Confederação de ginástica copia cartilha dos EUA em normas contra abusos

Documento da entidade brasileira traduz de forma literal trechos da política americana

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Daniel E. de Castro Marcelo Laguna
São Paulo

A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) publicou nesta quarta-feira (9) uma portaria com oito páginas em que estabelece padrões de conduta e de combate ao assédio moral, sexual e abusos no esporte.

O documento assinado pela presidente da entidade, Maria Luciene Cacho Resende, está disponível no site da confederação. Trata-se de uma resposta às acusações de abuso feitas por ginastas contra o técnico Fernando de Carvalho Lopes, reveladas no dia 29 de abril pela TV Globo. Ele nega as acusações.

Na última sexta-feira (4), a CBG afirmou que elaboraria uma cartilha educativa em até sete dias, com recomendações e proibições de condutas para os seus profissionais.

Segundo a entidade, a portaria serve para regulamentar o tema, previsto de forma genérica no código de ética. Já a cartilha está sendo desenvolvida com o Ministério Público do Trabalho e deve ser publicada até o fim desta semana ou no início da próxima.

A portaria brasileira é inspirada na política criada pela federação americana de ginástica em junho de 2017. Ela entrou em vigor após a repercussão das acusações contra o médico Larry Nassar, condenado no início deste ano pelo abuso de ginastas do país. Mais de 260 atletas prestaram depoimentos contra ele.

A inspiração nas normas americanas está explicitada no texto da confederação, mas alguns trechos são traduções literais do documento dos EUA, que tem 146 páginas.

O técnico Fernando de Carvalho Lopes, acusado de abuso sexual por ginastas
O técnico Fernando de Carvalho Lopes, acusado de abuso sexual por ginastas - Ricardo Bufolin/CBG

No tópico recomendações, da cartilha brasileira, os três itens são traduções da versão americana. Há inclusive o uso de construções incomuns na língua portuguesa e que tornam a leitura confusa, como no trecho sobre contato físico.

"Contato físico é aceitável quando é razoavelmente com a intenção de treinar, ensinar ou demonstrar uma técnica de ginástica ou para prevenir ou diminuir (ex. sangramento, pegar). Entretanto, cuidado deve ser tomado para garantir que tal contato não é invasivo a áreas sensíveis do corpo".

No documento da CBG, a entidade define que verificará antecedentes criminais de possíveis contratados e define critérios para vedação de contratações. Nesse caso também há cópias de trechos dos EUA, com pequenas adaptações, como a retirada da menção a condados.

"[É vedada a contratação de quem] tenha sido condenado ou que tenha sido responsabilizado por uma acusação criminal ou um indiciamento direta ou indiretamente envolvendo ou relacionada a uma má conduta sexual, de abuso infantil ou uma conduta que é uma violação da lei ou regulação especialmente designada para proteger menores", afirma o documento.

Segundo o consultor jurídico da CBG, Paulo Schmitt, responsável pelo texto da portaria, há vários dispositivos transcritos, traduzidos e incorporados do modelo americano, considerada a experiência mais completa no mundo sobre o assunto.

“Fizemos várias adaptações para o sistema normativo brasileiro, onde temos que prever as condutas proibidas, as sanções correspondentes e a forma de aplicação”, afirmou.

A criação da cartilha foi uma das medidas anunciadas pela confederação na última sexta.

Na mesma data, a CBG apontou o ginasta Arthur Zanetti como atleta designado para a realização de campanhas de combate ao assédio, abuso, racismo e outras formas de violência na ginástica.

As acusações contra Lopes, ex-técnico da seleção brasileira, têm pressionado a entidade. Seu maior patrocinador, a Caixa Econômica Federal, avalia se manterá o apoio renovado para o período 2017-2020. Nesse contrato, o banco estatal prevê pagar um total de R$ 20 milhões.

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