Leoz (ex-presidente da Conmebol), Julio Grondona (ex-presidente da Associação do Futebol Argentino, morto em 2014) e Ricardo Teixeira (ex-presidente da CBF).

O principal patrimônio em rentabilidade de Hawilla e é a TV TEM, que engloba quatro retransmissoras da Rede Globo no interior de São Paulo e atinge 49% do Estado. 

"Não é verdade [que deseje vender a emissora]. Não temos essa intenção", disse o empresário à Folha por mensagem de texto. 

A maioria dos bens de J. Hawilla e sua família estão nos nos nomes dos seus três filhos, Rafael, Stefano e Renata.

Em 2015, por exemplo, Hawilla doou para Rafael apartamento e terreno na rua Costa Rica, no Jardim América, em São Paulo, avaliados em R$ 15 milhões, no total.

A empresa de maior valor nominal de seu grupo é a Traffic Assessoria de Comunicação, da qual tem cerca de R$ 102 milhões do capital social. Restam R$ 251 milhões, que pertencem à Continental Sports Marketing Ltda, uma empresa registrada nas Ilhas Cayman, um paraíso fiscal. 

Nos documentos da empresa, o procurador da Continental é Stefano de Menezes. 

Além das empresas, Hawilla detém patrimônio de ao menos R$ 4 milhões em imóveis em São Paulo.

Hawilla não está autorizado pelo seu advogado, Luis Oliveira Lima, a dar entrevistas. Em mensagem à Folha, Lima afirmou não falar sobre seus clientes. A reportagem tentou falar com os filhos de Hawilla, mas não obteve retorno.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.