O ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG) Eric Maleson confundiu datas ao descrever um suposto pacto político entre o ex-governador Sérgio Cabral (MDB) e o ex-presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil) Carlos Arthur Nuzman, com o objetivo de alçar o emedebista à Presidência com a exposição promovida pela Olimpíada no Rio de Janeiro.
Maleson depôs como testemunha de acusação no processo em que Nuzman e Cabral são acusados de comprar votos no COI (Comitê Olímpico Internacional) para a escolha da cidade brasileira como sede dos Jogos.
Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas —prestado via Skype em Boston (Estados Unidos), onde vive—, ele afirmou ter ouvido de Edson Menezes, ex-dirigente do COB, que Nuzman e Cabral tinham um pacto político com o objetivo de alçá-lo à Presidência da República. A conquista da Olimpíada seria, segundo seu relato, um meio de aumentar a exposição de seu mandato.
Essa conversa, segundo o relato de Maleson, ocorreu num carro a caminho da votação que definiria a cidade brasileira que participaria da disputa no COI. Além do Rio de Janeiro, São Paulo também almejava sediar o evento.
Essa disputa, contudo, ocorreu em 2003 para a candidatura da Olimpíada de 2012. Naquele ano, Cabral era senador. O estado do Rio de Janeiro era governado por Rosinha Garotinho. O emedebista só foi eleito em 2006 e assumiu o cargo no ano seguinte.
Não houve disputa para o representante brasileiro na disputa dos Jogos de 2016. O Rio de Janeiro foi anunciado como o candidato nacional em setembro de 2006, um ano antes dos Jogos Pan-Americanos de 2007.
Maleson foi ouvido como testemunha de acusação porque afirmou ter sido informado por Ruy Cesar, ex-secretário municipal para os Jogos Olímpicos, de que houve acerto de propina com dirigentes africanos após uma viagem à Nigéria em julho de 2009.
Em seu depoimento, o ex-presidente da CBDG declarou que Cesar não verbalizou a informação, mas fez um sinal de que houve pagamento.
"Eu perguntei como havia sido a viagem e ele disse: 'Foi ótimo', fazendo um sinal de que houve um pagamento. Ali eu tive certeza de que houve propina", disse a testemunha. Ele disse a Bretas, contudo, que não sabia quais ou quantos integrantes receberam propina.
O depoimento de Maleson deu origem à investigação da Procuradoria francesa que identificou o pagamento de US$ 2 milhões a Papa Massata Diack, filho do senegalês Lamine Diack, membro do COI. O recurso foi repassado por empresa de Arthur César de Menezes Soares Filho a pedido, segundo as investigações, de Cabral.
O relato da testemunha, porém, é pouco relevante na acusação. Houve quebra de sigilo bancário que identificou as transferências. Há ainda emails em que Massata Diack cobra o pagamento dos valores para honrar o "comprometimento em Copenhague".
O advogado João Francisco Neto, advogado de Nuzman, afirmou que Maleson é "um bravateiro".
"Não participou de nada na Rio 2016 e para ganhar alguma importância disparou seus dardos envenenados a partir de uma conversa de esquina, com gestos e códigos estranhos. É a testemunha que 'ouve dizer' e engasga ao ser convidada para uma acareação. Fez acusações levianas e foi pego na mentira pelo fato notório", disse o advogado.
O Ministério Público Federal pediu nesta quarta para ouvir o economista Carlos Emanuel Miranda como testemunha no processo. Como a Folha revelou na semana passada, ele afirmou em delação premiada que a propina paga a Diack comprou quatro votos no COI para a eleição do Rio de Janeiro. Ele também afirmou que o ex-governador auxiliou o empresário Marco Antônio de Luca a obter contratos com o comitê organizador da Rio-16.
A defesa de Cabral pediu para ouvir como testemunha de defesa o ex-presidente Lula e o ex-prefeito Eduardo Paes, ambos membros da comitiva que fez campanha pelo Rio em Copenhague, onde a cidade-sede dos Jogos foi escolhida.
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