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Copa do Mundo O verdadeiro futebol brasileiro

Sem calendário equilibrado, futebol do Brasil não é nacional

Desenvolvimento da modalidade no país não superou o Tratado de Tordesilhas

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Paulo Vinicius Coelho
São Paulo

O calendário do futebol do Amazonas termina no dia 31 de maio. Depois disso, só no dia 4 de novembro voltam os jogos da segunda divisão do estado que construiu a Arena da Amazônia para ser uma das 12 sedes da Copa do Mundo. 

Há um ano, o Santos venceu a semifinal do Brasileiro feminino diante de 25 mil pessoas no estádio amazonense. Recorde de público do futebol das mulheres.

Jogadores do Manaus FC comemoram título após a partida entre Manaus e Fast, válida pela final do Campeonato Amazonense 2018 - 7.abr.2018
Jogadores do Manaus FC comemoram título após a partida entre Manaus e Fast, válida pela final do Campeonato Amazonense 2018 - 7.abr.2018 - Edmar Barros/Futura Press/Folhapress

 A final da Liga dos Campeões feminina levou 22 mil pessoas ao Millenium Stadium de Cardiff, em maio do ano passado. Não levará mais gente a Kiev, neste ano.

Então, não dá para dizer que não existe interesse por futebol no Amazonas, que promove o maior torneio de futebol amador do país, o Peladão.

Em 1974, o Nacional de Manaus classificou-se para a segunda fase do Brasileiro por média de renda. A federação local pode ter turbinado os números com compra de ingressos para burlar o regulamento da época. Provável, até. 

Mas Santa Cruz e Ceará, eliminados naquele ano, podiam fazer o mesmo e quem se classificou pela presença de público foi campeão amazonense.

O exemplo do maior estado da federação é só para mostrar como é possível fazer futebol de 9 a 11 meses por ano, com um de férias para os jogadores, em qualquer pedaço do Brasil. O Amazonas representa 18% do território nacional e o Mato Grosso, terceiro estado em extensão territorial, soma mais 10%. O futebol acaba ali em maio, exceto pelas presenças de Luverdense e Cuiabá na Série C. 

Falamos aqui de dois estados onde o futebol é clandestino. Eles representam 28% do território nacional, quase um terço, onde não se pratica o esporte mais popular do Brasil de maneira organizada e profissional. A eles se somam também Piauí, Acre, Roraima, Rondônia, Espírito Santo... O mapa do futebol brasileiro segue semelhante ao do Tratado de Tordesilhas. Só existe o lado leste.

A soma das Séries A e B nacionais inclui 13 estados. 

 

Nunca se vai alcançar os 26 estados e mais o Distrito Federal na elite. Mas é preciso conjugar o verbo difundir. Espalhar futebol pelo país inteiro, fazer jogar e descobrir jogadores nos 8,5 milhões de  quilômetros quadrados. 

Uma hipótese seria um sistema de premiação às federações. A verba destinada pela CBF, muitas vezes de forma política, iria para os presidentes que conseguissem as melhores médias de público e gols em seus campeonatos estaduais e os melhores resultados dos clubes de seus estados nas séries nacionais. Se o resultado for nenhum, nenhum centavo como contrapartida.

Outra hipótese é transformar os estaduais em séries de acesso aos torneios nacionais. Não é fácil montar esse quebra-cabeças, mas é possível. O que não pode persistir é a estrutura em que as federações não fazem o futebol ser praticado pelo ano inteiro e seguem com representação política e bônus econômico.

Parece impossível ver o Acre, o Amazonas, o Piauí e o Espírito Santo terem clubes de sucesso. Há 30 anos, parecia impossível Santa Catarina ter times na Série A por 16 anos seguidos. Hoje tem.

A história já registrou o Operário-MS na semifinal do Brasileiro de 1977. Alagoas exportou o zagueiro Pepe que, sem o Brasil perceber, virou titular da seleção de Portugal.

No início dos anos 1990, havia um sistema de exportação de craques do Maranhão para a Bélgica e a Holanda. Oliveira jogou Copa do Mundo como cidadão belga e Wamberto foi titular do Ajax. 

Todo esse patrimônio precisa ser brasileiro.

Colaborou Ricardo Marchesan

 
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