Capitães de seleções de handebol pedem renúncia de cartola

Duda Amorim e Thiago Petrus defendem saída de presidente afastado pela Justiça

Marcelo Laguna
São Paulo

Oito atletas do handebol brasileiro uniram-se no último mês para expor a maior crise pela qual a modalidade já passou.

Esses jogadores, entre eles membros da comissão de atletas da CBHb (Confederação Brasileira de Handebol), pedem a renúncia do presidente da entidade, Manoel Luiz de Oliveira.

Foi uma resposta ao anúncio do fim do patrocínio do Banco do Brasil. A estatal apoiava o esporte desde 2013, mas decidiu que não renovará o acordo que se encerra em 30 de maio e pagou R$ 15,5 milhões por dois anos à confederação. Sem essa receita, a CBHb terá uma drástica redução de orçamento.

A entidade conta até o fim do ano só com a verba da Lei Piva (R$ 2,5 milhões) e de R$ 1,6 milhão de um contrato com os Correios.

Oliveira, no comando da entidade desde 1989, está afastado temporariamente por decisão do juiz federal Rolando Valcir Spanholo.

Ele é acusado de irregularidades em convênios firmados entre a CBHb e o Ministério do Esporte. O prejuízo chegaria a R$ 21 milhões.

Em nota, a CBHb afirmou que, dos atletas que assinaram o manifesto, apenas quatro efetivamente compõe a comissão da categoria. Além disso, a entidade diz que nenhum dos pedidos de intervenção e anulação da última eleição, em 2017, foram aceitos pela Justiça.

Os capitães das seleções  do Brasil, Duda Amorim e Thiagus Petrus, falaram à Folha sobre o movimento:

Não se pode colocar uma pessoa acima da modalidade

Depoimento de Duda Amorim, jogadora do Gyori (HUN) e capitã da seleção feminina de handebol

Muitos perguntam por que só nos mobilizamos agora. Até 2016, estávamos focados na disputa da Olimpíada em nosso país, mas é errado dizer que havia uma postura passiva dos atletas.

O problema é que os Jogos Olímpicos não permitiram que os atletas conseguissem se organizar adequadamente e ainda não havia uma denúncia formal [contra Oliveira].

Levou um tempo para nos mobilizarmos, até porque os principais atletas jogam fora do Brasil. Depois de nos organizarmos, chegamos à conclusão de que o ideal seria que o presidente afastado renunciasse.

Existia um projeto de fortalecer a modalidade, dar mais visibilidade ao campeonato nacional e aos clubes. Mas acredito que para melhorar precisamos de estrutura mais profissional, com gestão mais transparente. Não podemos (atletas e confederação) colocar uma pessoa acima da modalidade.

Época do medo de represália no nosso esporte já acabou

Depoimento de Thiagus Petrus,  jogador do Pick Szeged (HUN)e capitão da seleção masculina de handebol

Thiagus Petrus durante treino da seleção brasileira
Thiagus Petrus durante treino da seleção brasileira - Cinara Piccolo/Photo&Grafia/Divulgação

As últimas notícias sobre o handebol brasileiro nos motivaram a tomar essa atitude.

O fim do patrocínio fez com que nos mobilizássemos, porque os maiores prejudicados seriam os atletas,  não o Manoel Oliveira.

Os atletas até tentam manter contato com o presidente afastado, porém a postura dele sempre foi distante.

O nosso handebol tem sérios problemas de estrutura e incentivo para os atletas competirem no país.

Temos inúmeros talentos perdidos, gente que decide se dedicar a outro ofício pois não tem oportunidade nem incentivo para seguir carreira.

A época de ter medo de represálias já acabou. Somos conscientes de que podem existir consequências negativas a curto prazo. Contudo, nosso objetivo é deixar um legado para que as próximas gerações tenham gestão voltada para os atletas e para o bem do esporte.

 
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