Descrição de chapéu Copa do Mundo

Islândia, onde todos se conhecem, quer torcida de neutros na Copa

Com 334 mil habitantes, país estreia no Mundial da Rússia contra a Argentina

Alex Sabino
Moscou

A Islândia é uma ação entre amigos na Copa do Mundo. Cada vez que um jornalista islandês se levantava para fazer uma pergunta, o técnico Heimir Hallgrimsson começava a sorrir, como quem revê um velho conhecido.
 
Velhos amigos que estão prestes a viver um momento memorável. Neste sábado, às 10h (de Brasília), a equipe faz seu primeiro jogo na história dos mundiais. Enfrenta a Argentina, no estádio do Spartak, em Moscou.
 
“É a partida mais importante da história da Islândia”, constata o treinador.

Heimir Hallgrimsson, dentista e técnico da seleção da Islândia, que enfrenta a Argentina neste sábado
Heimir Hallgrimsson, dentista e técnico da seleção da Islândia, que enfrenta a Argentina neste sábado - Maxim Shemetov/Reuters

Em um país de 334 mil habitantes (população menor do que a de Santos, no litoral de São Paulo), a Islândia tem uma seleção em que a comissão técnica e os jogadores conhecem, pelo menos de vista, boa parte das população do país. Quando eles dizem que são amigos dos torcedores, em boa parte, é a pura verdade.

“Nós conhecemos mais os nossos torcedores do que os outros técnicos conhecem os deles. Para outras nações, isso seria impossível, mas essa é uma das particularidades que temos e podemos maximizar nosso potencial com esse pensamento positivo”, explicou Hallgrimsson.
 
Ele já foi visto tomando cerveja com torcedores em bares antes de jogos da seleção. Mas desta vez, decidiu que é melhor evitar.
 
“O jogo será muito cedo para ir ao pub”, constatou.
 
Três vezes durante sua conferência de imprensa, Hallgrimsson afirmou que a classificação da Islândia não se tratou de um milagre. Foi o resultado de trabalho de longo prazo que deve continuar mesmo que a seleção perca as três partidas na Rússia e volte para casa de forma precoce.
 
“Quem acha que somos uma surpresa não sabe muito sobre a seleção da Islândia”, afirmou.
 
O jeito que os islandeses encontraram para serem notados foi ser diferente. Não há vergonha em admitir que a bola parada é o ponto forte da equipe e que será explorada à exaustão contra a Argentina. Ao contrário de qualquer outro técnico do futebol mundial, Hallgrimsson não deu muita importância (pelo menos em público) para a presença de Lionel Messi no lado adversário. Não porque o desvalorize, lembra, mas sim pela necessidade de prestar atenção a outros jogadores da seleção argentina que podem decidir o confronto.
 
“Seria injusto pedir para um jogador seguir Messi o tempo inteiro. Não é um milagre o que conseguimos. Estamos em 21o no ranking da Fifa e a equipe se manteve estável nos últimos quatro anos. Ganhamos partidas importantes e merecemos estar aqui”, contestou, quando jornalistas insistiram em falar sobre a surpresa que é a Islândia ter se classificado.
 
Hallgrimsson sabe que a Islândia não tem nada a perder e vai contar com a torcida de todos os torcedores que não são argentinos. Não apenas por qualquer rivalidade futebolística. Mas como não torcer por um país na Copa do Mundo que tem 334 mil habitantes?
 
“Você tem de gostar da Islândia, não tem como evitar. Nunca fizemos guerra com ninguém. Além disso temos gente muito bonita no nosso país. Vocês tem de gostar de nós”, brincou, mas fazendo o marketing do seu país.
 
É uma simpatia de quem está acostumado a lidar com as pessoas, o que ficou claro apesar de ele ter sido questionado sobre o assunto. Assim que sentou na cadeira diante dos repórteres, a primeira coisa que fez foi deixar claro:
 
“Sigo sendo dentista e sempre serei dentista. Antes que perguntem...”
 
Por causa de sua seleção, a Islândia se tornou mais do que o país da cantora Björk, como acontecia até pouco tempo atrás. Na entrada do estádio, um jornalista latino, ao notar que ao seu lado estava um repórter islandês, não resistiu:
 
“Você é da Islândia? Já encontrou com a Björk?”
 
“Claro que sim. Todo mundo que mora na Islândia já encontrou a Björk.”

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