Descrição de chapéu fifa

J.Hawilla, delator do escândalo da Fifa, morre em São Paulo

Empresário tinha 74 anos e estava internado com problemas respiratórios

São Paulo

Principal delator do escândalo de corrupção da compra de direitos de transmissão de direitos esportivos, que culminou com a prisão do ex-presidente da CBF, José Maria Marin, o empresário J. Hawilla morreu nesta sexta-feira em São Paulo, aos 74 anos.

O empresário J. Hawilla
O empresário J. Hawilla, em palestra realizada no auditório da Folha, em 2010. Ele morreu nesta sexta-feira (25), aos 74 anos - Letícia Moreira - 9.nov.2010/Folhapress

Ele estava internado desde a última segunda-feira (21), no Hospital Sirio-Libanês, em São Paulo. Ele tratava de problemas respiratórios.

Hawilla foi autorizado pela Justiça dos Estados Unidos a retornar ao Brasil em fevereiro, por causa de seus problemas de saúde.

Após fazer um acordo de delação, no qual pagou US$ 151 milhões (R$ 551 milhões), Hawilla aguardava a divulgação de sua sentença.

Ele negociava com a Justiça americana para que não tivesse que voltar mais aos Estados Unidos.

Em 16 de março, o procurador Richard Donoghue pediu à juíza Pamela Chen, responsável pelo caso, que a sentença de Hawilla fosse adiada para 2 de outubro. O prazo inicial era 23 de abril.

O procurador afirmou que a mudança da data era apropriada pela "contínua cooperação do senhor Hawilla com a investigação do governo" e para que ele resolva algumas questões pendentes, sem entrar em detalhes se são questões pessoais ou financeiras. 

Hawilla teve câncer na garganta, tinha problemas pulmonares e disse em seu depoimento ter feito cirurgia para colocar um stent no coração. Falou com a juíza usando um balão de oxigênio.

Há duas semanas, em voo de São Paulo para São José do Rio Preto (a 437 km da capital) ele passou mal. Seus remédios não fizeram efeito e ele teve severa falta de ar.

Ao chegar em sua cidade natal, disse a amigos que chegou a pensar que morreria dentro do avião.

Esquema de propina

Hawilla era colaborador na investigação sobre o esquema de pagamento de propina na Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol). Ele colaborava com as investigações do FBI desde 2013.

O empresário confessou ter pago suborno para o paraguaio Nicolas Lez (ex-presidente da Conmebol), o argentino Julio Grondona (ex-presidente da Associação de Futebol Argentino, morto em 2014) e Ricardo Teixeira (ex-presidente da CBF).

Em dezembro de 2017, durante o julgamento do escândalo de corrupção da Fifa, em Nova York, Hawilla chegou à Corte de Justiça usando um balão de oxigênio, por causa das dificuldades respiratórias.

Em seu depoimento, disse que Teixeira recebeu pelo menos US$ 10 milhões em propina. O acordo com o ex-presidente da CBF tinha como objetivo assegurar que o Brasil disputasse a Copa América com seus principais jogadores.

Hawilla citou que Marin "teria recebido pela assinatura" de um contrato firmado com a Conmebol pelos direitos da Copa América.

O empresário afirmou ainda que havia pago "entre US$ 400 mil e US$ 600 mil" ao paraguaio Nicolás Leoz, então chefe da entidade que regula e comanda o futebol na América do Sul.

Hawilla disse que os pagamentos a Leoz chegaram até a US$ 1 milhão.

Em entrevista à Folha, Ricardo Teixeira negou as acusações e ironizou o depoimento de Hawilla.

"Ele está completamente descompensado e quer resolver o problema dele", afirmou o ex-dirigente.

A delação de J. Hawilla foi decisiva para que o Fifagate determinasse uma verdadeira revolução na cúpula dos dirigentes do futebol mundial.

Após as denúncias, mais de uma dezena de cartolas foi retirada ou renunciou, entre eles Joseph Blatter (ex-presidente da Fifa), Jérome Valcke (ex-secretário geral da Fifa), Nicolás Leoz e Juan Ángel Napout (ex-presidentes da Conmebol). 

A delação de Hawilla também ajudou na condenação à prisão, pela Justiça americana, do ex-presidente da CBF, José Maria Marin, e no banimento do futebol de seu sucessor, Marco Polo Del Nero.

Empresário das comunicações

José Hawilla era proprietário da TV TEM, emissora que engloba quatro retransmissoras da Rede Globo, no interior de São Paulo.

Ele era o dono também da empresa de marketing esportivo Traffic Assessoria de Comunicação, que explorou direitos de comercialização de torneios como a Libertadores, Copa América e a Copa do Brasil. Também foi proprietário da rede de jornais Bom Dia, com presença em várias regiões do Estado.

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