Descrição de chapéu Copa do Mundo

Fiscal de velas e ataque, auxiliar é visto como um pilar do sucesso de Tite

Cleber Xavier atua com técnico há 18 anos , apesar de personalidades opostas

Camila Mattoso Diego Garcia Luiz Cosenzo Sérgio Rangel
Rostov

"Tu reza. Eu posto foto. Cada um com teu equilíbrio." Foi essa a resposta que o auxiliar Cleber Xavier, 54, deu ao técnico Tite, 57, após ser questionado certa vez pelo treinador sobre o excesso de postagens nas redes sociais. O diálogo mostra bem como é a relação da dupla, que já tem 18 anos: pessoas de personalidades completamente diferentes, mas que se respeitam.

A avaliação de quem trabalha com os dois é a de que Cleber é o principal pilar do sucesso da carreira de Tite: de fiscal das velas acendidas pelo técnico antes dos jogos, para ver se nenhuma apagou, ao comando dos treinos, passando por ser o principal estrategista das jogadas ofensivas, além de ser o intermediário do trato com jogadores.

As diferenças são muitas. Tite é considerado caseiro, reservado, monotemático (só fala de futebol), ligado 24 horas no trabalho e catolissíssimo.

 
Cleber, como ele mesmo brinca, trabalha "só" 12 horas por dia e tenta se divertir no tempo que resta --indo a shows, cinema e fazendo churrasco.

Os estilos contrastantes e um desgaste de dez anos de estrada quase levaram a parceria ao fim, em 2011, na segunda passagem pelo Corinthians, a que rendeu em seguida a conquista da Libertadores e do segundo título Mundial.

As discussões eram diárias, e a falta de paciência, recíproca. Foi em meio a essa crise que Cleber deixou de sentar ao lado de Tite durante as idas aos jogos, no ônibus, e também nos treinos, o que permanece até os dias de hoje e na época foi decisivo para salvar a relação.

Como uma das pessoas mais próximas do treinador, Clebinho, como é chamado na comissão e por atletas, se usa como exemplo para explicar o perfil de Adenor Leonardo Bachi. Em quase 20 anos de parceria, Tite foi à casa do assistente no máximo dez vezes, considerando todos os lugares onde moraram mundo afora para trabalhar.

Quando chegavam a um clube novo, o auxiliar já tratava de avisar a cartolas: nem adianta chamar, Adenor não vai almoçar nem jantar com ninguém. Não é o estilo.

Em 2014, quando o treinador decidiu sair do Corinthians para o ano sabático, ficaram quase seis meses sem se falar. Nem uma mensagem no celular.

No meio da Copa do Mundo daquele ano, Cleber recebeu um convite para ser treinador da Chapecoense, episódio que fez os dois retomarem contato. Ouviu de Tite que gostaria de assumir uma seleção e que, se assim acontecesse, o levaria junto. O auxiliar agradeceu ao chamado dos catarinenses e disse não. 
O telefone de Adenor não tocou naquele ano. Depois do 7 a 1, Luiz Felipe Scolari foi demitido, mas Dunga foi o escolhido para comandar o time.

Voltaram aos trabalhos de novo no Corinthians, em 2015, onde venceram mais um Brasileiro, em campanha irretocável que levou a CBF, enfim, a convidar Tite para a seleção.

Os dois tentam desde 2016, quando chegaram ao momento mais importante da carreira, aperfeiçoar na seleção o que já faziam nos clubes.

Ao lado dos outros colegas da comissão, Cleber se divide nas tarefas passadas por Tite.

Enquanto Matheus Bachi, filho do técnico, cuida das bolas paradas e Sylvinho pensa na parte defensiva, Cleber cuida do setor ofensivo, como já fazia no Corinthians.

Também partilha com Sylvinho o trabalho individual com jogadores, apresentando lances, conversando sobre os jogos, antes e depois.

No atual elenco, tem mais proximidade com Paulinho, Taison, Renato Augusto e Fagner. Para além da divisão oficial, Cleber sempre foi dos assistentes o que mais tinha afinidade com atletas, pelo jeito mais descontraído e brincalhão. Mas se orgulha em dizer que nem uma só vez saiu para beber com seus jogadores.

Do lado de fora do gramado, Cleber costuma dizer que acredita na existência de um Deus, mas não tem uma religião. Mal sabe as rezas. Nos primeiros anos de parceria acompanhava Tite nas missas do padre Marcelo Rossi, mas depois desistiu.

Mas respeita as crenças do treinador, e não só. Em todos os jogos, como certamente será nesta sexta (22), segundo jogo do Brasil na Copa do Mundo contra a Costa Rica, Tite acenderá ao lado de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida algumas velas, que serão apagadas só depois de a partida terminar. E é Cleber responsável por ficar de olho se nenhuma apagou sem querer.

Se também não é de ficar rezando, a mãe de Cleber, Ely, ou dona Preta, como é chamada por amigos, de 80 anos, tem seus próprios rituais.

A cada jogo, ela escreve em pequenos pedaços de papéis o nome dos jogadores do time rival. Dobra um a um, coloca em uma forma de gelo e joga direto no congelador.

O congelamento de rivais, ela acredita, foi um dos principais responsáveis pelo sucesso do filho. Ainda que dê trabalho. Em março, Ely teve um dos seus maiores desafios, quando o Brasil enfrentou a Rússia em amistoso de preparação para o Mundial. 

"Acabei agora, que nomes horríveis de escrever. Nunca tinha visto isso", disse ao filho, entre xingamentos de desabafo. Dona Preta não vai aos estádios russos. Ela vai assistir aos jogos com Emerson Sheik, por quem é chamada de mãe e que conheceu nos tempos do filho no Corinthians. E já mandou ele separar lugar no freezer.

JOGOS DO BRASIL​

22/06 – Sexta-feira, às 9h
Copa do Mundo
Brasil x Costa Rica – São Petersburgo, Rússia
Na TV: Globo, SporTV e Fox Sports​

27/06 – Quarta-feira, às 15h
Copa do Mundo
Sérvia x Brasil – Moscou, Rússia
Na TV: Globo, SporTV e Fox Sports

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