Entre as 11 Fan Fests oficiais da Copa do Mundo da Rússia (locais públicos para exibição de jogos), nenhuma gerou tanta polêmica e discussão quanto a de Moscou.
Realizada às portas da Universidade Estatal de Moscou, que conta com 47 mil alunos, ela desagradou a alunos, mas virou sensação para turistas estrangeiros e russos.
A principal queixa dos estudantes é a de os eventos acontecerem a apenas 450 metros do prédio principal da universidade, onde vivem cerca de 6.500 pessoas, e coincidir com o período de provas, que vai até o fim de junho.
Estudantes organizaram um abaixo-assinado contra a Fan Fest e obtiveram cerca de 15 mil assinaturas. Além disso, enviaram reclamações à Fifa, a patrocinadores, ao COL (Comitê Organizador Local) e à Prefeitura de Moscou. Também fizeram manifestações em frente ao prédio, um símbolo de Moscou.
A sugestão dos estudantes era que a Fan Fest se mudasse para o VDNH, grande parque de exposições da época soviética ao norte de Moscou, ou então para a praça Vermelha.
O máximo que conseguiram foi fazer com que o tamanho do evento fosse diminuído de 40 mil para 25 mil pessoas.
Outra pequena vitória foi convencer as autoridades a não ocupar os dormitórios com policiais extras. Dentro da universidade, há anos, já existe um espaço destinado às forças de segurança.
A insatisfação é grande, mas poucos alunos se dispõem a falar sobre o tema. Um dos que têm voz mais ativa é Igor Vaiman, estudante de física.
"O que temíamos tem acontecido. É muito barulho e isso tem perturbado o sono de muitos. Sem falar que são vários torcedores passando pelo campus da universidade, o que atrapalha a nossa rotina e pode ser até perigoso", disse o aluno de 21 anos.
Pelo horário da Rússia, os jogos têm terminado por volta das 23h, e o evento segue até meia-noite, com shows musicais.
A venda de bebida alcoólica é permitida dentro da Fan Fest. Em dias normais, sem Copa, aquele é um espaço livre do consumo de álcool.
"Quando acaba o evento, até todo o mundo ir embora, demora. E muitos vão gritando. Nos atrapalha", disse Vaiman.
Apesar de todas as polêmicas, a Fifa disse que está satisfeita com o resultado da Fan Fest moscovita. Segundo a entidade, nos quatro primeiros dias de Copa, 1 milhão de pessoas passaram pelo local.
Torcedores que foram ao local também aprovaram. Bebendo cerveja e ouvindo música, a grande maioria não tinha noção do problema.
"Vi algo sobre isso, mas não estava sabendo bem o que era. Mas era só questão de mudar as datas da prova. Com jeitinho brasileiro, teríamos conseguido. Isso não pode atrapalhar a festa", disse o brasileiro Diego Pederneiras.
A Folha tentou contato com a reitoria da universidade por email e por telefone, mas não obteve resposta. O COL afirmou em abril que houve uma negociação com estudantes.
"Nos deram várias desculpas e falaram que houve um acerto e explicação, mas isso na verdade nunca aconteceu", disse Vaiman, frustrado.
"A reitoria e as autoridades falam que é uma boa propaganda para a universidade. Melhor seria uma propaganda de nossos cursos", disse.
Três estudantes da universidade ainda respondem a um processo por vandalismo por terem escrito "Não à Fan Fest", em inglês, em um banner do evento. Eles passaram um dia presos e só foram liberados após assinarem um termo de responsabilidade.
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