Descrição de chapéu Copa do Mundo

Brasileiro desconhecido vira 'coringa' na defesa da seleção da Polônia

Cionek será um dos 5 nascidos no país que disputarão a Copa por outra seleção

Zagueiro polonês Thiago Cionek em entrevista coletiva antes da Eurocopa de 2016, em La Baule, na França
Zagueiro polonês Thiago Cionek em entrevista coletiva antes da Eurocopa de 2016, em La Baule, na França - Loic Venance - 8.jun.2016/AFP
Santos

"Você é brasileiro?" A pergunta feita pelo goleiro Alisson, da Roma, para o zagueiro Cionek, do Spal, ao fim de uma partida pelo Campeonato Italiano em abril, foi seguida por um visível espanto no semblante do titular da seleção do técnico Tite.

Há dez anos na Europa, o paranaense, desconhecido para os brasileiros, será um dos cinco nascidos no país que disputarão a Copa do Mundo da Rússia por outra seleção.

Além dele, confirmado entre os 23 convocados da Polônia, seleção liderada pelo atacante Lewandowski, a lista também conta com Rodrigo Moreno e Diego Costa, da Espanha, Pepe, de Portugal, e Mario Fernandes, da Rússia.

Thiago Rangel Cionek, 32, só jogou profissionalmente no Brasil por poucos meses de 2007, no início da carreira, pelo CRB-AL. Descendente de imigrantes poloneses, enxergou em um teste no modesto Jagiellonia Bialystok, no ano seguinte, a chance de mudar o próprio rumo no futebol.

"Me sinto um europeu. Comecei no futebol aqui, tenho o entendimento das coisas daqui. Me considero um polonês nascido no Brasil", disse o zagueiro à Folha.

A Polônia chega ao Mundial como uma das candidatas a surpresas. A ausência nas duas últimas edições da competição, em 2010 e 2014, foram superadas com uma campanha quase perfeita nas eliminatórias, com apenas uma derrota em dez jogos e 83% de aproveitamento dos pontos.

Antes disso, foi eliminada por Portugal na Eurocopa-2016, nos pênaltis, sem perder nenhum jogo. Esses resultados a fizeram saltar para o top 10 do ranking da Fifa e lhe dando a condição de cabeça de chave da competição. A Polônia está no Grupo H da primeira fase, junto a Senegal, Colômbia e Japão.

Tão surpreendente quanto a própria seleção foi a superação pessoal de Cionek para se tornar o que ele próprio chama de "faz tudo" na seleção.

"Na Polônia, me chamam de um jogador para missões especiais. Sou um 'Severino' mesmo, um faz tudo. O treinador tem a confiança de contar comigo em qualquer posição. Sinceramente, nunca pedi para jogar em nenhuma."

Desde a primeira convocação, em maio de 2014, o zagueiro já atuou como lateral direito, esquerdo e volante. Nos últimos amistosos preparatórios para a Copa, tem atuado como líbero no esquema com três zagueiros do técnico Adam Nawalka.

Ele diz que tinha tudo para ficar pelo caminho no mundo do futebol. Cresceu sonhando com uma chance nos clubes grandes do Paraná, mas nunca recebeu nenhuma. Foi levado ainda novo por empresários a uma frustrada passagem por um clube da terceira divisão de Portugal.

"Nunca tive chance de fazer teste em time nenhum. Jogava em uma equipe menor, se chamava Vila Hauer. Tinha o sonho de ir para a base de algum dos grandes de Curitiba, mas é difícil entrar nesse círculo, não tive oportunidades mesmo", disse o jogador.

A chegada à seleção polonesa demorou. Só aconteceu após um abaixo-assinado de torcedores encaminhado ao presidente do país. O seu processo de concessão de cidadania estava travado.

Antes disso, a adaptação à Europa também não foi fácil. No Jagiellonia Bialystok, clube pelo qual atuou por quatro anos, tinha dificuldades para se acostumar à comida, à língua e ao frio de até -20°C.

Conseguiu vencer as dificuldades iniciais com a ajuda de outro brasileiro, o meia Hermes, já aposentado, com passagem pelo Corinthians.

