Descrição de chapéu Copa do Mundo Falando Russo

Falando russo: banho no país tem temperatura altíssima e golpes nas costas

Tradição não é exclusiva, sendo compartilhada com os finlandeses, criadores da sauna

Lucas Simone

"Vi um prodígio na terra dos eslavos em meu caminho para cá: casas de banho feitas de madeira, aquecidas intensamente, nas quais eles se despem, e ficam nus, e banham-se com óleo, e erguem uns ramos, e batem em si mesmos, e batem tanto, que mal conseguem sair dali, mal saem vivos, e então banham-se com água fria, e só assim voltam à vida."

O relato acima foi extraído da mais antiga crônica monástica russa, redigida há cerca de 900 anos, no Monastério das Cavernas, em Kiev. Mas poderia muito bem ter sido escrito na Rússia do século 21, pois o costume de frequentar os banhos —bánia, em russo— continua gozando de grande popularidade. 

A tradição não é monopólio russo, sendo compartilhada com seus vizinhos finlandeses, criadores da sauna, além dos famosos banhos turcos. 

A bánia russa tem temperaturas altíssimas, a tal ponto que é preciso usar uma espécie de chapéu de feltro para proteger a cabeça. É costumeiro o uso de ramos de bétula ou eucalipto, que são golpeados contra as costas. Entre uma sessão e outra de vapor, na versão mais rústica, o banhista pode sair ao ar livre e esfregar neve no corpo, ou, para os mais corajosos, mergulhar na água gelada.

A bánia é também um espaço de convívio e festa para o cidadão russo. O famosíssimo filme soviético "Ironia do Destino", lançado em 1975 e exibido na televisão todo dia 31 de dezembro, começa precisamente com um animado rega-bofe dentro de um estabelecimento de banhos.

Os desdobramentos são imprevisíveis, mas não entraremos em detalhes para evitar spoilers. De todo modo, é emblemático o subtítulo do filme: s liógkim párom! —literalmente, "desejo a você um vapor suave!".

Lucas Simone

Doutorando em literatura e cultura russa na USP e tradutor

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