Descrição de chapéu Copa do Mundo

Famoso hooligan russo se irrita com veto à Copa e manda recado a gays

Aleksandr Shprigin ficou famoso em 2016 ao ser expulso da França após briga

Fábio Aleixo
Moscou

Brawler's Pub, o Pub do Brigão, em português. 

Foi nesta instituição tipicamente britânica --decorada com bandeiras de diversos clubes ingleses-- e com nome bem sugestivo que um dos homens mais polêmicos do futebol russo e banido de entrar em estádios na Copa do Mundo por causa de histórico de violência recebeu a reportagem da Folha em Moscou.

Aleksandr Shprigin é presidente da União de Torcedores Russos, entidade que reúne as principais torcidas organizadas do país e tem mais de 100 mil associados.

Ele ficou famoso mundialmente em 2016 ao ser expulso da França junto de outros hooligans russos após uma briga com ingleses na cidade de Marselha durante a Eurocopa. Antes passou alguns dias em um centro de detenção.

"A polícia de Marselha é a culpada por tudo o que aconteceu e não soube conter a confusão. Ficaram apenas olhando o que acontecia e não faziam nada. Parecia que não queriam usar a força contra estrangeiros. Se estavam ou não preparados eu não posso dizer. Mas afirmo que em 11 de junho de 2016 a polícia de Marselha dormiu e não pôde manter a paz", afirmou.

A selvageria nas ruas da cidade francesa levou a entidade que comanda a ser desfiliada da União Russa de Futebol (a federação local). Deixou de receber ingressos e outros privilégios dos dirigentes locais.

Ter a imagem associada a um homem como Shprigin não cairia bem para a federação do país que organiza a Copa do Mundo de 2018.

"Não sou mais um hooligan. Minha última briga foi em 2005, quando 200 torcedores do meu time, o Dínamo de Moscou, enfrentaram 200 torcedores do Dínamo de Kiev lá em Kiev. Desde então comandei a torcida do Dínamo e depois criei esta união de torcedores. Meu fanatismo pelo futebol mudou. É invenção dos ingleses que sou o hooligan mais famoso da Rússia", disse Shprigin.

"Quando eu era jovem, é verdade. Muitas vezes participei de brigas, algo normal. Um tipo de vida saudável. Os hooligans russos vão para a academia fazem esporte, cuidam do corpo. Não usam drogas e também não bebemos muito. Sabem que é péssimo para saúde", afirmou.

O torcedor já foi colocado como um homem muito próximo ao presidente Vladimir Putin, por já terem aparecido em fotos juntos. Ele nega que tenha tido qualquer ajuda do governo.

"Não sou amigo dele [Putin], ele tem muitos poucos amigos. Claro que gostaria de ser amigo dele. É verdade que já nos encontramos, ele sabe da nossa existência, mas isso de amizade é outra invenção", disse.

Em 2017, ele recebeu o Fan ID (identidade o fã) documento necessário para entrar em todos os estádios antes da Copa das Confederações, mas ela foi cancelada momentos antes da abertura. Para o Mundial, já foi avisado que nem deverá tentar obter o documento que seria negado.

Shprigin não aparece na lista do Ministério do Interior da Rússia de pessoas proibidas de irem a eventos esportivos no país e conta com 456 nomes. Tanto é que segue indo aos jogos do Dínamo e esteve no amistoso entre Rússia e Turquia no dia 5 de junho. Inclusive publicou uma foto em seu Twitter.

"Não me explicaram nada, mas não vou aos jogos porque não me dão o Fan ID", disse.

Shprigin reconhece que na Rússia há hooligans e brigas não são raras. Entretanto, não vê isso como um problema generalizado e mais uma vez cutuca os ingleses.

"Nunca fomos desqualificados de nenhuma competição europeia por causa de brigas dos torcedores. Os ingleses já. E tem outra. Depois da confusão em Marselha, a Polícia russa começou a fazer um trabalho muito mais sério para combater o problema. Falam que na Copa vai ter muita briga. Mas isso é coisa da imprensa inglesa. Tornam tudo um tema político pois ainda não aceitam terem perdido a Copa para nós", disse.

O ex-hooligan acredita em uma Copa do Mundo sem brigas.

"A Polícia russa não dará espaço para isso [para brigas como a de Marselha]. Se só uma garrafa voar, já serão vários policiais cercando o cidadão. Te garanto que os hooligans russos não vão fazer nada, pois sabem que terão muitos problemas aqui no país. Só não sei como será o comportamento de torcedores da Croácia e Polônia, por exemplo. A Copa do Mundo envolve emoções e muitas pessoas e, alguma coisa pode acontecer é claro", disse.

 

Shprigin, que já apareceu em fotos fazendo saudações nazistas, e é filiado ao LDPR --um partido de extrema-direita da Rússia-- faz um alerta a homossexuais.

"Temos homossexualismo, como existe em todos os países, mas não é algo normal e que agrade. Se você for para a Arábia Saudita, as mulheres não podem usar saia por causa da tradição de se cobrir toda. Se uma mulher sair de saia lá, vai ter problemas. E acho que o mesmo acontece com o gay aqui. Se você é gay e vier para Rússia na Copa do Mundo e reservar um quarto para dormirem dois homens juntos no hotel, você não terá problema. Mas não precisa fazer isso em público. Não tem que sair de short rosa, sair de mãos dadas pela ruas, ficar se beijando na Praça Vermelha. Aí sim podem ter problemas", disse.

Na Rússia, existe a chamada lei da "propaganda gay". Em vigor desde junho de 2013, ela proíbe manifestações LGBT em locais públicos onde crianças possam estar presentes. Entre os banimentos estão paradas de orgulho gay e distribuição de materiais que divulguem relações entre pessoas do mesmo sexo. Pesquisa de 2013 conduzida pelo Centro Russo de Estudo de Opinião Pública apontou que 90% dos entrevistados eram favoráveis à lei.

Shprigin esteve na Copa do Mundo do Brasil em 2014 e gostou do país. Tanto que garante ter vontade de retornar. E para ele, os brasileiros vão amar a Rússia e não terão problemas de violência.

"Os brasileiros não terão problemas aqui. Há quatro anos nos demos muito bem lá", disse.

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