"Ele me ajudou muito, tive essa sorte. No começo, trazia muito feijão. Eu ia almoçar sozinho e nunca sabia direito o que viria. Tentava de tudo para combater o frio, mas não conseguia", conta.

Hoje, falando polonês fluentemente, Cionek finca cada vez mais suas raízes no país.

Na Eurocopa, em 2016, foi elogiado por cantar nas partidas o hino polonês. Possui ainda um relacionamento de oito anos com uma polonesa, com quem deve oficializar união após a Copa. O casamento será na Polônia.

Sua carreira foi construída longe de glamour dos grandes clubes e ligas. Uma realidade diferente do que a maioria dos atletas da seleção brasileira presenciaram, mesmo aqueles menos badalados.

Em janeiro ele chegou ao Spal e ajudou o clube novato a permanecer na primeira divisão do Italiano. Façanha, por sinal, que já havia feito quando atuou pelo Palermo. Antes, passou por outros pequenos clubes do país, como o Padova e o Modena.

Antes de acertar a ida para o Spal, o jogador foi especulado pelo Atlético-PR. Cada dia mais adaptado ao país que o acolheu, não faz planos: "Conversei com o Atlético-PR e ficaria honrado em jogar lá, mas não pretendo voltar."

Ao lado de Lewandowski, o brasileiro espera conduzir a Polônia a novos feitos, mesmo que precise passar pelo Brasil para isso. "Se acontecer, não há divisão. Vou fazer de tudo pela Polônia."

Thiago Cionek, 32

Descendente de poloneses, nasceu em Curitiba, em 21.abr.1986. Sem conseguir chances nos clubes do estado, resolveu se aventurar no futebol polonês depois de rápida passagem pelo CRB-AL. Após quatro anos no Jagiellonia Bialystok, foi para o futebol italiano. Estreou pela seleção polonesa em maio de 2014, em amistoso contra a seleção alemã.


NASCIDOS NO BRASIL

Veja outros jogadores brasileiros que atuam em outras seleções


Rodrigo Moreno (Espanha)
Nascido no Rio de Janeiro, é filho de Adalberto Machado, lateral revelado pelo Flamengo nos anos 80. Cresceu na Espanha, ao lado de Thiago Alcântara, e defende a Fúria desde as seleções de base. Aos 27 anos, após passagens pelo Real Madrid B, Benfica e Bolton, vive no Valência a melhor fase da carreira. Desbancou Álvaro Morata para ir a sua primeira Copa do Mundo

 
Diego Costa (Espanha)
Natural de Lagarto, no interior de Sergipe, nem chegou a jogar profissionalmente no Brasil. Partiu logo cedo para a Europa e iniciou em Portugal, a busca por um espaço no futebol. Mesmo no Atlético de Madrid foi emprestado cinco vezes até se firmar e passar a ser homem de confiança de Diego Simeone. Chegou a ser convocado para a seleção brasileira, em 2013, mas optou por defender a Espanha no mesmo ano. Participou da última Copa do Mundo. Mostra, também, outro lado com uma série de passagens polêmicas dentro de campo


Pepe (Portugal)
Outro que sequer atuou profissionalmente no Brasil. Nascido em Maceió, foi para Portugal com 18 anos, onde fez carreira até se destacar pelo Porto. Em 2007, foi comprado pelo Real Madrid. Ficou até o ano passado, antes de ir para o Besiktas. Estreou na seleção portuguesa em 2007 e vai para a sua terceira Copa

Mario Fernandes (Rússia)
"O Mário é assim, é diferente". A frase de pessoas próximas ajudam a entender a opção do zagueiro e lateral Mário Fernandes, nascido em São Caetano do Sul, a jogar pela anfitriã Rússia. Revelado pelo Grêmio, está desde 2012 no CSKA Moscou. Avesso a entrevistas, raramente fala publicamente. Em 2011, protagonizou o episódio mais polêmico da carreira quando rejeitou a convocação para a seleção brasileira, então treinada por Mano Menezes. Ainda foi chamado depois, em 2014, quando atuou no amistoso contra Singapura, mas preferiu defender a Rússia

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