Descrição de chapéu Copa do Mundo

Isolamento da Rússia se reflete em lista esvaziada de autoridades na Copa

Nome mais vistoso anunciado pela Fifa é o do príncipe herdeiro da Arábia Saudita

Vladimir Putin com o príncipe saudita  Mohammed bin Salman no Kremlin
Vladimir Putin com o príncipe saudita Mohammed bin Salman no Kremlin - Yuri Kadobnov/AFP
Moscou

A lista de autoridades que deverão participar da abertura da Copa do Mundo nesta quinta (14) reflete o momento de isolamento diplomático do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Apenas 15 chefes de Estado ou governo foram anunciados pela Fifa, e o nome mais vistoso politicamente é o do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman.

Nenhum deles é de país ocidental. Desde que o Reino Unido acusou o Kremlin de envenenar um ex-espião russo e sua filha na Inglaterra, o que Moscou nega, o distanciamento entre Rússia e Ocidente só fez crescer. Houve expulsões mútuas de diplomatas e muita retórica agressiva. O episódio coroou anos de desconfiança mútua, em especial depois que a Rússia reagiu ao que considera interferência ocidental em sua esfera de interesses e agiu militarmente na Geórgia (2008) e na Ucrânia (2014).

Entre os presentes, diversos representantes de ex-repúblicas soviéticas, um alto membro do governo do ditador Kim Jong-un (Coreia do Norte) e dois sul-americanos, Evo Morales (Bolívia) e Mário Abdo Benítez (Paraguai). Não é exatamente um “dream team” diplomático. Curiosamente, a China, aliada da Rússia, não enviou ninguém —Putin e o líder do regime de Pequim, Xi Jinping, estiveram juntos na semana passada em encontro.​

A presença de MBS, como o herdeiro saudita é conhecido, poderia se explicar apenas pelo fato de que a seleção de seu país irá jogar a abertura da Copa contra a anfitriã. Mas o calibre do visitante, o homem mais poderoso de seu país depois do rei, mostra o prestígio que Riad está emprestando a Moscou.

Aliada tradicional do Irã, rival da Arábia Saudita pela primazia estratégica no Oriente Médio e no mundo muçulmano em geral, a Rússia tem se aproximado recentemente do país árabe. O faz de forma cuidadosa, pois precisa de Teerã para operar sua intervenção militar na guerra civil da Síria. Do mesmo jeito, Putin mantém boas relações com Israel, considerado adversário geopolítico principal do Irã.

O namoro com os sauditas tem ocorrido com o intermédio do polêmico autocrata da república russa da Tchetchênia, Ramzan Kadirov. Ele foi um dos articuladores da visita do rei saudita ao Kremlin em 2017, a primeira da história. A aproximação vem dando frutos: ação coordenada entre o reino e Moscou cortou a produção de petróleo e aumento o preço do barril do produto, cujos níveis baixos ajudaram a provocar a recessão russa de 2014 a 2016.

Agora, o barril está num nível que é considerado confortável pelo governo russo para a gerência de seu orçamento. Para os sauditas, há esse lucro e também a possibilidade de enfraquecer paulatinamente a posição de seus rivais iranianos em Moscou.

A lista da Fifa também traz convidados da entidade. Entre eles, há os chamados “lendas”, o argentino Diego Maradona e os brasileiros Ronaldo e Luiz Felipe Scolari.

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