Ao ver a camisa da seleção anfitriã da Copa, o torcedor mais atento perceberá que ela traz em seu escudo, à frente da famosa águia bicéfala, uma pequenina figura equestre, que lhe parecerá familiar.
Se conseguir olhar bem, verá que o diminuto lanceiro ferindo uma serpente é ninguém menos que são Jorge. Muito reverenciado no Brasil, o santo é também um dos favoritos entre os cristãos ortodoxos e padroeiro de Moscou.
A bela capital russa foi fundada no século 12 por um príncipe kievano chamado Iúri Dolgorúki (Iúri de Braços Longos). À época, Kiev era o mais importante centro político e cultural dos eslavos orientais, enquanto a recém-nascida Moscou era pouco mais que uma fortificação num estreito afluente do Volga.
São Jorge, conhecido entre os russos como Gueórgui Pobedonóssets (Jorge, o vitorioso), era o protetor de Iúri, graças a seu nome: entre os ortodoxos, é comum o nome de batismo ser inspirado no santo do dia. Aos nossos ouvidos lusófonos, a relação é improvável, mas o nome Iúri nada mais é que a versão eslavizada do grego Geórgios.
Para os camponeses russos, são Jorge tinha ainda um outro sentido: o de liberdade, ainda que efêmera. Até o século 16, os servos podiam se locomover livremente pela terra por uma semana antes e por uma semana depois do Iúriev dien (o dia de são Jorge).
Aos poucos, essa lei se endureceu, e o campesinato russo foi sendo adscrito ao solo. Surge daí a expressão russa, utilizada até os dias de hoje, "agora até o dia de são Jorge, vovó", que significa mais ou menos "e essa, agora!".
Já a seleção russa chegou ao Mundial com poucas pretensões, mas contando decerto com a inspiração do vitorioso Iúri para alcançar o triunfo.
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